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Depois que o novo prefeito de São Paulo decidiu que uma cidade melhor era uma cidade cinza e sem grafites, e para tal decidiu por pintar algumas das obras que coloriam a capital paulista, o debate ao redor do grafite, da pichação e de outras intervenções visuais nos espaços urbanos se reacendeu. Trata-se ou não de arte? Qual é o lugar de uma obra de arte? E sua função? A arte deve incomodar? Deve desafiar? Pode estar à venda? Responder definitivamente tais questões parece tarefa impossível – mas debate-las é dever fundamental.
Uma designer decidiu atropelar a sutileza dessas questões e acelerar o debate com um gesto, misturando apropriação, lugar de fala, capitalismo e mercado de arte no discurso por trás de uma linha de produtos. Andrea Bandoni criou uma fonte inspirada no estilo de grafia utilizado por diversos pichadores, e “pixou” peças de mesa, como pratos, taças e toalhas, com frases retiradas dos muros de São Paulo.
“Revolte-se ainda hoje” e “Toda criação é antes de tudo um ato de destruição” são dois exemplos das frases utilizadas por Andrea para estampar suas peças.
Há quem ache que as criações artísticas devem incomodar e desafiar o status quo, e nesse sentido, a obra em questão – que está à venda no site da designer – “sequestra” o sentido subversivo e até marginal das pichações (assim como o próprio significado das frases) e o transforma em um esvaziado e domesticado produto. A ânsia capitalista de transformar qualquer força popular em produto se apresenta evidente, abrindo mão de interesses mais profundos em favor da força pueril e rasteira da comercialização.
Por outro lado, a apropriação, o deslocamento e a aplicação de certa força social, que em determinado espaço (no caso, a rua) possui sentido desafiador, em outro contexto (como o lugar elevado e rico que peças de porcelana sugerem) pode servir como interessante dispositivo para revelar contradições e narrativas escondidas nos gestos artísticos espontâneos e nas obras em seu contexto original.
As pichações são símbolos da cultura de rua que, como todo fetiche mercadológico, vêm sendo transformada em produto em galerias de arte do mundo inteiro. Ao imprimir tal linguagem sobre peças consideradas símbolo de educação, elegância e riqueza (como as porcelanas), a designer acaba apontando tal contradição com contundência. Por outro lado, suas peças estão de fato à venda, e nenhuma força costuma resistir ao poder de esvaziamento do mercado. Como já foi dito, resolver tal dilema não é tarefa simples. O primeiro passo é sujar as mãos – na tinta, e no debate.
© fotos: Andrea Bandoni
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