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Amazônia. Pulmão do mundo, imensidão verde. Distribuída em 8 países, representa 55% da floresta tropical do planeta e 20% de sua superfície total de água. Aqui as ruas são rios, percorridos por deslizantes barcos, onde, em território brasileiro, transitam e vivem cerca de 25 milhões de pessoas.
Aqui, abundância e escassez caminham juntas. De um lado, saberes, recursos naturais, culturas. Do outro, a falta de infraestrutura básica como água potável, luz elétrica, educação de qualidade. Cenário contrastante entre riqueza e pobreza que é dominado por 5 economias de cunho extremamente devastador: mineiração, gado, soja, madeira e energia elétrica. Juntas, elas representam quase 100% de seu PIB.
No último 23 de novembro, tive o privilégio de conhecer pessoas que trabalham para mudar esse quadro. Elas viajaram de diversos cantos do Brasil rumo ao Pará para participar do Desafio Natura Amazônia, Negócios para a Floresta em Pé. Com diferentes idades, uniam-se num único propósito: desenvolver negócios rentáveis, que gerem lucro e protejam a floresta ao invés de destruí-la.
Selecionados entre mais de 140 empreendedores, eram líderes de 17 startups que foram convidados pela Natura e com apoio da Artemísia para uma vivência no estado, por terem as melhores soluções de negócios sócio-ambientais de impacto positivo na região, alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
Soluções como o Litro de Luz, que desenvolve lâmpadas e postes alimentados por energia solar, comercializados em comunidades que não tem acesso a energia elétrica ou não podem arcar com o custo da conta. Como a ASPROC, organização de Carauari (AM) que promove o desenvolvimento comunitário de 600 famílias, ao organizar a comercialização de sua produção agrícola e extrativista e gerar renda para os envolvidos.
Laís, do Litro de Luz, ensina `as mulheres que vivem na floresta como funciona a sua lâmpada
Como o Banco Tupinambá, que criou a moeda social “Moqueio” na comunidade pesqueira Baía do Sol, no Pará, incentivando o surgimento de novos negócios e aumentando de 2% para 96% o consumo interno da região, de acordo com Ivoneide Vale, uma das idealizadoras. Ou Flavia Amadeu, que desenvolve jóias com látex produzido e tingido em comunidades amazônicas, capacitando cadeias produtivas e gerando economia local, além de valorizar a seringueira em pé e não derrubada.
As jóias feitas com látex de Flávia Amadeu
Junto com um time de mentores selecionados pela Natura e Artemísia, com expertise em formatação de modelo de negócio, investimento, Amazônia, impacto social e sociobiodiversidade, percorremos o rio Abaeté rumo a comunidade Nossa Senhora do Bom Remédio, depois de viajar cerca de duas horas e meia a partir de Belém até a cidade de Abaetetuba.
No caminho, a imponente floresta apresentou-se: casas de madeiras sustentadas por pilares deixam transparcer o curso de um rio que altera a paisagem conforme enche e vaza. Exuberantes árvores centenárias de metros de altura me fazem lembrar quem chegou primeiro nas terras brasileiras.
“Trouxemos as startups para essa comunidade ribeirinha para que possam identificar os problemas de seus negócios num ambiente de inovação semelhante ao de onde eles se aplicam e, junto com os mentores, formular suas respectivas soluções. Aqui é possível entrar em contato com saberes tradicionais e aprender com a comunidade”, explica José Mattos, coordenador de sustentabilidade da Natura.
Trocar era a palavra de ordem. E numa roda de conversa, Daniela Dolme, da Artemísia, citou Paulo Freire para abrir os diálogos entre quem vive na floresta, e a conhece como ninguém, e quem formula soluções para que ela se mantenha viva.
Empreendedores puderam então compartilhar as suas ideias de negócios entre si, com os locais e mentores. Alan Delon, criador do banco Nu Progresso, me contou entre uma colherada e outra de açaí que, apesar dos estudos que realizou, não tinha ideia de que para o povo amazonense ter acesso a crédito na rede bancária “tradicional” era tão difícil.
Foi uma vivência de cinco dias, onde o grupo pode conhecer a cadeia produtiva da Natura do início ao fim, a exemplo de negócio justo e sustentável, contando com a expertise da Artemísia e seus mentores para refinar a formatação de seus modelos de negócio e os respectivos impactos sociais envolvidos.
Percorremos a fase da coleta de insumos, que ocorre em comunidades como a Nossa Senhora do Bom Remédio, passando pela cooperativa Cofruta, em Abaetetuba, onde as sementes são transformadas em manteiga e óleo, e chegando por fim no Ecoparque industrial da empresa, onde seus sabonetes são fabricados.
Mentorias no Ecoparque da Natura
No final da vivência, quatro startups foram selecionadas para continuar com o programa de aceleração de negócios de impacto positivo da Artemísia: ASPROC, Arcafar, que visam fortalecer as associações afiliadas da comunidade de Altamira (PA), Da Tribu, que também desenvolve acessórios a partir do látex da seringueira e MEU, originalmente, Movimento de Empreendedorismo Universitário, que ajuda a aplicar a cultura empreendedora junto a estudantes universitários amazonenses a partir de um programa de pré-aceleração.
Membros da ASPROC durante mentoria no Ecoparque da Natura
À esquerda, Clarissa Melo e Suane Viana durante mentoria no Ecoparque da Natura
O Desafio Natura Amazônia faz parte do Programa Amazônia, que sustenta-se em três pilares: Ciência, tecnologia e inovação, cadeias produtivas sustentáveis e fortalecimento institucional. “Precisamos ter pesquisa para saber o que pode virar negócio, entender quais são as riquezas da Amazônia e quais economias sustentáveis podemos criar com elas, me conta Renata Puchala, gerente de sustentabilidade do programa.
“Também nos preocupamos em fortalecer a parte de campo: de cooperativas, desenvolvimento de lideranças”, continua. “As comunidades entendem as sementes como ninguém, mas também precisam saber calcular capital de giro, fazer fluxo de caixa. Precisamos educá-las para formar novas lideranças, criando oportunidades na região e evitando que os jovens migrem para a cidade. A Natura também têm um plano de manejo sustentável para cada espécie de planta manipulada, afim de preservá-las e regenerá-las, já que trabalha com o extrativismo e depende disso“, conclui.
A partir do Programa Amazônia, a empresa, que não tem um contrato de exclusividade com as comunidades onde atua, também ajuda ribeirinhos a formular um valor de remuneração justo para seu trabalho, para que possam ter lucro. “Muitas vezes pagamos até 4, 5 vezes mais do que o valor de mercado”, conta Renata. A ideia é deixar um legado para a região. Fortalecer, empoderar as instituições locais para que de fato exista desenvolvimento a partir de uma intervenção econômica.
Guilherme Leal, um dos fundadores da empresa, argumenta que, para que essas startups prosperem, “é importante ter um bom diagnóstico do problema que será enfrentado, e como as soluções serão construídas. Ou seja, qual a fonte de sustentabilidade, de renda econômica e como processos e produtos serão aperfeiçoados“.
“Estamos descobrindo o próprio potencial do ser humano de colaborar”, continua. “Os negócios que sustentam a economia compartilhada estão aí para mostrar isso! Nós não precisamos detonar o planeta para criar nosso bem estar e não precisamos acumular tantos bens para construir felicidade. Acho que tudo isso é inovação. É inovação cultural. E esse conceito deve estar presente nos modelos de negócio futuros, e eu torço e confio que estará!”, termina.
Nos próximos três meses, as startups vencedoras do Programa Amazônia vão participar de mentorias pontuais com a equipe da Artemísia. Além disso, toda a turma de empreendedores será avaliada para que, em alguns meses, o avanço de seus negócios seja medido e comparado ao estágio inicial, do começo do programa .
Todas as fotos © Luiza Ferrão
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