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Namore-se
Acordei no quarto de um hotel na Praia de Marambaia, a cerca de 40 quilômetros de Fortaleza. Estava ali por ter sido escalado para uma cobertura que agora chegava ao fim. Em poucas horas, deveria fechar a mala e me apresentar no saguão, de onde um ônibus partiria para o aeroporto da capital cearense.
Na noite da véspera, acabara tomando umas e outras com os camaradas que fiz por lá. Dormi feito uma pedra sob o ar condicionado e acordei desnorteado. Apesar disso, uma ideia estava bem clara. A de que precisava começar naquele dia esse novo Desafio Hypeness.
Agora a missão era passar uma semana exercitando o elogio ao próximo e depois registrar aqui como foram as reações. Cada vez que tivesse oportunidade, deveria expressar para as pessoas com quem interagisse as qualidades que nelas reconhecesse. Ressaltar verbalmente aspectos positivos nos outros ao invés de pontuar diferenças ou simplesmente ser indiferente.
Para criar um hábito, não poderia ser apenas um evento isolado. O experimento ao qual o cobaia se submeteria tinha que durar 7 dias. Por isso, se não quisesse falhar com meus editores e entregar a matéria no prazo combinado, deveria começar a botar elogios em prática já naquela quinta-feira, 25 de junho. Fui dar o primeiro e último mergulho no mar desde que chegara ali para curar a ressaca e planejar o proceder.
Em primeiro lugar, decidi que não forçaria a barra. Ao invés de elogiar toda e qualquer pessoa com quem interagisse, faria isso diariamente, mas apenas de forma sincera. Não teria sentido parabenizar alguém por pisar no meu pé ou furar a fila na minha frente. Elogiar algo negativo é na verdade ser irônico. E, apesar de utilizar o recurso muitas vezes nos textos que escrevo ou quando jogo conversa fora com os amigos, não considero essa abordagem construtiva. A ironia apenas expõe hipocrisias e contradições, não promove reflexões e transformações. Sendo assim, palmas apenas para quem fizesse por merecer.
Outro pensamento que me veio enquanto absorvia porções revigorantes de sol e sal marinho era de que fazer um elogio a características físicas poderia me colocar em alguma saia justa. Expor o fascínio que os olhos, cabelos ou o sorriso de uma mulher desconhecida me causam soaria malicioso. Como sou comprometido, estabeleci que meus elogios priorizariam atitudes e realizações das pessoas. Procuraria enaltecer o que se faz ou deixa de fazer, mais do que o como se é.
Voltei para o quarto do hotel, me arrumei e fechei a mala. Antes de sair, deixei um bilhete para a camareira como forma de manifestar meu apreço pelos serviços prestados.
Talvez muito provavelmente com certeza a moça preferisse um dinheirinho. Mas nessa semana minha moeda corrente eram palavras positivas. Sem saber qual foi sua reação, prefiro acreditar que isso de alguma forma microscópica foi um evento bacana no dia dela.
Dormi praticamente o voo inteiro. Acordei apenas um momento com o barulho metálico de embalagem e o aroma artificial de presunto do salgadinho sendo devorado pela menina na poltrona ao lado. O típico exemplo do que não seria possível elogiar. Porém, ao me dirigir para sair da nave, fiz questão de dizer a cada membro da equipe de bordo: “Vocês foram ótimos, muito obrigado!”. Recebi um punhado de sorrisos bem treinados com um “Obrigado, senhor!” em retorno. Amém.
Meu prédio é à moda antiga, com funcionários que já têm mais de uma década de casa. Os caras realmente cuidam da gente, ajudam os vizinhos velhinhos, trabalham duro e vivem bem humorados. E, apesar de sempre dar bom dia, bater um papo e contribuir com a caixinha de Natal, nunca tinha dito diretamente a eles os elogios que iniciam esse parágrafo. Se a gente espera feedbacks positivos dos chefes no escritório, por que não fazer o mesmo com quem trabalha pela gente?
No dia seguinte, ao descer até a garagem e cruzar com o faxineiro, o Desafio me veio na lata: “Fulano, eu sempre reparo, mas nunca falo. Esse prédio vive brilhando. Seu trabalho é impecável, cara, muito obrigado por se empenhar tanto!”.
Ele não deixou o elogio subir à cabeça. Muito pelo contrário. Com o sorriso que nunca esconde, me pediu desculpas porque um dos colegas estava de férias, então seu tempo para limpar os andares vinha sendo dividido com o tempo para passar um pano na portaria. Insisti: “Mesmo assim, continua tudo perfeito. Parabéns!”. Meio sem graça, ele agradeceu. E aproveitou para me contar sobre o próximo projeto na sua agenda: lavar a garagem.
O final de semana chegou e, na tarde do sábado, tínhamos o chá de bebê de um casal de amigos queridos. Lá encontramos mais uma porção de queridos reunidos, o salão de festas estava com uma decoração toda caprichada e cada petisco servido era melhor do que o outro. Ficou fácil seguir com o job.
Nesses ambientes acolhedores onde a amizade transborda, não preciso nem me esforçar para elogiar alguém. Trocar energias e palavras positivas é matar a saudade. Se na sua galera os elogios são escassos, recomendo não esperar muito para aumentar as doses e dizer àquelas pessoas que estão sempre presentes o quanto você acha elas importantes. A vida é curta demais e o mundo está amargo demais para ficar economizando palavras lisonjeiras.
Veio o domingo e, com exceção de uma saída para um almoço familiar no sempre excelente Caverna Bugre – que, se você não conhece, vá e depois saia falando bem – , aproveitei o sofá de casa, dormindo e acordando o dia todo. Aliás, fica aqui meu elogio aos dormingos no sofá. Amo muito tudo isso.
Para não passar em branco, abri o computador e, na Amazon, deixei uma avaliação positiva sobre um livro que recém lera e gostara. Não sou crítico literário e nunca tinha feito isso antes. Espero de verdade que ajude o autor e quem estiver pensando em ler.
Começou uma nova semana e lá estava eu caminhando para minha aula de música. Avistei um gari varrendo a rua e, talvez por sacar que estava tirando uma foto sua, ele me mandou um “Bom dia, jovem” antes que eu dissesse qualquer coisa.
Respondi a saudação e aproveitei para dizer que o trabalho dele era muito importante para mim. Ouvi em resposta um obrigado e um desejo de boa semana. Isso sem que o cara parasse de recolher os sacos e caixas que estavam por ali, focado. Em uma segunda de manhã, não tenho dúvidas de que uma troca de palavras positivas como essa com um desconhecido é mais saudável do que disputar faixa no trânsito rangendo os dentes e xingando o carro ao lado por trás do vidro fechado.
Voltando para casa, passei por uns meninos andando de skate na rua que cruza a minha. Um deles não devia ter mais do que 12 anos e já estava mandando muito nas manobras. A foto não ficou boa, mas é o da esquerda, que ainda por cima tinha um cabelo estilosão.
Elogiei do jeito que deu e ganhei em troca um sorriso tímido, além de um sobrinho: “Tá quebrando, hein mano?!” “Valeu, tio!”
Já a terça-feira foi um dia que passei grande parte sozinho, trabalhando de casa. Quando chegou a tarde, fui à minha sessão semanal de terapia.
Nunca velejei ou trabalhei de marinheiro, mas acredito que deitar no divã tenha algo parecido com navegar. Às vezes parece que as águas estão tranquilas e que você logo chegará em terra firme. Do nada o tempo fecha, as ondas vão ficando turbulentas e é preciso manejar o timão com confiança para vencer essa passagem sem ser jogado ao mar. Tenho passado por um desses períodos e nesse dia fiz questão de dizer à minha terapeuta o quanto sou grato por ter ela na tripulação. Talvez o barco já tivesse afundado se não fosse por isso.
Quarta-feira era o último dia da semana desafiadora e saí logo cedo para passear com os cachorros. Ao pegar a rua dos skatistas, encontrei a vizinha mais ilustre do bairro. E como elogiar alguém é sempre bom para o moral, não poderia deixar de tietar Rita Cadillac em pessoa.
“Sou fã do seu trabalho, tenho muito respeito por você”, disse a ela. Porque encher a Gisele Bündchen ou a Fernanda Lima de elogios é fácil, mas e quem foi ícone em outras épocas? A ex-chacrete agradeceu muito educadamente. Agora, embora a selfie que tiramos demonstre uma certa intimidade, a real é que a atenção dela estava toda nos cachorros, e não em mim. Valeu, Rita!
Na sequência do passeio cruzei um senhor muito simpático. Numa mão, levava a bengala. Na outra, a coleira de um cocker. Os animais começaram a brincar entre si e eu disse a ele que seu cachorro tinha o pelo muito bonito. Ele sorriu, agradeceu e disse que, mesmo já com 11 anos, o cão pede para passear todos os dias como se ainda fosse bebê. Nos despedimos e também me despedi do experimento.
A maior dificuldade que tive nessa semana foi de registrar os elogiados em fotos. A partir do momento em que eu pedisse autorização e contasse sobre a pauta, as palavras ditas perderiam valor. Ficaria parecendo que eu só tinha tomado a iniciativa para poder produzir a matéria.
Por outro lado, a constatação que me veio foi a de que, se eu tinha algum receio em elogiar uma pessoa qualquer, o obstáculo estava na minha cabeça. Por achar óbvio demais? Por vergonha, talvez? Falta de hábito, condicionamento social?
Toda as interações que tive foram bem aceitas. Não teve um desconhecido sequer que reagiu negativamente. Afinal, quem não gosta de ser tratado com reconhecimento e afeição? Todos temos inseguranças e nos faz bem receber a validação dos outros.
Como diria o poeta, “nenhum homem é uma ilha“ e não é fácil para ninguém enfrentar as durezas da vida. Um elogio simples e verdadeiro tem o poder de criar vínculos e mudar o dia de alguém. E o melhor de tudo é que elogiar é de graça, meu chapa. Não custa nada praticar um pouquinho, concorda? E então, topa mais esse desafio Hypeness pra tornar o mundo um pouco melhor? Compartilha seus elogios e as reações usando as hashtags #desafiohypeness13 e #umasemanadeelogios
Todas as fotos © Daniel Boa Nova | Hypeness
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