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Fake News: 4 dicas simples para desmascarar boatos no WhatsApp e nas redes sociais

07 • 05 • 2018 às 16:13 Gabriela Rassy
Gabriela Rassy   Redatora Jornalista enraizada na cultura, caçadora de tendências, arte e conexões no Brasil e no mundo. Especializada em jornalismo cultural, já passou pela Revista Bravo! e pelo Itaú Cultural até chegar ao Catraca Livre, onde foi responsável pelo conteúdo em agenda cultural de mais de 8 capitais brasileiras por 6 anos. Roteirizou vídeo cases para Rock In Rio Academy, HSM e Quero Passagem, neste último atuando ainda como produtora e apresentadora em guias turísticos. Há quase 3 anos dá luz às tendências e narrativas culturais feministas e rompedoras de fronteiras no Hypeness. Trabalha em formatos multimídia fazendo cobertura de festivais, como SXSW, Parada do Orgulho LGBT de SP, Rock In Rio e LoollaPalooza, além de produzir roteiros, reportagens e vídeos.

Cena comum em qualquer grupo de WhatsApp:
Gente, não sei se é verdade, mas vou compartilhar aqui por que nunca se sabe: estão moendo pombas junto com a cevada na produção de cervejas. Passe para frente!

Não, calma, mas será que isso é verdade mesmo? O que já foi chamado de corrente, vírus e hoax – e que antes chegavam por email -, hoje ganhou uma cara nova e merece toda a nossa atenção.

Durante o Globonews Prisma, neste sábado (5), evento que reuniu profissionais de diversas áreas para debater temas sobre empreendedorismo, sustentabilidade e mídias, as fake news foram foco.

Essas notícias falsas vão desde boatos que circulam na internet até desinformações fabricadas com a intenção de enganar. Alguns são aparentemente inofensivos e fáceis de identificar por parecerem absurdos demais – vide invasões alienígenas – mas o problema é que algumas nos deixam envolvidos emocionalmente e nos fazem replicar o conteúdo sem pensar duas vezes.

Ansiedade só prejudica (ou quem compartilha também é mentiroso)

O post do deputado Alberto Fraga viralizou com informações falsas sobre Marielle Franco, mas foi desmentido pelo Aos Fatos e logo foi controlado. O deputado tirou o post do ar na sequencia

O post do deputado Alberto Fraga viralizou com informações falsas sobre Marielle Franco, mas foi desmentido pelo Aos Fatos e logo foi controlado. O deputado tirou o post do ar na sequencia

A partir dessa dúvida, se a história que chegou no WhatsApp da família é real ou não e da ansiedade de protejer nossos amigos e família, as mentiras se espalham numa velocidade incrível.

Quando aumenta o volume de publicações por usuário, significa que a emoção está lá em cima. Quando estamos então às vésperas de uma eleição, por exemplo, os sentimentos ficam aflorado e todo tipo de assunto tem uma grande carga de engajamento emocional.

“Esse envolvimento emocional, conjugado com ambiente incerteza, conjugado com o medo que deriva da ansiedade é o terreno fértil para a desinformação acontecer”, disse Fabio Malini, professor na Universidade Federal do Espírito Santo e coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic), durante debate no Globonews Prisma.

Cuidado com sites e suas bolhas ideológicas

Não, tia, ele não morreu

Não, tia, ele não morreu

O professor fez um estudo das reações sobre o caso Odebrecht no Facebook e chegou à conclusão que a mídia tradicional dá o furo, a primeira notícia sobre o fato, mas quem repercute são as páginas de bolhas ideológicas. E para quem? Uma audiência ávida por afeto, seja para direita ou para a esquerda. Com as próximas eleições batendo à porta, Fabio traz verdades bastante pessimistas: “Teremos uma eleição de intensa produção de desinformação e isso tem muito a ver com o fato de que, enquanto a política for um exercício na rede intensamente emocional e afetivo, vai ser difícil ter  muito espaço para o raciocínio”.

Essas tais bolhas ideológicas são os sites fora da mídia tradicional e sem filtros para disseminar conteúdo. São conteúdos cheios de certezas que reforçam o que as pessoas já acham. Daí o compartilhamento rápido de notícias falsas. Quanto mais tempo leva para checar, pior o estrago. Eis que surgem sites especializados em desmentir as fofocas da rede. O site Aos Fatos, primeira plataforma digital de checagem de fatos e acompanhamento do discurso público, já publicou 1.500 checagens de notícias em seus quase três anos de existência. A diretora da plataforma, Tai Nalon explica que o problema das fake news nas redes sociais é que elas realmente parecem verdadeiras. “Elas não são rigorosamente falsas. São feitas com informações factuais, que têm fundo de verdade e que são feitas exatamente para nos deixar com uma pulga atrás da orelha.

O chatbot Fátima é uma nova ferramenta, desenvolvida pelo Aos Fatos, que conversará com as pessoas pelo Messenger para auxiliá-las no processo de verificação de conteúdo online

O chatbot Fátima é uma nova ferramenta, desenvolvida pelo Aos Fatos, que conversará com as pessoas pelo Messenger para auxiliá-las no processo de verificação de conteúdo online

Apps de mensagem não são fontes de notícias

O Aos Fatos investigou como consumimos as notícias nas redes sociais e, para nossa surpresa, a maior fonte de informação de 43% das pessoas vêm de, pasme, aplicativos de mensagem.

Aquele grupão da família, da escolinha das crianças, dos amigos do trabalho é a fonte de quase metade dos usuários. Dois fatos interessantes surgem a partir disso: 50% dessas pessoas dizem não acreditar totalmente no que receberam, mas esses mesmo 50% também não checam o que receberam com frequência. “Temos uma maioria que não duvida sempre que recebe uma informação online. Isso é preocupante”, conta Tai.

Será que nossos grupos são confiáveis para receber notícias?

Será que nossos grupos são confiáveis para receber notícias?

Fake news têm maior capacidade de serem compartilhadas

Em uma pesquisa publicada recentemente, o MIT – Massachusetts Institute of Technology, dos EUA, analisou cerca de 126 mil notícias postadas no Twitter entre 2006 e 2017. Elas foram tuitadas por cerca de 3 milhões de pessoas e retuitadas por pelo menos 4,5 milhões de vezes. “Descobrimos que as notícias falsas são mais inusitadas do que as verdadeiras, o que sugere que as pessoas foram mais propensas a compartilhar informações inusitadas”, dizem Soroush Vosoughi, Deb Roy e Sinan Aral no estudo. A descoberta aponta também para o problema vir mais do compartilhamento das pessoas do que de robôs. “Quando a informação é nova, não é apenas surpreendente, mas também mais valiosa, na medida em que transmite um status social de que [a pessoa] está ‘por dentro’ ou ‘sabendo’ das informações”.

Em terras brasileiras o cenário não muda: segundo levantamento do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (Gpopai), da Universidade de São Paulo (USP), cerca de 12 milhões de pessoas compartilharam fake news no Brasil só em junho de 2017.

Vai que, né?

Vai que, né?

O que podemos considerar então que é uma desinformação? Começando pelo básico, se não tem fonte ou referência, qual a chance de um conteúdo ser real? É necessário consumir informações de fontes verificadas e parar de compartilhar conteúdos que não sabemos nada sobre, afinal, somos os principais disseminadores das fake news. O Aos Fatos tem uma série de manuais que ajudam a identificar as mentiras.

Selos ajudam a identificar qual o nível de falsidade ou não de uma notícia

Selos ajudam a identificar qual o nível de falsidade ou não de uma notícia

Dicas para não compartilhar fake news

1. Sem fonte

Chegamos então ao primeiro ponto: não tem fonte, desconfie. Mesmo que possamos ter suspeitas sobre o posicionamento da imprensa tradicional, jornais, revistas e sites de grandes empresas são fontes legítimas de informações. Vale ler mais de um para ter um panorama mais completo e menos ideológico do fato. E mesmo que seja uma fofoca muito apetitosa e o dedo coce para compartilhar, questione sempre.

Você conhece o site que compartilhou ou vem de um “tocompartilhando.com.br” da vida? A informação vem de um instituto ou de uma universidade de renome? Tem referências no texto, links para uma pesquisa séria ou é só um bando de achismo ou de adjetivos?

2. Tom pejorativo é indicativo de mentira

Aliás, importantíssimo: jornalismo sério, de qualquer lado, não sai por aí usando termos pejorativos. Se texto veio cheio de “petralha”, “coxinha”, “golpista”, duvide.

3. Olhe SEMPRE a data

Outro detalhe importante é prestar atenção às datas. Uma notícia pode até não ser falsa, mas ela é de 2003, logo talvez ela já não faça mais sentido. Se parecer muito absurda, jogue no google. A chance de ser mentira já desmentida há tempos é grande. Se vier pelo WhatsApp, não dê como verdadeiro logo de cara.

4. Use o Google para checar

Checagem é a palavra chave nesses casos. Vale lembrar que estamos em ano de eleições e os sentimentos ficam cada vez mais à flor da pele para informar as pessoas do nosso círculo. Toda atenção é pouca.

Responsabilidade da mídia

Tudo a ver com o tema, outro debate que tomou lugar no Globonews Prisma foi sobre o papel da mídia tradicional e online para fortalecer os direito humanos. A mesa deu um panorama de diferentes visões sobre a abordagem dos direitos humanos na mídia nas visões de Viviane Duarte, fundadora do Plano Feminino – consultoria com foco em gênero e diversidade na propaganda; Cris Bartis, co-criadora do Mamilos – Jornalismo de Peito Aberto e professora da FGV; Leandro Beguoci, diretor editorial e de conteúdo da Associação Nova Escola; e Stephanie Ribeiro, Stephanie Ribeiro tem 24 anos, é arquiteta e urbanista, ativista digital, feminista, negra e escritora. O debate foi mediado por André Fran, diretor, escritor, palestrante e cofundador da BASE#1 Filmes.

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