É difícil admitir em si horror similar ao que, no outro, fez dele seu inimigo. Depois do ataque japonês à base de Pearl Harbor, nos EUA – que precipitou a participação americana na Segunda Guerra Mundial – uma onda de histeria e temor contra os cidadãos de origem oriental tomou conta do país.
Rumores de levantes dos centenas de milhares de cidadãos nipo-americanos para tomar o país provocaram uma reação americana bastante similar com os métodos alemães contra quem os próprios americanos lutavam: de 1942 a 1948, cerca de 120 mil pessoas de etnia japonesa foram forçados a viver em campos de concentração dentro dos EUA.

A fotógrafa Dorothea Lange, então já reconhecida por seu trabalho durante a grande depressão americana, na virada da década de 20 para a seguinte, foi chamada pelo governo para registrar a evacuação, o transporte e o estabelecimento desses campos – habitados em sua grande maioria por cidadãos oficialmente americanos, removidos aos campos simplesmente por sua origem oriental. As condições dos campos eram muitas vezes terríveis, e os cidadãos basicamente foram detidos feito prisioneiros, ainda que não tivessem cometido crime algum.
Quando viram as fotos do Dorothea, o exército americano identificou rapidamente a oposição da fotógrafa à ideia de remover os cidadãos nipo-americanos (a fotógrafa aceitou o trabalho por saber que tais fotos seriam importante documento no futuro, ainda que rejeitasse profundamente a medida). Por isso, as imagens foram confiscadas, e permaneceram censuradas, guardadas no Arquivo Nacional sem acesso permitido desde então até 2006, quando foram enfim liberadas.

Rapidamente as fotos foram reunidas em um livro, que traz também depoimentos dos prisioneiros e da própria fotógrafa. Somente em 1988 o governo americano desculpou-se oficialmente pelo estabelecimento dos campos, admitindo que tal medida se baseava em “preconceitos raciais, histeria bélica e a deficiência da liderança política”. Não é preciso muito esforço de memória para se ter certeza de que infelizmente de que muitos países ainda terão muitos pedidos de desculpas para fazer nos anos por vir.



















Todas as fotos © Dorothea Lange