Nos filmes de terror ou suspense, os medos costumam se dar através de motes e contextos extremos e exagerados, com monstros, torturas profundas e horrores quase inimagináveis. Na vida real, porém, nossos medos, mesmo os mais infantis, costumam ser um tanto simples e verdadeiramente assustadores justamente em sua simplicidade. Foram esses medos “reais”, mesmo que distantes da realidade de fato, que o cartunista americano Fran Krause procurou retratar em sua série de tiras Deep Dark Fears (Medos profundos e sombrios).

Há um espelho no meu quarto. Eu tenho medo de que, enquanto estou dormindo/ meu reflexo se levante e me observe
Para levantar esse inventário de nossos medos, Fran começou por suas próprias fobias mais íntimas. Depois, ele pediu que pessoas lhe enviassem seus medos mais estranhos e irracionais, e assim ele alimentou as tiras de sua série.

Eu moro sozinho/ Quando tenho que ir ao banheiro tarde da noite/ tenho medo de voltar pra cama/e ter alguém me esperando lá
Entre medos bobos e infantis, outros inexplicáveis e loucos, os medos explorados por Fran possuem entre si duas coisas em comum: a capacidade de nos identificarmos com eles (e até mesmo reconhecermos nossos medos ali), e o fato de, no fundo, serem verdadeiramente assustadores.

Às vezes, quando estou fazendo cocô/ tenho medo que, naquele momento/ seja um sonho e eu esteja na verdade fazendo cocô nas calças em outro lugar.

Quando digo ‘oi’ para as pessoas, e elas não respondem/ tenho medo de estar morto, mas ainda não saber

Quando era criança, um padre me contou sobre Maria/ Como Deus pensava que ela era perfeita, e então a engravidou/ Eu não queria que Deus me engravidasse/ então tentei ser diferente dela.

Eu tenho medo de minha vida ser uma ilusão/ ser tudo um sonho/ Tenho medo de um dia acordar e perceber/ que sou somente um cachorro cheio de imaginação

Se caio no sono/ com meu braço pra fora da cama/ algo embaixo da cama/ segura minha mão enquanto eu durmo

Jesus vive dentro de você!/ Ele vive profundamente em seu coração
Eu espero nunca me tornar uma pessoa velha que faz com que as crianças tenham medo de ficar velhos

Às vezes eu sinto que as pessoas estão lendo minha mente/ Então eu penso em algo engraçado/ Assim, se alguém escutando rir/ eu saberei

Quando eu acordo/ abro meus olhos bem devagar/ para que qualquer coisa que esteja em quarto/ tenha uma chance de se esconder

Eu costumava morrer de medo do escuro/ Meu pai então me comprou estrelas que brilham no escuro/ Elas me fizeram bem melhor/ até que eu vi duas estrelas piscarem

Algumas coisas que eu vejo durante o dia não me assustam em princípio/ Parecem inofensivas/ Mas cada vez que lembro delas, elas pioram um pouco/ até que se tornam as coisas que me deixam acordado a noite toda

Às vezes eu vejo um pequeno objeto/ E sinto como se fosse o parafuso que mantém todo o universo unido/ e que se eu tocar só um pouquinho…
Não importa quantas camisetas eu vestir/ ou com quantas camadas de roupa eu me cobrir/ eu sempre sinto que todo mundo pode ver meus mamilos

Minha visão é tão embaçada, que quando acordo no meio da noite/ tudo parece um monstro até que eu vista meus óculos

Um dia/ vou me olhar no espelho/ e não me reconhecer mais

Toda vez que ligo um novo interruptor/ e nada acontece/ temo que esteja desligando algo bom/ ou ligando algo ruim

Quando era criança/ sempre abraçava minha mãe quando chegava em casa/ e puxava um pouquinho da pele do seu braço/ só pra ter certeza de que ela não era um robô

Depois de lavar minhas mãos, eu as seco várias vezes/ para que nenhuma gota/ encoste no interruptor
Quando estou dirigindo de noite e há neblina na estrada/ eu tento não passar através dela/ Não gosto de sentir como se estivesse atravessando um fantasma

© Arte: Fran Krause