Com o impeachment da ex-presidente eleita Dilma Rousseff, a política brasileira ficou sob os holofotes do mundo todo. Chefes de nações ao redor do mundo e principalmente na América Latina não responderam bem ao impeachment ocorrido ontem, 31.
Primeiro, o presidente do Equador, Rafael Correa, anunciou a decisão de chamar o embaixador do país de volta através de uma série de mensagens publicadas no Twitter.
Destituíram Dilma. Uma apologia ao abuso e à traição. Retiraremos nosso encarregado da embaixada. Jamais coonestaremos estas práticas, que nos lembram dos momentos mais obscuros da nossa América. Toda nossa solidariedade com a companheira Dilma, com Lula e com todo o povo brasileiro. Até a vitória sempre!
Ele não foi o único presidente latino-americano a se manifestar sobre a situação política brasileira. Evo Morales, presidente da Bolívia, também declarou sua insatisfação com o impeachment através da rede social.
Condenamos o golpe parlamentar contra a democracia brasileira. Acompanhamos Dilma, Lula e seu povo nesta hora difícil. Estamos convocando nosso embaixador no Brasil para assumir as medidas que se aconselham neste momento.
Além destes, a ex-presidente argentina, Cristina Kirchner, também se manifestou através da rede.
Se consumou no Brasil o golpe institucional: Nova forma de violentar a soberania popular. América do Sul outra vez laboratório da direita mais extrema. Nosso coração está junto ao povo brasileiro, Dilma, Lula e os companheiros do PT.
Mauricio Macri, atual presidente argentino, no entanto, declarou em comunicado que o país iria “continuar pelo caminho de uma real e efetiva integração no marco do absoluto respeito aos direitos humanos, às instituições democráticas e ao direito internacional” em relação ao que chamou de “processo institucional” ocorrido no Brasil.
O Ministério das Relações Exteriores de Cuba também emitiu uma declaração demonstrando sua opinião a respeito do impeachment da presidente. “O Governo Revolucionário da República de Cuba rejeita fortemente o golpe de estado parlamentar-judicial que foi realizado contra a presidenta Dilma Rousseff“, diz a nota, que declara que o impeachment “constitui um ato de desrespeito à vontade soberana do povo que a elegeu“.
Em comunicado oficial, a Venezuela também condenou o que chamou de golpe de estado contra Dilma. “A República Bolivariana da Venezuela condena categoricamente o golpe de Estado parlamentar consumado no Brasil contra a Presidenta Dilma Rousseff, mediante o qual perigosamente se há substituído ilegitimamente a vontade popular de 54 milhões de brasileiros, violentando a Constituição e alterando a democracia neste país irmão“. O país também prometeu congelar as relações políticas e diplomáticas com o Brasil.
Em maio deste ano, o eurodeputado espanhol do partido Podemos, Xavier Benito, havia enviado uma carta para Federica Mogherini, Alta Representante da União Europeia para Política Externa e Segurança, pedindo para que não fossem realizadas negociações com o então presidente interino Michel Temer a respeito de acordo entre o bloco e o Mercosul.
“O acordo comercial com Mercosul não só se limita a bens industriais ou agrícolas, mas inclui outros afastados como serviços, licitação pública ou propriedade intelectual. Por isso, é extremamente necessário que todos os atores implicados nas negociações tenham a máxima legitimidade democrática: a das urnas“, teria escrito ele na carta.
Em julho, o senado francês também havia se manifestado em manifesto publicado pelo jornal Le Monde contra o iminente impeachment da presidente Dilma Rousseff. “Assistimos à tomada de poder, sem legitimidade popular, por aqueles que perderam a disputa presidencial, com o intuito de colocar em prática seus programas rejeitados pelas urnas. Formou-se um governo composto exclusivamente de homens, que em nada reflete a diversidade que compõe a sociedade brasileira“.
No mesmo documento, os senadores franceses comentam que “estamos também preocupados com o envolvimento no golpe de Estado da grande mídia brasileira pertencentes a grandes grupos financeiros, por uma campanha extremamente violenta a favor da destituição e criminalização da esquerda. Essas mesmas mídias apoiaram o golpe de Estado Militar de 1964 a partir do qual construíram verdadeiros impérios midiáticos“. O artigo completo, traduzido para o português, está disponível aqui.
Imprensa internacional
Para o The Washington Post, impeachment teria sido “difícil, mas necessário“. Segundo a publicação, a medida “abre caminho para reformas que o Brasil precisa desesperadamente“. O The New York Times questiona: “Todos os impeachments são politicos. Mas o do Brasil foi mais sinistro?“.


Em compensação, o jornal espanhol El Pais classificou o impeachment em editorial como um “Golpe baixo no Brasil“. O britânico The Guardian publicou que “A queda de Dilma não irá curar todos os problemas do Brasil“.


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Confira também a capa de alguns dos principais jornais europeus:

Foto © Jucinara Schena