Viagem

Por que essa família de nômades digitais estrangeira escolheu viver numa ilha no litoral brasileiro

04 • 07 • 2014 às 05:51
Atualizada em 04 • 07 • 2014 às 09:13
João Diogo Correia
João Diogo Correia É português, viveu no Brasil, Itália e Espanha. Fez a melhor viagem da sua vida pela África e agora está de volta a Portugal. Há mais de três anos, começou a trabalhar remotamente, a partir de casa ou em qualquer lugar com wi-fi, e por isso agradece todos os dias à internet.

Um dos objetivos do Nômades Digitais é mostrar como a internet mudou o mundo de todas as formas possíveis. Ela não só aproximou pessoas fisicamente longe, tornou a comunicação mais rápida ou nos deixou permanentemente em contato. Ela mudou a nossa forma de estar na vida.

Ser nômade digital é isso – aproveitar as inúmeras possibilidades da internet para viver onde você quiser. Hoje trazemos um casal que, de todos os lugares do mundo por descobrir, escolheu viver e criar seus filhos numa ilha no litoral brasileiro.

Esta é a história de Marina Scrymgeour e Philip Thompson, ela escocesa, ele irlandês. A vida de estudante os juntou em Dublin e, em poucos anos, o casal oficializou o relacionamento e foi viver para Londres. A vida corria tranquila, os empregos eram estáveis, mas Marina e Philip se viram caminhando naquela linha ténue que separa o conforto do tédio. “Depois do nascimento do nosso primeiro filho [Finn], em 2006, percebemos que nossas vidas eram demasiado sérias e aborrecidas e então decidimos deixar tudo e sair explorando a América do Sul”.

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A família viajou por 3 anos (“embora eu ache que, de certa forma, ainda estamos viajando”), mas não como a maioria das famílias viaja: por cada lugar visitado, eles faziam questão de ficar sempre, pelo menos, quatro meses. Entre Buenos Aires, Salta, no noroeste da Argentina, Cusco, no Peru, La Paz, na Bolívia, e Montevideo, no Uruguai, o casal e o pequeno Finn descobriram a América do Sul como poucos. Pelo meio, Philip usava a internet para manter os rendimentos como escritor para revistas e jornais. O resto do tempo, além de descoberta, era de trabalho voluntário: “trabalhamos com crianças de rua e até em uma prisão… muitas histórias!”.

Mas a viagem acabou e o regresso a Londres foi como uma nova pedra no caminho. Marina e Philip sentiam que a vida em família numa metrópole, apesar de supostamente confortável, não satisfazia. O trânsito, a cortina de fumaça, os horários e a correria não deixavam tempo para o convívio de qualidade. E foi a partir dessa frustração que se tornaram nômades digitais – “estavamos decididos a transformar as roupas de alpaca que tínhamos vindo a fazer para o nosso filho em um negócio”, explica Marina.

Em 2010, nascia a Waddler, uma empresa que comercializa peças únicas, com desenhos tradicionais europeus feitos com materiais locais, e com um certo toque de extravagância. As roupas, para bebês e crianças, são tricotadas manualmente na Bolívia e pretendem passar a ideia de uma infância com espaço para a aventura, para a liberdade, imaginação e, por que não?, para um lado selvagem.

Está certo, mas e onde entra o Brasil nessa história? É que Marina e Philip se cruzaram com Boipeba, uma ilha no estado da Bahia, e não resistiram ao apelo da floresta verde e do azul cintilante das águas do mar. “Quando chegamos pela primeira vez e tomamos um trator para atravessar a ilha, eu lembro de olhar para o Philip e sorrir o maior sorriso de sempre”, recorda Marina. “A ausência de carros, de comércio e a ideia de estar algures em um pedaço de terra verdadeiramente único fazem deste um lugar muito especial”.

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Em Boipeba, o cotidiano da família tem tanto de simples, como de encantador: “A gente acorda às 6h e tomamos o café da manhã, que inclui açaí, banana, papaia, aveia, iogurte local, mel e café. Até às duas da tarde, alternamos, com um de nós trabalhando no nosso negócio na internet, enquanto o outro dá aulas a partir de casa para as crianças [o casal, entretanto, teve mais 2 filhos] ou as ajuda com outros projetos – plantar, apanhar fruta, trabalhar a madeira, etc. Durante a tarde, as crianças nadam, passeiam, estão com os amigos, mas sempre arrumamos um tempo para um mergulho em família. O sol se põe por volta das seis da tarde, jantamos juntos, assistimos um filme no projetor ou lemos um livro, e depois é hora de ir dormir”.

Com tempo para gerenciar a Waddler e aproveitar a infância dos filhos, Marina diz que o sol quente no rosto e os mergulhos de água salgada podem ajudar, mas que “a felicidade é uma condição mental”. Descreve os brasileiros como “pessoas maravilhosamente acolhedoras e generosas” e, apesar de não acreditar em paraísos na terra, sabe que a vida da família em Boipeba “chega bem perto”.

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Para conhecer melhor a Waddler, siga o link.

Todas as fotos gentilmente cedidas por Marina Scrymgeour, em exclusivo para o Nômades Digitais.

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