O último rinoceronte-branco do norte macho do mundo está no Tinder, a fim de salvar sua espécie

Vitor Paiva  • Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Sudan tem 42 anos e está solteiro. Vive cercado por três seguranças 24 horas por dia, devidamente armados com escopetas e rifles, óculos de visão noturna, sem que ninguém possa se aproximar indevidamente. Não é exagero que se trata de um dos solteiros mais cobiçados do mundo. Mas ele não é um chefe de estado, um empresário bilionário ou coisa que o valha: Sudan é o último rinoceronte-branco do norte macho que se tem notícia.

Vivendo no Ol Pejeta Conservancy, uma área de proteção no Quênia, ele está em uma verdadeira campanha por reprodução.

Para tal, o Ol Peleja se junto a nada menos que o Tinder, para começar uma campanha de arrecadação de fundos, a fim de arrecadar 10 milhões de dólares, para realizar a fertilização in vitro.

As tentativas de acasalamento com as poucas fêmeas restantes foram frustradas. A segurança ao redor de Sudan é tão intensa para impedir que ele não seja abatido por caçadores atrás de seu chifre, que é vendido por até 100 mil dólares o quilo – mais caro do que ouro – por conta de suas supostas capacidades curativas.

No aplicativo, Sudan é descrito como um tipo único, que gosta de comer grama, relaxar na grama e, sem querer soa presunçoso (como diz o texto da campanha), “mas o destino da minha espécie depende literalmente de mim”. Ainda segundo seu perfil no Tinder, “Eu reajo bem sob pressão…tenho 1.83 m de altura e peso 2,2 mil kg, se isso importa”.

Os 42 anos de Sudan equivalem a 100 anos humanos, então há, além dos caçadores e das dificuldades de reprodução, a própria ameaça do tempo, e por isso a campanha é urgente.

Os usuários do aplicativo podem doar pela salvação da espécie, enquanto cientistas do mundo todo pesquisam meios para realizar a fertilização in vitro, jamais antes feita com rinocerontes.

E Sudan segue cercado, protegido e ameaçado, lutando contra a irrefreável ganância e ignorância humana, em busca de uma namorada para deixar no mundo uma herança verdadeiramente valiosa – a manutenção de sua própria espécie.

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