Receber o diagnóstico de que o pequeno Miguel, hoje com três anos, é autista, não foi um grande problema para a paulistana Fernanda Poli. “Fiquei aliviada, sabendo que, a partir daquele momento, poderíamos ter o melhor acompanhamento possível”. Mas algumas dificuldades logo começariam a se revelar.

Fernanda e o marido decidiram mudar Miguel de colégio, pois consideravam que o alto número de alunos onde ele estuda seria prejudicial para seu desenvolvimento escolar. Ao procurar instituições de ensino que se enquadrassem no que desejavam, perceberam que haveria barreiras visíveis e invisíveis.
“Teve escolas que me deram o não logo de cara quando eu mencionei o autismo”, relata ao Hypeness. Mesmo escolas recomendadas justamente pela responsabilidade com a inclusão acabaram decepcionando Fernanda, que chegou a esconder a condição de Miguel até o último momento para tentar conseguir uma vaga no colégio de que mais gostou.

Após a revelação, porém, a matrícula, que parecia encaminhada, ficou distante. Segundo Fernanda, a direção da Escola Morumbi mudou de posição em relação ao filho depois de saber que ele era autista, o que a surpreendeu justamente pela fama de inclusiva. A mãe decidiu levar o caso à Diretoria de Ensino e ao Ministério Público.
Conversamos com Juliana Hanftwurzel, diretora da Escola Morumbi, que reafirmou o propósito de integração. Segundo ela, é diretriz do colégio garantir que os alunos com necessidade de inclusão tenham um bom desenvolvimento, e isso passa por equilibrar o número de crianças e garantir acompanhamento particular.
“A classe em que Miguel seria matriculado conta com cinco alunos, sendo um de inclusão”, explica. Como as pedagogas só ficaram sabendo do autismo do garoto ao final do processo, consideraram que aquela turma não seria adequada para ele. “Mas não negamos a matrícula. O que foi dito é que a mãe aguardasse e que, assim que houvesse uma turma adequada, entraríamos em contato para que a Fernanda trouxesse o filho”. Ela garante ainda que o procedimento é comum, e já aconteceu algumas vezes, sempre com a criança sendo matriculada após algum tempo.
A diretoria de ensino já visitou a escola após a denúncia e vai decidir se o que aconteceu foi um mal-entendido ou não. De qualquer forma, as barreiras encontradas por pais com filhos autistas não são poucas. Se foi difícil chegar a um entendimento com uma escola conhecida pelo comprometimento com a inclusão, imagine com as outras.

É por isso que Fernanda decidiu criar uma campanha para unir os familiares de crianças com autismo. Trata-se da #AutistaDeveEstudar, que ela lançou em seu blog Curtindo Com Crianças e no Instagram. O caso levou outras mães e pais a entrar em contato com Fernanda, relatando dificuldades parecidas – principalmente de escolas que se recusaram a atender os pais imediatamente ao ficar sabendo que os filhos eram autistas.
Fernanda pede que os pais não aceitem o ‘Não’ calados e busquem seus direitos – a lei garante que qualquer escola deve aceitar a matrícula de crianças com autismo, sob pena de multa para o descumprimento. Ela ainda lembra que a diversidade nas escolas faz bem a todos, inclusive às outras crianças.

Enquanto isso, Miguel segue matriculado na mesma escola onde estuda desde que tinha um ano e meio. Fernanda não tem nenhuma reclamação a fazer sobre o colégio, apenas prefere ver o filho em um ambiente mais tranquilo, com menos colegas e mais atenção. Ela segue procurando a escola ideal, enquanto torce para que a lei deixe de ser apenas algo escrito no papel.

Todas as fotos © Acervo pessoal/Fernanda Poli