Debate

‘Escolhi a dedo com quem misturar’: Dentista é acusada de racismo contra bebê

13 • 04 • 2018 às 15:17
Atualizada em 13 • 04 • 2018 às 15:22
Kauê Vieira
Kauê Vieira   Sub-editor Nascido na periferia da zona sul de São Paulo, Kauê Vieira é jornalista desde que se conhece por gente. Apaixonado pela profissão, acumula 10 anos de carreira, com destaque para passagens pela área de cultura. Foi coordenador de comunicação do Projeto Afreaka, idealizou duas edições de um festival promovendo encontros entre Brasil e África contemporânea, além de ter participado da produção de um livro paradidático sobre o ensino de África nas Escolas. Acumula ainda duas passagens pelo Portal Terra. Por fim, ao lado de suas funções no Hypeness, ministra um curso sobre mídia e representatividade e outras coisinhas mais.

“Mais que doutorinha mais baixa essa hein? Já vi que você saiu da senzala porém a senzala ainda não saiu de você”.

A frase acima é atribuída a dentista Delzuite Ribeiro de Macêdo que está sendo acusada de crime de racismo contra um bebê. A situação, noticiada pelo Meio Norte, aconteceu em São Raimundo Nonato, a 522 quilômetros da capital piauiense Teresina, gerando o registro de um boletim de ocorrência feito pela também dentista Thaiane Neves.

Junto ao B.O a mãe da vítima anexou ainda outras provas, como as publicações feitas por Delzuite no Facebook contra a criança. Tem mais, de acordo com a advogada responsável pelo caso Cynthia Verena, esta é a oitava acusação de racismo contra a dentista.

Segundo a delegada, Delzuite Ribeiro de Macêdo deve ser presa por racismo

“Mais que doutorinha mais baixa essa hein? Já vi que você saiu da senzala porém a senzala ainda não saiu de você. Aí minhas amigas só me chegam com ‘amiga você viu que noiva feia’, ‘mulher como a filhinha de fulana é feia, você já viu?’ e eu só respondo, ‘não amiga, não me interesso por gente que nunca chegará ao meu tom de pele’. E se não querer misturar meu sangue for ‘preconceito’, sim sou ‘preconceituosa’. Mas abraço e beijo meus amigos de outras cores e coloridos. Mas escolhi a dedo com quem me misturar”, disse ela na rede social.

Para a delegada não existem dúvidas sobre o crime e que as publicações “atingiram toda uma raça”. Dizendo que “vai tomar todas as medidas cabíveis”, Cynthia frisou que a dentista não está mais na cidade, porém quando inquérito terminar “possivelmente será presa”.

Emmanuel de Castro, marido da autora da denúncia, disse que esta não é a primeira vez em que a família se vê ameaçada ou ofendida por Delzuite Ribeiro.

“Quando íamos passando eu, minha esposa com minha filha de um mês nos braços e minha irmã na poltrona traseira do meu carro, ela jogou uma tesoura tentando atingir a minha esposa e minha filha, por sorte conseguimos fechar o vidro do carro a tempo e a tesoura pesou no vidro. Logo mais à noite ela foi no Facebook e fez essas postagens sendo preconceituosa. Fomos na delegacia e entramos com processo de racismo e tentativa de homicídio”, concluiu.

O casal disse já ter sofrido outras ameaças da dentista

Ao ser questionada sobre o crime, a dentista disse que tudo não passa de calúnia. Delzuite declarou ainda que vai contratar um advogado junto ao Conselho Regional de Odontologia do Piauí (CRO-PI) para se defender das calúnias e difamações. Refutando o racismo, ela se justificou dizendo namorar um “moreno da cor de um chocolate”, ressaltando que se fosse realmente racista não namoraria uma pessoa morena.

Não custa lembrar que racismo é crime previsto em lei. O artigo 140 do parágrafo 3º do Código Penal, relaciona injúria racial aos crimes contra a honra e que atingem o conjunto de atributos intelectuais, físicos e morais de uma pessoa. A punição pode virar de 1 a três anos de reclusão ou multa.

Já o crime de racismo, está previsto na Lei n. 7.716/1989 e se caracteriza quando a ofensa discriminatória é contra um grupo ou coletividade. Como o ato de impedir negros de andarem livremente pelos lugares. Neste caso são de 2 a 5 anos de prisão ou pagamento de multa.

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Foto: Reprodução/Facebook


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