O ator norte-americano Jesse Williams é conhecido no Brasil por seu papel como Dr. Jackson Avery na série Grey’s Anatomy. Sua atuação como ativista dos direitos humanos o levou a receber BET Humanitarian Awards, prêmio humanitário do Black Entertainment Television – canal de TV especializado em cultura negra. Seu discurso de aceitação, no entanto, foi um dos mais duros e contundentes da televisão americana recente.

Para nós, o discurso de Jesse impressiona em sua incrível sintonia e encaixe com a realidade brasileira. Ainda que fale sobre o racismo e a atuação policial contra negros e, principalmente crianças nos EUA, a verdade é que, mudando um ou outro nome, o discurso poderia perfeitamente falar sobre o Brasil. Tanto lá quanto aqui, a incidência de crianças mortas pela polícia – negras em quase sua absoluta totalidade – revela o racismo, a violência descabida e o assassinato a sangue frio como uma sinistra parte da própria metodologia de atuação das polícias por todo o mundo.
“Quanto mais aprendemos sobre quem somos e como chegamos até aqui, mais nos mobilizaremos”, aponta Jesse, para em seguida dedicar seu prêmio às organizações de direitos humanos, aos ativistas e advogados de direitos humanos, e aos pais dessas crianças, familiares, professores e amigos. Um sistema feito para nos dividir e empobrecer não resistirá se nós resistirmos, ele afirma.

Recentemente um garoto de 10 anos foi assassinado pela polícia, em São Paulo, suspeito de roubar um carro. Sabemos o quanto esse não é um caso isolado e, seja por balas perdidas, por suspeitas, erros de cálculo ou por uma crueldade quase banal, o assassinato de jovens pobre e negros e crianças é sistêmico no Brasil – e em nada melhora nem a situação da população, nem o combate ao crime, sendo na realidade parte grande da violência endêmica que assola o país.
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