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“É difícil fotografar com lágrimas nos olhos“. A frase é de Leonardo Merçon, fotógrafo do Instituto Últimos Refúgios, que, juntamente com uma equipe que incluía outros fotógrafos, um cinegrafista e até um nativo da cidade de Aimorés, registrou a transformação no Rio Doce após o rompimento da barragem de rejeitos em Mariana, Minas Gerais. O Hypeness conversou com o fotógrafo para entender melhor a tragédia que temos pela frente.
Em duas expedições, a equipe visitou praticamente todas as cidades entre Governador Valadares e Regência. “Quando chegamos no Rio Doce, a lama ainda não tinha chegado. Fomos subindo o rio, parecia tudo limpo, e a gente estava ficando até feliz, imaginando que a água do rio tinha limpado e que a lama não iria matar tudo“. Mas quando chegaram em Governador Valadares, o cenário mudou: “havia peixes na superfície da água tentando respirar, tendo um comportamento estranho, tentando saltar da água como se ela estivesse machucando. Caramujos, que são bem sensíveis, preferindo subir na pedra quente, que chegava a queimar se você encostasse, do que ficar naquela água podre”.
“Registramos um ‘antes’ e ‘depois’ das cidades e foi bem pesado, emocionalmente falando. Nós vimos aquelas maravilhas naturais antes e depois, com aquela lama matando toda a vida do rio. Inicialmente, a vida aquática, mas agora também aves e mamíferos”, afirma Leonardo, que conclui: “a lama está matando tudo e vai continuar matando“.
“Eu chamo esse desastre de Chernobyl brasileira“, diz Leonardo, e o caso não parece ser para menos. Estimativas indicam que o Rio Doce levará décadas para se recuperar e voltar a ser utilizável. “Algumas pessoas ainda não estão tendo uma noção real do que estão vivendo, ainda mais aquelas mais simples, que vivem na beira do rio, e que sempre tiraram seu sustento dele“.
Já outras, de ribeirinhos a índios, não conseguem fazer muito mais do que chorar: “a maior preocupação dessas pessoas nem é com elas, é com os filhos delas. Quando que os filhos terão oportunidade de pescar um robalo ou um piau? Ou voltar a tomar banho no Rio Doce?”
Segundo o fotógrafo, é importante lembrar que a lama não está “só” matando peixes, mas diversos organismos essenciais à vida do Rio e da região. O que aconteceu representa um crime ambiental que acaba compensando os responsáveis. Confrontado com uma notícia que dá conta de que a Samarco sabia desde 2013 que o rompimento poderia acontecer, Leonardo responde: “essas hipóteses não são levadas em consideração. O que a empresa vai pagar em multas é muito menos do que aquilo que ela fatura anualmente, por isso o risco vale a pena para as empresas, já que elas continuam no lucro.”
É inegável o poder das imagens captadas pelo fotógrafo brasileiro, que acredita que a fotografia, se não pode mudar o mundo, pode ser “uma porta de entrada para um novo conceito na cabeça das pessoas“. Suas imagens, vistas por milhares de brasileiros e um pouco por todo mundo, podem servir para aumentar a conscientização. E a chave pode estar… nas crianças. “Os adultos já foram corrompidos pela sociedade, por isso que vou a escolas e luto para mudar a cabeça das crianças, elas são o futuro“.
Leonardo lembra que estes e outros desastres são da responsabilidade do ser humano e vai mais longe: em uma década, a sociedade como a conhecemos vai acabar. “Está insustentável esse desenvolvimento forçado, essa ganância pelo lucro. A natureza vai cobrar um preço muito maior“. A solução? “Eu imagino que a nossa única chance é reformular o modelo de sociedade, algo mais sustentável que respeite a vida e a natureza”.
Lembrando que o momento mais marcante foi a transformação da paisagem – “em Tumiritinga, a natureza me presenciou com um cenário lindo, com os patinhos selvagens, da espécie pé-vermelho, felizes, e depois que a lama chegou, eu os encontrei todos mortos” -, Leonardo deixa uma mensagem de esperança: “se o ser humano permitir, a natureza vai fazer o que sabe melhor: sobreviver“.
O Instituto Últimos Refúgios é uma instituição sem fins lucrativos, que visa à sensibilização ambiental através de imagens. “As pessoas só protegem o que sabem que existe!“. Vale a pena seguir o trabalho da ONG no site ou através do Facebook.
Abaixo um vídeo com o fotógrafo entrevistado pelo Hypeness, Leonardo Merçon, falando da empreitada no Rio Doce:
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Fotos © Leonardo Merçon/Últimos Refúgios
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