Nenhuma outra pintura moderna representa melhor o absurdo e o sofrimento de uma guerra como Guernica, quadro pintado em 1937 por Pablo Picasso. A tela – um enorme mural com mais de 3 metros de altura por quase 8 metros de comprimento – mostra, através de figuras retorcidas em dor, o caos e a violência de toda a guerra civil espanhola, representada pelo bombardeio da cidade basca de Guernica. As bombas foram jogadas sobre a cidade por aviões nazistas e fascistas, por pedido dos nacionalistas espanhóis.
Guernica, de Pablo Picasso
Quando o artista português Vasco Gargalo decidiu criar um trabalho inspirado pelos horrores da guerra civil na Síria – em especial pelo cerco à cidade de Aleppo – pensar em Guernica foi inevitável. Mais do que isso: a obra-prima de Picasso tornou-se incontornável. Assim, o cartunista português viu-se diante da dura tarefa de criar uma versão contemporânea desse símbolo artístico de morte e sofrimento em uma guerra civil.

Para Vasco, basear-se em Guernica era uma “a forma mais imediata de passar a mensagem”. O artista respeitou a obra original, mas acrescentou seu estilo, como caricaturista, para sua versão – que batizou de “Alepponica”.

Assim, algumas figuras icônicas do original foram transformadas justamente em caricaturas de personalidades políticas envolvidas no conflito sírio: o touro tornou-se o presidente russo Vladimir Putin, o cavalo foi transformado em Barack Obama, e em um dos rostos retorcidos retratou o ditador sírio Bashar al-Assad.
Vladimir Putin como o touro
No detalhe, o cavalo retratando Barack Obama
Bashar al-Assad
Estão no quadro também a cobiça pelo petróleo e o Estado Islâmico. O que não muda de um trabalho para o outro, com quase 80 anos de diferença, é a ignorância, a cobiça, a dor, a intolerância e o horror de qualquer guerra, em qualquer lugar, em qualquer época.








© imagens: Vasco Gargalo/Pablo Picasso