Black Mirror é uma série da Netflix sobre tecnologia e seus possíveis desdobramentos futuros, na qual a premissa poderia ser resumida no seguinte lema: a culpa nunca é da tecnologia, mas sim das pessoas.
Quem não assistiu ao primeiro episódio da nova temporada da série Black Mirror, não se preocupe: esse texto não contém um spoiler – nada além do mote do episódio. O problema é que nossas próprias vidas cada vez mais funcionam como conta a história.

Na abertura da nova temporada, o episódio “Nosedive” (Mergulho de nariz, em tradução livre) um dispositivo de realidade ampliada permite que todos sejam julgados o tempo todo, tanto por sua personalidade virtual quanto real. Esse “rate” é que determina o valor social das pessoas, seu acesso a serviços e até suas possibilidades de conseguir um emprego.
Pode parecer delirante, mas basta pensar na importância das “notas” aplicadas em aplicativos de taxi, em sites especializados na internet ou no Uber para saber que esse “delírio” é cada vez mais real. E agora o governo Chinês pretende torná-lo oficial no país.

A ideia do governo chinês é basicamente a mesma: incentivar o “bom comportamento” de sua população através de avaliações online. Para os bem comportados, crédito na praça; para quem for mal avaliado, dificuldades para conseguir empréstimos e até para poder viajar poderão ser aplicadas. A assombrosa ideia é também armazenar o máximo de informação sobre as pessoas e empresas do país.

Como tal sistema poderá ser aplicado, especialmente em uma população de 1,3 bilhões de pessoas, ainda permanece um mistério, mas pelo visto, os pesadelos autoritários da ficção, através da tecnologia, podem se tornar reais muito em breve – e as complexidades e injustiças da vida poderão se resumir ainda mais a uma mera nota.
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