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Se hoje o futuro é um conceito presente de forma natural em nosso dia a dia, tomado por impressionantes tecnologias e retratado em filmes como algo que sabemos que em breve virá – como se vivêssemos cotidianamente naquilo que os filmes de ficção científica do passado sugeriam como algo distante e fantasioso -, em 1968 não era possível sequer saber muito se haveria qualquer futuro: o contexto político era caótico e explosivo (e, nesse sentido vale perceber que voltamos a pontos similares atualmente) e coisas como inteligência artificial ainda não passavam de delírios criativos de artistas.
Foi nesse ponto da história que um dos maiores filmes de todos os tempos foi lançado, em 2 de abril de 1968: dirigido por Stanley Kubrick, 2001 – Uma Odisseia no Espaço, completou 50 anos de seu lançamento ontem.
Trata-se de uma obra que transformou não só a maneira com que os filmes eram feitos, mas também como eram vistos, e as próprias possibilidades críticas, discursivas, reflexivas e estéticas que um filme comercial e caro poderia oferecer. A decisão de localizar o filme não em um futuro fantástico, onírico e utópico, mas sim em algo um tanto realista e possível, baseado na própria corrida espacial que então ocorria a todo vapor à época da feitura do filme (Kubrick contou com a ajuda não só de engenheiros e astronautas da NASA como do astrônomo Carl Sagan para desenvolver as noções de espaço, inteligência artificial e vida alienígena no filme) revolucionou a noção de filmes espaciais e de ficção científica, e abriu espaço para que a obra se tornasse uma imensa peça de reflexão sobre a existência, a evolução, tecnologia, solidão e o futuro.
Tudo isso com o brilhantismo e o esmero estético e cinematográfico de Kubrick por trás de cada detalhe. Também participou da concepção e do roteiro do filme o grande autor de livros do gênero Arthur C. Clarke – foi Clarke que escreveu o conto “The Sentinel”, no qual o filme foi livremente inspirado. O livro de mesmo, também de Clarke, foi escrito em paralelo com a produção e lançado também em 1968.
Kubrick durante as filmagens de 2001
Explicar a trama de 2001 não é simples, e essa parte do texto conterá spoilers (o filme, porém, já completa 50 anos, afinal).
Partindo do início do filme – uma das sequências mais icônicas da história do cinema – o que se vê é uma espécie de compreensão de toda a evolução humana, em um dos mais radicais e belos cortes já vistos em filme: um grupo de hominídeos (os macacos) há milhões de anos se depara com um imenso e negro monólito, que serviria como uma espécie de elo perdido da evolução, pois diante do impacto daquela presença e da sensação de toca-lo, eles descobrem como manusear um osso como uma arma, e assim afugentam a tribo inimiga, que os ameaçava.
Acima, o monolíto; abaixo, os hominídeos (ou macacos) após a descoberta
Um corte súbito “salta” milhões de anos, do hominídeo em êxtase atirando o osso para cima, para uma nave espacial à deriva no espaço.
O filme é de certa forma dividido em quatro partes: a aurora do homem, nesse início ancestral; a segunda parte passada dentro de um avião espacial da Pan Am que leva um personagem a uma estação espacial na órbita da Terra, na qual descobre-se que uma estranha epidemia está se espalhando pela base; uma viagem a Júpiter, a bordo da Discovery One, dirigida e controlada pelo computador HAL 9000 – que, através de sua inteligência artificial, se “rebela” contra os astronautas, até que é sumariamente “desligado”, não sem antes tentar manipular o astronauta, pedir por misericórdia e demonstrar medo com sua voz monocórdia e constante, em uma das mais estranhas e comoventes cenas de ficção científica que se têm notícia.
Na quarta parte, um outro monólito é encontrado em Júpiter, e o processo mais metafórico, poético e reflexivo do filme tem início.
A sequência final sendo filmada pela equipe do filme
O astronauta Bowman, depois de uma espécie de viagem em alta velocidade pelo tempo e espaço, encontra consigo mesmo na meia-idade, depois com versões idosas de si, até se encontrar com sua versão à beira da morte, em uma cama – o monólito negro está ao lado da cama. Ao se aproximar, o monólito se transforma em um feto humano, que flutua no espaço contemplando a Terra.
O filme alcançou sucesso comercial à época mas, antes de se tornar um dos mais celebrados e, para muitos, o melhor filme de todos os tempos, a recepção da crítica a 2001 foi um tanto dividida quando de seu lançamento. Muitos consideraram o filme hermético ou exagerado, enquanto o outros, já em 1968, o celebravam como o filme mais extraordinário já feito. Hoje a obra-prima de Kubrick é visto como um dos pontos altos artísticos do século 20, apontando poeticamente e reflexivamente para o futuro e o passado, e refletindo sobre as relações humanas e a tecnologia com uma beleza e uma contundência até hoje intocada.
Um “encontro” no set de filmagem que define a ambição de 2001
São diversas as inovações cinematográficas e as “previsões” tecnológicas apontadas em 2001. Um dipositivo como o Ipad e outro capaz de realizar ligações em vídeo estão presentes no filme; telas de entretenimento, com filmes para entreter passageiros em um voo também aparecem, assim como a própria chegada do homem à lua e da própria reinvenção de todo um gênero cinematográfico. O filme foi indicado para quatros Oscars, vencendo o de Melhor Efeito Especial.
O sucesso de um filme tão profundo, belo e reflexivo fez de 2001 provavelmente o filme que mais serviu de base para interpretações, teses, teorias e leituras – das mais impactantes e importantes às mais malucas. A qualidade, a precisão técnica e até astronômica, a beleza com que Kubrick filmou as tomadas de astronautas no espaço em seu filme fez com que, um ano depois, quando Neil Armstrong se tornou o primeiro homem a andar na lua, nascessem as primeiras teorias conspiratórias sobre a viagem da Apollo 11 ser, em verdade, uma farsa forjada pelo governo americano. Para realizar tal imensa encenação, a NASA e o governo americano teriam contratado por milhões ninguém menos que Stanley Kubrick, a fim de produzirem o material audiovisual da chegada do homem à lua, e com isso dar a vitória da corrida espacial contra os russos aos americanos.
Não é preciso perder tempo refutando o óbvio sobre quão desconectada da realidade é essa teoria – além das milhares de comprovações efetivas sobre a ida do homem à lua, o quão custoso seria forjar todos os vídeos (à época impossível em termos de gastos, de câmera, de iluminação e efeitos especiais), além da necessidade de envolver milhares de pessoas em uma mentira por cinco décadas, para não falar sobre a própria posição do diretor, ficando somente na primeira camada da teoria – o importante é reconhecer o impacto de 2001 no inconsciente coletivo. O filme parecia de tal forma dar vida ao impossível, que quando o impossível se fez possível e o homem de fato voou até a lua, o crédito para muitos foi dado ao talento de Kubrick.
O filme hoje foi restaurado, e muitas cidades do mundo estão exibindo-o novamente, por conta das comemorações de seus 50 anos. Quem tiver a oportunidade de assisti-lo na tela grande, mais do que valer a pena, se verá diante de uma experiência cinematográfica singular e profunda.
Ver 2001 – Uma Odisseia no Espaço nos cinemas, mesmo passadas cinco décadas de sua feitura, e poder mergulhar de corpo inteiro em tal obra-prima, é poder justificar a existência do cinema enquanto forma de arte, como se tudo que fora feito antes do filme existisse para que pudéssemos chegar àquele momento – e tudo que veio depois, se desdobrasse e se curvasse em reverência. O futuro, afinal, também foi criado por Kubrick.
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