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Uma campanha política para presidência que não visa exclusivamente ganhar a eleição, que se apresenta de início admitindo que nem o candidato nem o partido em questão serão a solução – mas sim que a resposta está em cada pessoa, em cada um de nós, e na mobilização popular – e que pretende, mais do que vencer, levar informações, debate e, pasmem, escutar o povo como principal objetivo – informação e formação, colocando o propósito eleitoral em segundo plano.
Para completar, a candidata é uma mulher, uma liderança indígena. Assim é a candidatura de María de Jesus Patricio Martinez, mais conhecida como Marichuy Patricio, escolhida pelo Congresso Nacional Indígena, movimento que reúne quase 500 tribos mexicanas, para representar o povo indígena e o movimento zapatista nas eleições presidenciais no México, em 2018.
Medica tradicional e ativista pelos direitos humanos, aos 54 anos Marichuy sabe que ainda tem muito chão pela frente para conseguir sequer formalizar sua candidatura, quanto mais de fato ser eleita. Participante desde 1994 do Movimento Zapatista no México – frente de esquerda e indígena, inspirada na luta de Emiliano Zapata contra o regime autocrático do presidente Porfírio Diaz, que deu início à Revolução Mexicana, em 1910 – Marichuy e os zapatistas ainda seguem recolhendo assinaturas para conseguirem oficializar a candidatura, que pretende sair independente nas eleições que acontecerão em 3 de junho do ano que vem.
Para uma candidatura independente de fato acontecer, é preciso apresentar 866.593 assinaturas até 13 de fevereiro – até o momento foram recolhidas somente pouco mais de 22 mil. Se a candidata dos zapatistas sabe que o caminho, portanto, é longo, suas origens e aspirações de governo a colocam, em princípio, como representante natural de 15 milhões de indígenas no país. Essa também, contudo, não é a tarefa simples que parece, pois essa população é naturalmente uma fatia em verdade plural, não-uniforme, dividida em culturas diversas por todo o país – parte do trabalho da campanha de Marichuy é articular essa comunidade e convoca-la a participar das eleições.
Quando os zapatistas e o Exército Zapatista de Libertação Nacional surgiram para o mundo, armados e com o rosto coberto, ao redor da mítica figura do subcomandante Marcos (espécie de Che Guevara mexicano, sempre encapuzado com seu cachimbo na boca em aparições públicas), lutando contra o NAFTA (acordo de livre comércio entre o México, os EUA e o Canadá) em janeiro de 1994, a defesa da autonomia, da liberdade e da participação popular, trazendo à luz do mundo a luta indígena no país, eram a pauta central.
O EZLN nos anos 1990
Na campanha de Marichuy, as armas saem do protagonismo, mas tais pautas permanecem – o meio, no entanto, se transformou. Agora eles querem oferecer ao povo mexicano uma candidata, mulher e indígena, para implantar no país, através do processo eleitoral, o “bom governo” zapatista que já existe nos chamados “caracóis”, pequenos territórios no estado de Chiapas, batizados de “municípios autônomos rebeldes zapatistas”, onde os zapatistas governam pela coletividade e o desejo popular.
O subcomandante Marcos
Os princípios do “bom governo”, contrários à globalização, ao neoliberalismo em nome da justiça, da democracia e da liberdade para todos (e não apenas para os ricos, como frisa o movimento) são divididos em sete pontos: servir e não servir-se, construir e não destruir, obedecer e não mandar, propor e não impor, convencer e não vencer, baixar e não subir, e juntar e não isolar.
Placa em um ‘caracol’ na região de Chiapas. ‘Aqui manda o povo e o governo obedece’.
Marichuy seria, portanto, uma representante de todos, segundo a liturgia zapatista, como uma voz para falar a voz do povo – o compromisso é, segundo a própria cartilha, “mandar obedecendo”. “Não estamos em uma campanha eleitoral, mas em uma campanha pela vida”, afirmou um representante do povo yaqui assim que o nome de Marichuy foi confirmado.
No lugar das campanhas individuais, os indígenas zapatistas buscam organizar o povo para desmontar o poder e os métodos de governar. A ideia é, portanto, uma mudança radical, comunitária, coletivista, colocando a mulher em destaque, com grupos de trabalho para levar o debate a todo México a respeito da terra e do território, autonomia, os jovens, diversidade sexual, justiça, trabalho e exploração. “É um caminho coletivo e, não se confundam, não é uma luta pelo poder, mas uma luta civilizadora”.
Passadas mais de duas décadas desde o levante zapatista de 1994, se Marcos hoje não é mais a mesma figura aurática dos anos 1990, a situação indígena no país permanece crítica, com uma população enorme vivendo em sua maioria abaixo da linha da pobreza. A eleição de 2018 é a primeira na história do México em que candidatos independentes poderão participar e, ainda que o objetivo seja, nas palavras da própria Marichuy, “estragar a festa” que são as eleições para as elites, o norte maior, segundo o movimento, é organizar as comunidades e levantar o debate para que o povo possa propor um novo modelo de governo para o futuro.
Marcos falando para uma multidão na Cidade do México
A resistência contra a candidatura é forte, não só da situação, como da própria esquerda – que vê na campanha uma força de desarticulação e descentralização da esquerda no país para a eleição de um possível candidato progressista – e até mesmo de instituições bancárias, como o HSBC, que foi acusado pela própria Marichuy de ter se negado a abrir uma conta para a campanha. A tarefa, portanto, de fazer a campanha ao menos existir já é hercúlea e parece um tanto utópica, assim como o sonho de deixar o capitalismo em nome da justiça, da natureza, da igualdade.
Mas, se para começar tal jornada, é preciso mobilizar e bagunçar o status quo político, isso a candidata já vem fazendo e, um pouco como tentou Bernie Sanders nos EUA, quem sabe sua popularidade – em alguns “caracóis” Marichuy já reuniu mais de 10 mil pessoas sob o sol para ouvi-la falar – não obrigue ao menos que as pautas do establishment mexicano se inclinem na direção de um pouco mais de solidariedade e igualdade para os povos pobres e indígenas no país.
O herói mexicano Emiliano Zapata, inspirador do movimento
“Embaixo, desde o fundo da terra, a dignidade está nascendo num novo mundo em meio à destruição, à dor e à raiva de nossos povos, dos campos e das cidades. Do povo trabalhador que é explorado até a morte, despojado de tudo o que tem, reprimido por pensar e rebelar-se, depreciado por ser diferente, por ser pobre, por ser mulher, por falar na nossa própria língua, por dizer a verdade, por olhar para baixo e não para cima, por voltar a ver a companheira e o companheiro em vez do amo, o cacique, o patrão, o mau governo. Por isso dizemos novamente que no relógio disso que chamamos humanidade, agora se marca a hora do que somos, do que fomos e do que seremos”, disse Marichuy.
Se o México terá oficialmente uma candidate mulher e indígena, que dirá uma presidenta, isso só os próximos meses e a mobilização da campanha dirão. Mas Marichuy já é uma liderança real, um assunto, uma pedra no caminho da manutenção da velha política mexicana – e isso, queira ou não, é uma concretização em realidade daquilo que sempre pareceu somente utopia.
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