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A busca por originalidade e por uma obra única, por um som novo e autêntico, pode ser alcançada através de muita dedicação, estudo, criatividade e talento, ou pela absoluta ausência desses elementos. Se as lendas do Rock costumam se destacar por recordes batidos, a qualidade de seu trabalho ou o impacto e a importância de um legado, uma banda sustenta um título praticamente impossível de ser rebatido: a banda americana The Shaggs e seu disco Philosophy of The World, de 1969 são quase unanimemente reconhecidos como a pior banda e o pior disco de todos os tempos.
Tais títulos só não são unanimes pois o bizarro e inesperado som da banda é tão forte que para alguns o resultado se transforma em uma obra de arte. Pois falem o que quiserem das três jovens irmãs que formavam a The Shaggs, elas de fato soavam como nenhuma banda jamais soou. As guitarras são desafinadas, as composições fazem pouco ou nenhum sentido harmônico, a confusa bateria parece estar tocando uma outra música – e sem qualquer lógica rítmica – e as letras e o canto podem provocar náuseas em ouvidos mais sensíveis, em uma impressionante cacofonia à beira da loucura.
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Punk antes dos punks, na vanguarda do noise e do rock experimental, a The Shaggs era antes de tudo uma banda realmente livre. Para uns a pior banda de todos os tempos, para outros – como Frank Zappa e Kurt Cobain – uma banda genial, o fato é que a The Shaggs está de volta, e irá se apresentar esse ano no festival Solid Sound, nos EUA.
Tudo na história das Shaggs parece mentira, mas é a mais pura verdade, que se deu, no entanto, por vontade de Austin Wiggin, o pai das irmãs Dorothy Wiggin (vocal e guitarra solo), Betty Wiggin (vocal e guitarra base) e Helen Wiggin (a gênia por trás da bateria). A fim de cumprir uma profecia que lhe fizeram, de que suas filhas formariam um grupo de música popular que viria a alcançar o estrelato, Austin passou a dedicar sua vida para fazer a previsão acontecer, e tirou suas filhas da escola para formar a banda.
Só havia um pequeno problema: elas não sabiam cantar nem tocar qualquer instrumento, e nem tinham maiores planos de se tornarem de fato uma banda. O pai colocou as filhas para estudar e ensaiar, e rapidamente concluiu – revelando um dos piores tinos comerciais e musicais de todos os tempos – que elas estavam prontas para o primeiro disco. Em 1968 foi gravado Philosophy Of The World, com uma tiragem de mil cópias financiada pelo pai.
Dos mil discos prensados, 900 teriam sido roubados, e o restante foi distribuído entre rádios e críticos da região da Nova Inglaterra, nos EUA. Ninguém demonstrou qualquer interesse pelo som da banda, e os sonhos de Austin para suas filhas estavam temporariamente suspensos, assim como as atividades da banda. Os poucos discos que circularam, no entanto, provocaram curiosidade e espanto entre os DJs e aficionados da época.
“Sua música é diferente, é única. Elas acreditam na música, vivem a música. É uma parte delas e elas são parte disso. De todas as bandas em atividade hoje, talvez somente a The Shaggs têm coragem de fazer o que fazer, e de tocarem somente o que acreditam, da forma que sentem”, disse o pai, à época – e inacreditavelemente ele tinha certa razão.
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A maré começou a mudar quando Frank Zappa incluiu algumas músicas da banda na lista de suas preferidas em um programa de rádio. Para Zappa, a The Shaggs era “melhor que os Beatles, mesmo hoje em dia” (a autoria desse comentário jamais foi de fato confirmado, mas tornou-se parte da lenda).
Da noite para o dia, cópias de Philosphy Of The World tornaram-se raros objetos de desejo dos colecionadores, e a aura em torno da banda cresceu como um raio – confirmando, de certa forma (ainda que pelo avesso) a profecia da tal vidente. O disco foi relançado, e os críticos jamais puderam se decidir entre aponta-las como a pior banda de todos os tempos, ou como um trabalho realmente interessante, provocativo e inovador.
Kurt Cobain com a camisa da The Shaggs
Nos anos 1990, Kurt Cobain elencou o único disco da The Shaggs como um de seus discos preferidos, e assim a lenda ao redor da banda se transformou em um culto. Seja como for, o fato é que realmente é impossível permanecer indiferente à música das irmãs Wiggin – e que, sim, o resultado é por vezes (mesmo que sem querer) mais forte e esteticamente original e provocador do que muitos trabalhos sérios que buscaram na música experimental alcançar uma espécie de anti-música ou uma sonoridade violentamente única.
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Os puristas que me perdoem, mas as Shaggs são, afinal, mais interessantes do que, por exemplo, o Captain Beefheart ou alguns trabalhos experimentais contemporâneos. Atualizando a citação célebre – mesmo que por diversão – como não afirmar que The Shaggs, por exemplo, melhor que Frank Zappa?
As irmãs em foto recente. Helen, a baterista, infelizmente veio a falecer
Os anos se passaram, o séquito de seguidores da banda só aumentou. Um musical sobre a banda foi realizado nos teatros de Nova Iorque, discos e shows em tributo foram produzidos, e finalmente o primeiro show da melhor pior banda do mundo (ou o contrário; a ordem dos fatores não altera a musicalidade) irá finalmente acontecer.
‘Dot’ Wiggin, a líder das Shaggs, em apresentação recente
Cena do musical contando a história da banda:
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O convite veio da banda Wilco, para que a The Shaggs se apresente no Solid Sounds, o festival que organizam. Os shows acontecerão entre os dias 23 e 25 de Junho desse ano, nos EUA – e o certo é que, para o bem ou para o mal, será uma apresentação única e inesquecível.
© fotos: divulgação
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