Debate

Grupos se unem para mostrar que é possível criar uma política mais consciente e representativa

28 • 09 • 2016 às 12:31
Atualizada em 09 • 04 • 2018 às 21:38
Mari Dutra
Mari Dutra Criadora do Quase Nômade, contadora de histórias, minimalista e confusa por natureza, com os dois pés (e um pet) no mundo. Chega mais perto no Instagram.

Depois do Brasil ganhar de presente um ministério formado exclusivamente por homens brancos, e de termos sido considerados uma nação bem atrasada em relação à representatividade feminina na política, muita gente já se deu conta de que está na hora de mudar esse cenário. É isso que buscam diversos grupos formados para repensar nossa relação com as urnas e com o sistema político em geral.

Uma rápida olhada no site do Senado já deixa claro sobre o que estamos falando: temos apenas 13 senadoras mulheres, contra 38 senadores. De acordo com a Assessoria de Imprensa da instituição, não há informações sobre a cor da pele ou orientação sexual dos parlamentares, nem sobre se algum deles teria qualquer tipo de deficiência física – mas, segundo uma apuração feira pela BBC em maio deste ano, a grande maioria dos senadores são homens brancos, com ensino superior completo e está sob investigação.

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Qualquer semelhança não é mera coincidência. Foto via

É claro que o Senado e os Ministérios são apenas uma parcela da falta de representatividade que vemos em todas as instâncias do poder. Para se ter uma ideia, segundo levantamento realizado pelo NE10, nenhum dos governadores ou senadores eleitos em 2014 se declarou negro – e olha que nós vivemos em um país em que mais da metade da população é negra.

Mesmo assim, 80% dos senadores são homens E brancos… Por lá, tem apenas uma cadeira ocupada por uma mulher negra. Dá para entender o tamanho do problema? Em um país com uma população tão plural quanto o Brasil, a política ainda é formada por um grupo homogêneo e que não representa os interesses e a pluralidade do povo. Mas isso está começando a mudar aos poucos, através de diversos movimentos em busca de uma política mais representativa da sociedade brasileira.

Uma destas iniciativas é a do projeto #MeRepresenta, que quer permitir que os eleitores conheçam melhor o que os candidatos a vereador pelo país pensam sobre questões relacionadas à igualdade de gênero e etnia, além de abordar temas como valorização, inclusão e respeito à comunidade LGBT.

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Foto: Reprodução

Um formulário com perguntas sobre pautas relacionadas ao feminismo, movimento negro e LGBT é enviado aos candidatos a vereador. O objetivo é que os eleitores saibam o que eles pensam sobre estes temas. Segundo o site da iniciativa, “a plataforma #MeRepresenta tem como objetivo divulgar aos eleitores as posições de candidatos a vereador sobre pautas relevantes à construção das igualdades de gênero, racial e de orientação sexual“.

Por enquanto, o projeto já conta com voluntários em Recife, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo, que entram em contato ativamente com todos os candidatos a vereador nestas cidades para saber sua opinião sobre as pautas. Na data em que conversamos com os fundadores do projeto, 500 mil mensagens haviam sido disparadas para todos os e-mails cadastrados no Tribunal Superior Eleitoral.

A iniciativa é uma parceria entre as campanhas #VoteLGBT, #AgoraéQueSãoElas, a Rede Feminista de Juristas, a Rede Nossas Cidades, o Centro Feminista de Estudos e Assessoria e o grupo LGBT Brasil para dar mais visibilidade aos candidatos pró-direitos humanos. A partir do dia 15 de setembro, o site divulgará publicamente todas as informações obtidas durante essa pesquisa para que seja possível embasar o voto de acordo com o que cada candidato pensa a respeito de questões que são importantes para os eleitores e decidir se ele pode te representar ou não.

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Ilustração © Laerte Coutinho

Parceiro da iniciativa, o movimento Vote LGBT realiza uma campanha em prol de candidatos que tenham propostas de apoio à comunidade gay. “O #VoteLGBT surgiu a partir de uma matéria, realizada para a revista Geni, sobre candidaturas LGBT e de mulheres, em que descobrimos que essas candidaturas eram invisibilizadas dentro mesmo dos partidos, não recebendo recurso e estrutura. A partir dessa percepção, resolvemos nos articular para ajudar a visibilizar essas candidaturas, ao mesmo tempo que pressionar o debate sobre essas pautas“, contaram os criadores da iniciativa em conversa com o Hypeness através do Facebook.

Segundo eles, o impacto buscado seria principalmente o de aparelhar as candidaturas pró-LGBT e ajudar que os eleitores encontrem um candidato favorável à causa. E também “pressionar o debate público sobre as pautas pró-direitos humanos com um recorte na população LGBT“, lembram.

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Foto via

Para isso, o grupo pretende listar as candidaturas que promovam ações igualitárias para a população LGBT e informar a população sobre o funcionamento eleitoral, gerando cidadãos mais conscientes sobre a importância de seus votos. “Acreditamos que uma política que represente melhor a comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, mulheres transexuais e homens trans será uma política melhor para todas as pessoas. Afinal, um país tão diverso quanto o Brasil precisa de políticos capazes de abraçar a pluralidade de ideias e de amores de sua população.”, define o site da iniciativa.

Outra iniciativa semelhante é o Vote Trans, que reúne uma lista, ainda em construção, com os nomes, números e propostas de candidatos transexuais em diversas cidades brasileiras. A ideia é a mesma: aumentar a representatividade na política, dando voz a um grupo geralmente marginalizado em nossa sociedade. No país que mais mata transexuais no mundo, candidaturas trans não são apenas uma questão de visibilidade, mas de sobrevivência.

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Foto: Reprodução Facebook

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Ilustração: Emilia Santos

Enquanto isso, outro movimento forte foca nas mães que buscam garantir seus direitos e os de seus filhos. É a campanha Criança é Prioridade!, promovida pela Rede Nacional Primeira Infância. A ideia é convidar os candidatos a prefeituras de todo o país a assumir um compromisso público pelos direitos da primeira infância. Até o momento, candidatos de diversos municípios de mais de 10 estados já aderiram à campanha.

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Uma carta com o termo de compromisso está disponível no site da campanha para que os candidatos possam se comprometer a realizar um diagnóstico da situação da primeira infância em seu município, elaborar e acompanhar um Plano Municipal da Primeira Infância, ao mesmo tempo em que priorizam os direitos das crianças em seus planos de governo.

A campanha reforça a implementação do Marco Legal da Primeira Infância, aprovado esse ano, uma lei que especializa o olhar para essa etapa do desenvolvimento infantil e indica as diretrizes da gestão municipal para a Primeira Infância, o que é um grande ganho para a sociedade como um todo.“, comenta Maria Mostafa, secretaria executiva da Rede Nacional Primeira Infância.

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Fotos: Divulgação

A proposta é usar o período eleitoral para conscientizar a sociedade como um todo, e mais especificamente os políticos, sobre os direitos de cada cidadão. “É por isso que acreditamos que a população precisa conhecer os seus direitos para que possam escolher candidatos capazes de cumpri-los.“, lembra Maria.

Falando em conscientização

Uma iniciativa cujo objetivo é aumentar a conscientização sobre o processo político e eleitoral de uma maneira mais leve e divertida é o Fast Food da Política. Como eles pretendem fazer isso? Gamificando o saber político para que mais pessoas tenham acesso a ele.

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Os jogos resultantes dessa dinâmica ficam disponíveis no site do projeto para download e impressão ou você pode seguir o manual encontrado na página e criar seu próprio jogo, facilitando e ampliando o acesso ao conhecimento.

A Fast Food da Política nasceu a partir de uma viagem pelo Brasil, em agosto de 2015, em que havia uma proposta de testar jogos políticos já criados e testar novos. Nessa viagem surgiu a ideia de aplicar jogos simples e rápidos em uma manifestação política que acontecia na esplanda, em Brasília, para provocar a reflexão e o diálogo na população a respeito das reivindicações que estavam sendo feitas.“, diz Júlia Carvalho, fundadora do projeto.

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Desde então, o grupo percebeu o potencial destes jogos para aprofundar os conhecimentos sobre política. Em outubro do mesmo ano, o projeto ganharia vida graças a uma campanha de financiamento coletivo bem-sucedida. Entre os jogos criados por eles, estão brincadeiras que ajudam as pessoas a aprender as responsabilidades de cada esfera do poder, o processo sucessório do impeachment e até o significado de algumas siglas chatinhas, como ICMS, IPVA e ANTT, por exemplo.

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Através da conscientização, fica mais fácil entender se a proposta daquele candidato a prefeito ou vereador pode realmente ser cumprida ou se ela é apenas uma promessa moldada para angariar votos. Por sinal, o Jornal Nexo também criou uma enquete bacana para que os leitores vejam se sabem o que um candidato a vereador pode ou não prometer durante sua campanha.

Mas por que aprender mais sobre o sistema político? Talvez porque, segundo o Ibope, 49% das pessoas ainda acham que a democracia não está sendo bem aplicada hoje no Brasil. Felizmente, só uma pessoa pode mudar essa estatística: VOCÊ! 😉

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Foto: Divulgação/TSE

Por sinal, será que a gente vive mesmo em uma democracia? Estes vídeos vão fazer você repensar esse conceito.

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