Hypeness
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por: Clara Caldeira
Seria um sábado ensolarado como todos os outros se não fosse por um detalhe: era Carnaval e eu estava na estrada, indo na direção oposta da folia, ou quase isso. O destino? A cidade de Rio Negrinho, na Serra Catarinense. O motivo? Conferir de perto o maior festival brasileiro de música psicodélica.
Logo depois de subir a Serra do Mar, a algumas centenas de metros de altitude, o clima e a atmosfera mudaram. A temperatura caiu alguns graus e a neblina começou a encobrir os picos imponentes e esverdeados. Casas antigas, pequenas fazendas e imensos bananais compunham um cenário bucólico e quase surrealista para quem tinha acabado de deixar Florianópolis, com sua efervescência carnavalesca e suas altas temperaturas de verão. Peguei um casaco.
Chegamos à Fazenda Evaristo quase às 20h e, antes que escurecesse, corremos para encontrar um amigo que nos esperava com a barraca. Sim, no Psicodália todos acampam e essa é a única maneira de curtir o festival. O lusco-fusco, o enorme número de campistas e a vasta extensão da fazenda dificultavam ainda mais a tarefa, mas depois de alguns minutos de busca, encontramos o Leprechaun tal amigo, graças a algumas referências trocadas no dia anterior.
Estávamos terminando de nos instalar e encher nosso colchão inflável, quando um acorde dissonante convocou ao Palco Lunar (acampei exatamente entre os dois palcos principais, o Lunar e o Solar). Era a banda Terreno Baldio, ícone do rock progressivo brasileiro, que começava aos poucos a atrair a multidão. Na sequência, quem levou a plateia ao delírio foi a Nação Zumbi com suas alfaias e distorções. “Eu não acredito que esse festival incrível já está em sua 19ª edição e a gente nunca tocou aqui antes”, brincou Jorge du Peixe levando o público à loucura.
Em seguida, a noite continuou no Palco Solar – que no avançar da madrugada passa a ser chamado de Palco Guerreiros – ao som de Francisco El Hombre, uma espécie de “axé latino” composto de uma mistura bem sucedida de (veja bem) Daniela Mercury e Manu Chao, com uma pitada de Doces Bárbaros, Novos Baianos e Rage Against the Machine. Não deu pra visualizar né? Dá o play aí em baixo.
Pra fechar esse meu primeiro (e intenso) dia, a banda catarinense Apicultores Clandestinos acordou o público (já às 4h30 da manhã) com seu punk “pra cima”, roupas de apicultores (mais pareciam astronautas) e distribuição gratuita de cachaça de mel. Que dia! Que noite! E acabamos de chegar…
Ali pelas 5h da madruga, no Palco dos Guerreiros… distorção, abdução e distribuição clandestina de mel.
Publicado por Gabriel Garcia em Quarta, 10 de fevereiro de 2016
No dia seguinte, domingo, acordamos às 9h da manhã e começamos a nos situar um pouco melhor. Fiquei completamente fascinada com o que vi por ali. O espírito comunitário era a palavra de ordem, apesar de que ordem não é bem o melhor termo para definir a vibe desse festival.
Vi famílias inteiras, crianças, cachorros, hippies, alternativos e malucos (no melhor dos sentidos) das mais variadas espécies e de diversos estados do Sul e do Sudeste. Me senti em casa. Tinha gente de Minas, do Paraná, de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e por aí vai… E devia ter gente de outros estados também, mas que não consegui sacar.
O clima era de liberdade, cooperação e respeito, e durante os dois dias que passei por ali não vi nem sequer um princípio de briga ou conflito. O lixo era depositado nas lixeiras (para orgânicos e para recicláveis), os banheiros e a cozinha compartilhados com paciência e solidariedade, e toda a infraestrutura do evento funcionava como algo orgânico, que parecia já estar lá muito antes das pessoas chegarem.
Quem queria beber, bebia. Quem queria fumar, fumava. Quem queria ficar nu ficava. Quem queria mais um estímulo para o corpo ou para a mente só precisava procurar uma das muitas oficinas que integravam a programação diurna. Circo, vinil, trilhas, yoga, teatro, cinema, graffiti, mandala… Os temas eram muitos, bastava checar a programação e comparecer ao local na hora marcada. E ainda tinha a Radio Kombi para animar os momentos entre-shows com um setlist pra psicdélico nenhum botar defeito.
Eu já estava em ecstasy (sem trocadilhos) com aquilo tudo e aquele domingo ainda me reservava emoções intensas. A grande atração da noite era a banda Steppenwolf, os lendários criadores de “Born To Be Wild” para quem não conhece. Antes dos aguardados dinossauros do rock clássico, a banda paranaense Blindagem deu o tom de nostalgia à noite com seu rock rural que foi sucesso no final da década de 1970.
Eu já não me aguentava de ansiedade quando Steppenwolf finalmente subiu ao palco. De tão foda, o show passou num segundo em meio à clássicos como “Monster”, “Magic Carpet Ride”, “The Pusher” e, claro, o epifânico e libertador “Born to be Wiiiiiiild”. Que momento!
Born to be wildddddd!!!!Steppenwolf – Psicodália 2016\0/
Publicado por Bianca Motta em Domingo, 7 de fevereiro de 2016
A noite podia acabar por ali, mas no Psicodália sonzera pouca é bobagem! Os paranaenses do Cadillac Dinossauros mostraram que ainda existe rock “dubão” sendo feito por aí e seguraram a multidão já eufórica com seu metal sólido e impactante.
O Palco dos Guerreiros honrou o nome e seguiu com os shows energéticos e alto astral da Terra Celta (folk rock paulista) e Orquestra Friorenta (uma reunião de sonoridades feita por músicos radicados em Curitiba). Mas eu confesso que nessa altura já tava mais pra lá do que pra cá e não posso oferecer relatos muito confiáveis (risos). O fato é que foi bão demais!
No dia seguinte acordamos cedo para ir embora, com um gosto triste e melancólico de quero mais. E a festa seguiu. Com essa experiência psicodálica tive algumas epifanias a quem possa interessar:
1: Perdi Bixo da Seda, Elza Soares, Naná Vasconcelos, Replicantes, Os Skrotes, entre muitos outros, mas mesmo assim valeu MUITO a pena!
2: se você é daquelas pessoas que algum dia já pensou que gostaria de sido jovem em 1969 e ter estado no Woodstock, o Psicodália é o seu lugar.
3: 6 mil pessoas podem sim se reunir num lugar durante seis dias sem treta, sem “dar ruim”, com organização e liberdade, tudo junto e misturado.
4: Ano que vem eu tô lá, do começo ao fim, sem essa de dois dias, e nos próximos mil anos também, com meus filhos, netos, cachorro, papagaio e periquito.
5: Não importa o quão maluco você ache que é, sempre tem alguém mais maluco que você pra te acolher e te fazer sentir normal na sua maluquez.
6: WAGNEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEERRR!!! (psicodálicos entenderão)
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Esclarecimento: o Psicodália é um festival que tem seis dias de duração (cinco de shows). Para comparecer, é preciso adquirir o passaporte completo. Não há a opção de comprar um dia de shows apenas, por exemplo. A ideia é mesmo que todos vão até lá já no espírito de acampar e conviver durante todos aqueles dias, curtindo atrações das mais variadas. Por conta de alguns compromissos profissionais, eu tive que chegar no sábado (6) no fim da tarde e ir embora na segunda (8), na hora do almoço. Mas a festa continuou.
Imagens: Psicodália – Divulgação/ Facebook
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