Viagem

As viagens lúcidas que tive no Psicodália 2018

16 • 02 • 2018 às 14:41
Atualizada em 19 • 02 • 2018 às 11:19
Camila Garófalo
Camila Garófalo Camila Garófalo é cantora, compositora e publicitária. Produz sua própria carreira e escreve sempre que sente vontade. Tem um único vício: comunicar-se.

Mais de seis mil pessoas acamparam na Fazenda Evaristo nos últimos cinco dias de carnaval. Era minha primeira vez no Psicodália, festival multicultural que acontece já há dezessete edições na cidade de Rio Negrinho, próxima à Curitiba (PR). Era também a minha primeira vez no Sul, ou seja, muita novidade e informação (e araucárias!) para absorver nesse lugar que tanto me disseram ser mágico. E realmente era. (As fotos que você vê a seguir são da equipe do Dália: Ana Teresa, Gabriela Moreno, José Tramontin, Nicolas Salazar e Rodrigo Fávera)

Bernardo Bravo e Maria Gadú

Nesse ano mais de 200 atrações passaram por lá, considerando shows, teatro, oficinas e até cinema. É claro que foi impossível acompanhar tudo mas estar presente e fazer parte desse turbilhão cultural deixa qualquer um inspirado. A começar pelo ritual de acampar, que envolve uma série de noções de responsabilidade social e convívio em comunidade (aprender a não demorar no banho, por exemplo). Montamos nossa barraca e ali começou nossa aventura.

Eu na minha casa

Vizinhança, as minas da banda Mulamba

As apresentações musicais se dividiram em quatro palcos: Palco do Sol (que virava Palco dos Guerreiros na madrugada), Palco Lunar e Palco do Lago. Tinha ainda outros palcos alternativos como o do camping dos Mutantes, ou ainda o palco do Teatro onde aconteceram as festas inusitadas da programação. Entre os nomes do estavam os grandes Zé Ramalho, Jorge Ben, Tulipa Ruiz, Bixiga 70, e ainda as bandas ascendentes Mulamba, Ventre, Francisco El Hombre, Quatro Pesos de Propina e outras tantas maravilhosas.

Mulamba

Zé Ramalho

Juliana Strassacapa da banda Francisco El Hombre

Arrigo Barnabé ao lado de Maria Beraldo e Joana Queiroz

Luiza Brina da banda Greveola

Jorge Ben Jor

“Eu gosto de ser público e artista ao mesmo tempo. Um festival local profissionaliza toda uma cadeia de pessoas ligadas à música e também inspira as pessoas a buscar bandas e a se interessar por cultura. É uma peça chave. Por isso que nossa banda sempre procura circular através de eventos como esse. Você tem que ir pra sentir como público, tem que ver, entender como funciona. É importante colaborar nesse sentido, inclusive assistir os shows dos seus amigos, apoiar o outro. Pra mim foram dias mágicos, utópicos, sem celular, vivendo inteiramente de música e amor. Agora estou voltando pra realidade muito mais inspirada para fazer o meu disco solo” (Larissa Conforto, baterista da banda Ventre).

Larissa Conforto da banda Ventre – e minha miga – em ação!

Assim como Larissa, a cantora e compositora curitibana Ana Larousse também já foi público e atração no Psicodália (ambas, inclusive, foram minhas vizinhas de barraca no camping Tutti Fruti). “Mesmo que esse ano eu não tenha tocado no Psicodália me senti presente nos palcos pois vi neles colegas e parceiros cujo trabalhos acompanho há muito tempo”, me conta. Ana me apresentou nossa vizinhança, suas amigas e integrantes da banda Mulamba que tocou no Palco do Sol. “Não tem como deixar de falar sobre o aumento do número de mulheres entre as atrações. É claro que ainda é muito pouco. Mas já consigo sentir que estamos indo na direção certa”.

Nosso bonde: Eu, Ana Larousse, Larissa Conforto e Carol Navarro

Além da música outras artes tornaram ainda mais rica a experiência: yoga, cortejo circense, meditação, fotografia, maquiagem artística, recreação infantil, Desafio da Cerveja, sessão de curtas, dança, xadrez, ciranda e um tanto de outras atividades criativas. Imagina ter tudo isso pra fazer e ainda se refrescar num lago maravilhoso com circuito de obstáculos para tornar tudo ainda mais incrível? Parece viagem mas é exatamente isso que o Psicodália propõe: viagens, muitas viagens.

A preocupação com a sustentabilidade também estava em pauta. O Biodália é um projeto desenvolvido especialmente para o Psicodália que se solidifica em três setores: Banheiro Seco que economizou 60 mil litros de descarga, a Composteira que gerou sete toneladas de adubo e o Lixo Zero, que contou com o apoio de 16 monitores especialistas em agronomia. Todos esse benefícios só se intensificam ao sabermos que o Psicodália criou esse ano trezentos empregos diretos.

Outro ponto não menos importante foi o serviço de pronto socorro prestado aos campistas. A Carol que o diga. Nossa quarta integrante da turma e vizinha de barraca (e baixista da banda Supercombo!) tropeçou na barraca de outros vizinhos, caiu no chão e quebrou dois dedinhos. “Quem prestou meu primeiro socorro foi a médica Ana Luiza. Assim como ela, todo o pessoal foi muito solícito, viraram meus amigos”, conta. Depois descobri que nunca houve um caso grave no Psicodália. “Nunca tivemos um caso de overdose ou de coma alcoólico, por exemplo. Trago meu filho todos os anos para o Dália e não tive problemas”, diz Bina Zanete Coordenadora do Festival.

Carol com os dedinhos quebrados, eu e Eliara

E nesse clima de música e união passaram os cinco dias de carnaval. Eu, minhas amigas e mais seis mil pessoas engajadas e lúcidas (sim, lúcidas – em pleno Psicodália!). Não é a toa que estamos falando de um festival totalmente independente de marcas e corporações capitalistas:  “A gente trabalha sempre com hipóteses. É o público que paga e só ficamos sabendo se pagamos as conta na semana do evento. Essa é a nossa bandeira de resistência”, emenda Bina. “O Psicodália nasceu porque a gente queria um palco para nossa banda tocar. Começou assim” diz Alexandre Osiecki, criador do festival. Em 2018 foram mais de 1200 inscrições e, como referência, ele trouxe pelo menos uma atração de cada feira e festival que descobriu em 2017. Esse é o segredo do Psicodália: “Você tem que se dedicar exclusivamente pra isso”, finaliza.

Alexandre e Bina

 

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