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Tenho 30 e poucos anos e, como muitos da minha idade, construí uma carreira que, depois de uma década, descobri que não era para mim. Apesar de bem sucedida, não estava me sentindo feliz tendo que colocar salto todo dia, comprar uma roupa nova por semana e passar horas em frente ao espelho para ser a executiva perfeita.
O salário era bom, me permitia comer bem, fazer viagem internacional, dar presentes caros para a minha mãe, mas também fazia com que meu cabelo caísse, que a insônia reinasse e que os momentos vagos fossem passados na cama de tanto stress e cansaço. Não importava o que eu fizesse, nada me satisfazia por muito tempo e a infelicidade estava começando a se tornar depressão.
A solução? A mais difícil de todas: largar tudo! Sim, eu abri mão da minha carreira e segurança para tentar descobrir novos caminhos. O grande medo era mesmo a grana, que ia parar de chegar, mas aceitei o desafio de viver com menos para me sentir mais realizada e descobri coisas que nem imaginava.
O primeiro passo foi encontrar uma nova ocupação. Muitos anos de carteira assinada me fizeram querer trabalhar por conta própria nesse princípio, então passei a ficar 100% do meu tempo em casa. Nessa busca por novas oportunidades, listei várias coisas que eu gostaria e não gostaria de fazer, quais eram as qualidades profissionais que eu reconhecia em mim e como poderia usá-las para ganhar a valorizada grana de alguma forma.
Fiz diversos cursos que a vida comercial de 9 às 19h nunca me permitiu e foi através de um deles que juntei meu hobby de cozinhar com uma atividade profissional. Assim nasceu minha fábrica de um homem só para a produção de massas artesanais. Muito da Gaby está nela: o gosto por cozinhar, a satisfação em agradar as pessoas com o que eu faço e a preocupação com a entrega de um bom trabalho. A rotina é dureza, principalmente porque sou a proprietária, a cozinheira e o motoboy da empresa, mas a dedicação é recompensada quando o cliente me manda aquele: “tava uma delícia, Gaby!”.
O tempo vago também me fez descobrir novos talentos: a pintura e o artesanato. Além de serem um relaxamento para a alma e um carinho no ego toda vez que finalizamos um trabalho lindinho, eles têm me dado um complemento de renda. Não dá para viver disso, mas sempre que entra aquele trocado a mais faço uma festinha.
De macarrão a tiaras infantis vou tirando o que preciso para viver e, depois de 8 meses nessa experiência, posso afirmar que é bem menos do que eu imaginava ser necessário. Em todo esse período que estou em casa, só comprei 3 peças de roupa, pois tudo o que eu já tinha vai durar uma eternidade agora apesar de pensar, quando ainda trabalhava, que não tinha roupa nenhuma no guarda-roupa. A fanática por sapatos se aposentou. Parei para prestar atenção outro dia desses e me dei conta que só uso 4 pares dos 20 que tenho.
Nessa descoberta, passei a encontrar novos usos para as minhas coisas e me desapeguei do que não preciso. Com as roupas e sapatos de “super executiva” fiz um grande bazar. Tudo baratinho para me render um troco e também deixar as peças felizes por achar um novo lar onde seriam necessárias. Algumas roupas não foram vendidas, mas recorri às tesouras da minha costureira para dar a elas uma cara que combinasse mais com o meu novo estilo de vida.
De mudança em mudança fui chegando à conclusão que trabalhar fora custa caro… rsrsrsr. É tanta coisa que a gente tem que comprar e consumir para estar sempre como manda o figurino que é assustador! Fazendo um balanço, vejo que meu cartão de crédito é hoje 1/5 do valor de quando eu era funcionária.
A maior diferença, entretanto, foi na conta da farmácia. Minha planilha de orçamento pessoal tinha uma aba para esse tipo de custo de tão frequente que ele era. Eu simplesmente parei de ficar doente, não só porque não estou mais tão estressada, mas também porque passei a comer comida caseira todo dia e isso está fazendo toda a diferença.
De tudo, tenho observado que a maior mudança é que a palavra “preciso” saiu do meu vocabulário. Meu trabalho ficava perto de um shopping e todo almoço era lá porque a gente estava sempre precisando de algo: uma nova bolsa, um novo colar, mais um sapato, uma blusa específica que só vai ser usada com uma saia e ponto final.
As vitrines se apresentam com tantas novidades que nos sentimos como se, de fato, precisássemos de tudo aquilo para viver. O exercício de ter menos grana faz com que sejamos mais criativos com o que já temos e nos faz mais conscientes da necessidade de cuidar do que é nosso para que sua vida útil seja maior. Quando a renda não é certa, reaproveitar é a melhor economia.
Antes da mudança
Na costureira
Também percebi que boa parte do meu dinheiro era gasto em “recompensas” por fazer aquilo que eu não gostava. Saí tarde do trabalho? Vamos comer bem para compensar. A semana tá super estressante? Vamos viajar no finde para compensar. Rolou aquele feedback de chorar? Vamos comprar uma bolsa para compensar. Ao quebrar o círculo da recompensa passei a comprar apenas por necessidade e descobri que preciso de muito, mas muito menos do que eu sempre pensei que precisava.
Além da coragem de deixar para trás toda uma história construída, largar tudo também me ensinou que muitas decisões mais importantes que “rasgar o diploma” precisam ser tomadas quando buscamos outras formas de nos sentirmos mais feliz. Para conquistar alguns sonhos, outros têm que sair de cena. Ao escolher viver com menos para viver melhor eu tive que priorizar o destino do meu dinheiro e, para isso, deixei de lado o prazer de viajar, uma das coisas que mais amava na vida, e optei por continuar morando no meu mini puxadinho de 33m² na casa da sogra.
Ter casa própria, marido empregado e algum trocado pra dar garantia me deram, sim, a segurança financeira para seguir em frente com uma decisão tão ousada e tenho plena certeza do quanto sou privilegiada por ter pessoas ao meu lado, como a minha mãe e o meu santo marido, que compraram essa ideia comigo e também aceitaram mudar o estilo de vida para acompanhar esse novo ritmo.
Entretanto, acredito que o grande desafio na proposta de viver com menos para viver melhor não está em largar tudo, mas sim em me reinventar. Largar meu emprego foi o estopim, mas para chegar a isso eu precisei abandonar meus conceitos de consumo, meus objetivos inicialmente traçados e rever toda a forma como eu levava a vida. É claro que minha decisão não deixou minha mesa sem comida, mas meu alinhamento de expectativas foi do mais absurdo planejamento de viagem a cortar da lista do supermercado um simples iogurte por conta do preço. Ele agora é caro para a minha realidade e saber lidar com isso é que foi o grande aprendizado.
Criar uma nova relação com as coisas, usar os recursos de novas formas e mudar hábitos grandes e pequenos são agora exercícios diários pra mim. Ao experimentar essa nova vida sem excessos percebi o quanto a nossa relação com o dinheiro é limitante e nos torna pessoas muito mais preocupadas em ter do que ser. Não é fácil desacelerar e querer menos, até porque somos educados para fazer exatamente o contrário, mas chego à conclusão final de que todo o esforço até o momento tem valido muito a pena!
Todas as fotos © Gabriela Sipioni
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