Desde o início da década de 1960, quando surgiu para revolucionar não só a música folk e o rock como a própria cultura ocidental, que o poeta e compositor Bob Dylan jamais faz o que poderia dele se esperar. Seja em seu trabalho, seja na maneira com que lida com o sucesso, Dylan sempre surpreendeu ao público, jamais se submetendo aos exageros da indústria, comportando-se como um cantor e poeta, focado em seu trabalho de traduzir o mundo em canções – e, mesmo passados quase 60 anos, ao vencer o Prêmio Nobel de Literatura, em 2016, sua postura não seria diferente.

Sempre, porém, que Dylan frustrou certa expectativa sobre como poderia ou deveria se comportar, o fez com elegância, talento e surpreendente força – e, nesse caso, tal máxima mais uma vez se cumpriu. Avesso aos holofotes do sucesso, Dylan avisou recentemente que provavelmente não poderia se fazer presente na cerimônia de entrega do Nobel. E assim o fez: sua ausência, no entanto, foi magistralmente preenchida pela poeta e lenda do punk Patti Smith.

Admiradora confessa da obra de Dylan, uma emocionada Patti Smith defendeu a icônica canção “A Hard Rain’s A-Gonna Fall”, composta por Dylan em 1962. Com seus longos e lisos cabelos grisalhos moldando seu rosto, Patti representou o maior compositor americano vivo com força e beleza, permitindo inclusive que sua emoção também se derramasse em tributo: no segundo verso da canção, Patti perdeu o fio da meada e, visivelmente tomada por todo significado daquela apresentação, interrompeu a execução, explicando-se com somente uma simples frase, e um comovente sorriso.
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“Me desculpe, estou muito nervosa” – transformando em lágrimas todo o espírito de uma geração. Patti recomeçou a canção com ainda mais emoção, quebrando em mais uma camada qualquer protocolo, e fazendo jus ao espírito incontrolável de Dylan.


Não poderia haver melhor tributo e representação. No discurso que enviou como agradecimento ao prêmio (que pode ser lido aqui na íntegra, em inglês) Dylan posicionou-se com a grandiosa humildade que, paradoxalmente, lhe é peculiar. Lembrou de seus diversos heróis literários, de Shakespeare – que também questionava-se sobre se seus textos, escritos para o palco, seriam literatura – e terminou dizendo que jamais perguntou-se, em toda sua vida, sobre se seriam literatura sua canções, por estar sempre preocupado com aspectos mundanos de seu trabalho.

“Eu então agradeço a academia sueca, tanto por dedicar seu tempo em considerar essa questão, quanto, por fim, por oferecer uma resposta tão maravilhosa”.
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O Hypeness já tratou das polêmicas e debates surgidas depois de Bob Dylan se tornar o Prêmio Nobel de literatura de 2016. Relembre.