Passamos pela Avenida Paulista diversas vezes no dia a dia. Entre um intervalo e outro do expediente, na hora de voltar para casa, ir ao cinema, tomar a cerveja que anuncia o início da noite. Ela, um dos grandes símbolos da cidade de São Paulo, toda movimentada, engravatada, nos parece como um dos pontos mais importantes do corporativismo na metrópole.
Difícil imaginar, entre um passo apressado e outro, que aos seus arranha-céus espelhados interpõem-se construções residenciais onde, de acordo com o IBGE, vivem atualmente 250 mil pessoas.

Foto © Wiki Commons
Foi no último domingo, 16 de outubro, que descobri essas e outras informações preciosas, durante uma caminhada pela Paulista Aberta, vibrante, musical e movimentada, na primeira edição do Esquina a Passeio, que propõe voltar os olhos a essas e outras construções e entender as suas relações com a história de São Paulo.
Junto a um grupo, invadimos um dos cartões postais da babilônia para “educar o olhar e aproximar-se da discussão do espaço construído, percebendo que todos estamos aptos a falar de arquitetura”, de acordo com o arquiteto André Scarpa, guia e um dos organizadores do programa, junto com a jornalista Mariana Barros e o empresário Eduardo de Carvalho.

Foto © André Scarpa
O tour é parte do projeto Esquina: Encontros sobre cidades, idealizado por Carvalho e Barros, que frequentemente reúnem especialistas de diversas áreas na Livraria Cultura do Conjunto Nacional em eventos abertos e gratuitos, para discutir sobre o espaço público e suas construções. Scarpa conta que ele e os parceiros escolheram a Paulista “não só pela diversidade e qualidade arquitetônica de seus edifícios, mas também pela possibilidade de enxergar esses prédios de um ponto de vista diferente, com a avenida aberta”.
Uma avenida que, aos domingos, recebe uma infinidade de gente de diferentes idades desde outubro do ano passado, que vêm para viver o dia, a cidade, e aproveitar de um espaço onde a circulação de carros é proibida, das 10h `as 18h. Que nasceu em 1890, com o plano do engenheiro agrônomo uruguaio Joaquim Eugênio de Lima, numa época em que o centro estava insalubre e buscavam-se lugares mais altos, com melhores condições de higiene.

Avenida Paulista no dia da sua inauguração. Gravura: Wiki Commons
Seu foco era residencial, e “alguns dos emblemáticos casarões ainda estão de pé, como a Casa das Rosas, do Ramos de Azevedo”, conta André. Em 1940/50, com a chegada do bonde elétrico, a Paulista, antes considerada distante, passou a ser mais acessível e atingir outras classes sociais. Com isso chegaram os primeiros edifícios residenciais: O Gibraltar, do arquiteto Giancarlo Palanti e o Edifício Anchieta, MMM Roberto (1941).

Edifício Gibraltar. Foto © André Scarpa
Caminhamos por ela, subindo em construções importantes, como o Conjunto Nacional e no topo do Edifício Três Marias, de Abelardo de Souza, de onde se avista o horizonte, colinas verdes e o Pico do Jaraguá, lembrando que São Paulo também é verde.

Foto © Rodrigo Tamburus
André conta sobre os resquícios do projeto de Nadir Cury, que propunha um rebaixamento da Paulista, com uma via expressa subterrânea e a parte de cima privilegiando mais a passagem de pedestres do que a circulação de carros (foto acima), como acontecia naquele dia.
Mais a frente, no Parque Trianon, projetado pelo paisagista francês Paul Villon, senhoras dançam a moda de viola de um cantor que se apresenta `a sombra da vegetação nativa de Mata Atlântica, que permanece intacta em meio a metrópole.

Foto © Wiki Commons
André lembra que “São Paulo é chamada de cidade cinza, e realmente poderia ter mais verde, mas ao mesmo tempo estamos numa avenida super arborizada, cheio de cores também“.

André Scarpa. Foto © Luiza Ferrão
Veja abaixo mais pontos onde paramos durante o Esquina, que, além de desvendar a arquitetura e a história da cidade, “é um convite para que seus participantes conheçam melhor lugares por onde já passaram, descubram novos locais e, caminhando por São Paulo, aproveitem-a melhor“, nas palavras de Eduardo de Carvalho.
Confira aqui informações sobre a próxima edição.
Ed. Banco Safra, do arquiteto Mauricio Kogan, 1988
Foto © Rodrigo Tamburus
MASP, arquiteta Lina Bo Bardi, 1960
Foto © Wiki Commons
Ed. Nações Unidas. Arquiteto: Abelardo de Souza
Foto © André Scarpa
Palacete Franco, do arquiteto Antônio Fernandes Pinto, 1905
Foto © Luiza Ferrão
Casa das Rosas, de Ramos de Azevedo, 1928
Foto © Wiki Commons