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O dinheiro que hoje rege nossas vidas um dia foi uma abstrata invenção, que precisou ser acordada, convencionada e regulada entre todo mundo para que pudesse de fato ter valor – é essa convenção, esse grande “acordo”, que sustenta o valor do dinheiro até hoje.
Quem via, pouco tempo atrás, o Bitcoin – essa tal “moeda digital” – como uma maluquice sem futuro, hoje engole o amargor do sorriso largo de quem investiu na criptomoeda, e que agora, com sua valorização cada vez maior, ri melhor por rir por último – um bitcoin agora vale mais de 11 mil dólares.
Mas e se o Bitcoin for somente uma parte de uma revolução ainda mais impactante, que pode mudar tudo que entendemos como posse, confiança e transações de todos os tipos?
Mais do que a moeda digital propriamente, a grande revolução por trás do Bitcoin está em sua engenharia computacional, no sistema e na maneira de realizar e validar essas transações – e isso é o Blockchain, ou a engenharia por trás do Bitcoin.
O assunto é tão quente que será um dos destaques dentro da parte de conferências, tecnologia e tendências do festival South By Southwest, o SXSW, em março desse ano em Austin, Texas, nos EUA. Todo ano o festival aponta as mais fortes tendências nessas áreas, e o Blockchain é visto como uma das mais importantes novidades em programação e economia pelo festival.
Uma série de palestras e experimentos estudarão o futuro do dinheiro e o potencial do impacto global que tal novidade pode causar.
As sessões de encontros e palestras referentes à tecnologia do blockchain do SXSW serão divididas em diversos temas, a fim de dar conta da complexidade do tema e dos mil impactos potenciais que tal novidade pode trazer.
1. Blockchain público e acessível para todos
Joseph Lubin, criador da cripto-moeda Ethereum e fundador da ConsenSys, por exemplo, vai ao festival defender sua criação e o quanto o bitcoin pode descentralizar o futuro. Ele, claro, vai fazer propaganda de seu produto também, já que a mesa ganhou o nome pouco singelo de “Por que o Ethereum irá mudar o mundo“. A ideia principal de Lubin é falar sobre um blockchain que pode ser acessado publicamente e sem permissão de qualquer lugar do mundo e como isso vai se desdobrar nos próximos anos provocando um hecatombe nas formas tradicionais de economia. Para Lubin, a confiança seria o ponto central da revolução das criptomoedas. Será mesmo?
2. Um novo sistema financeiro nascido das criptomoedas
Já Neha Narula, diretora de pesquisas sobre moeda digital no Massachusetts Institute of Technology, o MIT, irá participar, no SXSW, na sessão “Criptomoedas: um novo futuro para o dinheiro“. O ponto de partida da pesquisadora é que, ao misturar dinheiro e software, as criptomoedas permitem novas formas de transações digitais confiáveis. Narula joga luz na possibilidade de um novo sistema financeiro construído pelas criptomoedas e descreve o que MIT já sabe sobre o futuro do dinheiro e para onde devemos ir.
3. Blockchains vão virar as novas ‘leis’?
Para saber como o dinheiro “programável” pode criar novas possibilidades dentro dos sistemas econômicos, a sessão mais indicada do SXSW é “Bitcoin e o novo mundo do dinheiro programável“. A mesa discute até onde o “dinheiro programável” pode ser usado para criar novos incentivos nos sistemas econômicos e se é possível que um tipo de código – como é o bitcoin – consiga substituir as leis monetárias que temos atualmente. A mesa discutirá os prós e os contras da ideia de vivermos em um mundo de moedas programáveis e novas leis que nasceriam com elas.
4. Criptomoedas contra as fake news?
O que o Blockchain pode significar para a mídia e para entretenimento? A pergunta parece vaga, mas a promessa é de que as criptomoedas podem ser fontes importantes de financiamento. A ideia mais promissora para produtores culturais e veículos alternativos é a de rastrear vendas e distribuição na Internet, mas também conseguir monetizar conteúdos e projetos independentes, protegendo os direitos autorais e, na melhor das hipóteses, fazer uma contrarrevolução na ofensiva das “fake news”. Será que os novos barões da mídia nascerão das criptomoedas e vão querer apostar na cultura e na difusão de informações confiáveis? Só o futuro dirá.
“The Blockchain rises“ (“O Blockchain emerge”, em tradução livre) é o nome dado ao conjunto de mesas e encontros para falar das criptomoedas no SXSW. As sessões sessões acontecem entre os dias 14 e 15 de março.
Quando a misteriosa pessoa que criou o Bitcoin (que ninguém sabe a real identidade, mas que é referido na rede como Satoshi Nakamoto, supostamente um homem nascido em 5 de abril de 1975 que vive no Japão), em 2008, sua ideia era cortar o intermediário em transações financeiras e não mais depender de bancos, empresas, governos e outros intermediários.
Assim nasceu a moeda digital. Mas como cortar o intermediário e confirmar o valor, a confiança e a segurança de tais transações? Por meio das pessoas diretamente em seus computadores espalhados pelo mundo. A confiança seria recompensada em bitcoins para comprovar e validar as transações. Esses são, a grosso modo, os “mineradores” de bitcoins.
Para que tais transações possam ser realmente seguras e determinadas, elas são registradas em “blocks” (daí o nome ‘blockchain’), espécie de livro de contabilidade digital, um registro contábil virtual, alinhado através de tecnologias e matemáticas complexas pelo mundo todo, que justamente registra “em pedra” essas transações, através da confirmação dos mineradores.
Enquanto os registros contábeis como conhecemos hoje – de bancos, empresas e governos – normalmente não podem ser acessados e quedam isolados do grande público, o “livro contábil digital” do Blockchain é aberto e pode ser auditado por qualquer um, através de simples acessos a sites. É como se cada minerador tivesse uma versão integral desse grande livro que, pelo alinhamento tecnológico e matemático, só pode ser alterado em todas essas versões. Com isso, se alguém tenta adulterar ou burlar o sistema em favor próprio, os outros livros não reconhecerão essa alteração, não chegarão a um consenso, e a transação em questão não será aceita. Todo esse esquema é, a grosso modo, o Blockchain (também conhecido como “protocolo de confiança”).
Trata-se, portanto, de uma grande rede composta por colaboradores independentes que, em troca de recompensas em bitcoins, valida, registra e, assim, cria a confiança sobre tais transações e até sobre o valor da moeda digital. Todas as transações reconhecidas ficam registradas com informações gerais (como data, hora, participantes e quantias), sem informações comprometedoras (como nome, e-mail ou telefones) mas com uma assinatura digital (as hashs) única, que não pode ser corrompida, reutilizada nem alterada. A necessidade de que os mineradores “concordem” com tal transação faria da rede algo realmente confiável, como uma “verdade” virtual que garante o sistema.
Acontece que o aspecto monetário do Bitcoin ou das criptomoedas é somente uma pequena parcela do imenso universo de possibilidades que o sistema do Blockchain oferece. Através dele os usuários podem decidir o que um Bitcoin representa – podendo ser uma quantia em dinheiro, mas também uma propriedade física, intelectual, ou o que mais for acordado; para o tal livro digital, isso não importa. Um bitcoin é divisível em 100 milhões de unidades, e cada unidade é identificável e programável, podendo “valer” o que os usuários quiserem – centavos, ações de uma empresa, energia, ou um certificado, e muito mais.
O dinheiro assim, se tornaria smart – mais inteligente, automatizado, versátil, podendo ser “programado” não só para outros valores, objetos e convenções de valor, como também para funções específicas, que podem ajudar a combater a corrupção e a burocracia. Torna-se possível, por exemplo, estabelecer um destino único para cada parte de um orçamento – determinando que o valor “x” será utilizado para pagar salários, outro para gastos, outro para investimentos, de forma inviolável e inalterável. Da mesma forma, é possível estabelecer que um dinheiro investido necessariamente volte ao provedor no caso de alguma irregularidade, e assim por diante. Com isso, diminui-se a burocracia, o espaço para irregularidades, os custos, e ganha-se tempo.
Não é por acaso que grandes empresas de cartão de crédito e até mesmo grandes bancos começam, enfim, a não só desenvolver tecnologias similares para seus sistemas, como até mesmo a utilizarem o próprio Blockchain e o Bitcoin em suas transações e negócios. E, com isso, as possibilidades são infinitas: propriedades, direitos autorais, registros, bolsas, prêmios, tudo pode ser contabilizado, realizado e registrado através do sistema.
Quando se diz que não há limites nas possibilidades de uso do sistema, os especialistas estão falando sério: o governo de Honduras, por exemplo, já estuda usar o Blockchain para registro de propriedades no país. Com isso, os custos se tornariam muito mais baixos, menos burocráticos e mais seguros – especialmente em um país instável e tradicionalmente pouco seguro. O sistema traria segurança, por exemplo, em possíveis apropriações, desapropriações e intervenções sobre propriedades em geral, em especial para populações mais pobres, segundo especialistas.
Em Honduras, estuda-se o uso do Blockchain para registros de propriedades
É natural que ainda aja muita desconfiança sobre a utilização em larga escala de tal sistema – afinal, por mais “aberto” que o sistema seja, sua estrutura e engenharia funcional é de difícil leitura para a maioria, e sempre existirão os hackers, cada vez mais capazes e hábeis, assim como novos interesses empresariais ou mesmo individuais para se enriquecer de modo ilícito ou ao menos desigual. Os mais cínicos afirmam que o Blockchain não passa de inteligência artificial, que pode sim ser corrompida. Já os otimistas e radicais afirmam se tratar da maior novidade desde o surgimento da internet, que irá acabar com os bancos e diversas outras empresas.
De toda forma, é difícil supor um sistema mais injusto e exploratório que o atual sistema financeiro com que lidamos diariamente. Substituir bancos, financiadoras, empresas em geral pela ação e regulação das pessoas diretamente parece sim ser uma possibilidade revolucionária, que pode mudar tudo que entendemos até hoje como economia, transação e confiança.
Para começar a tirar um pouco dessas dúvidas, o SXSW fez suas apostas. Em alguns dias saberemos um pouco mais. E traremos as novidades para vocês por aqui.
Entre a invenção da roda e o lançamento da primeira nave espacial, uma coisa continua a mesma: a vontade humana de se recriar e ser impulsionada adiante.
Assim é o SXSW 2018. E esse é o DNA Hypeness.
O futuro é mais rápido, desafiador e inspirador do que se poderia imaginar. E é por isso que nossa passagem por Austin, para ver o SXSW de pertinho, tem um só objetivo: trazer para você hoje o que pode mudar o mundo amanhã.
Bora descobrir qual será a próxima grande ideia?
Nossa cobertura é um oferecimento Tinder.
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