Debate

Freiras da Califórnia que produzem maconha têm documentário exibido em Cannes

15 • 05 • 2018 às 10:19
Atualizada em 17 • 05 • 2018 às 09:52
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Fazer o bem e ajudar a quem precisa são sem dúvida premissas fundamentais para a própria vida de qualquer irmandade de freiras – e não é diferente no caso das “Irmãs do Valley”, um grupo de freiras que produz maconha medicinal na cidade de Merced, na Califórnia. Enfrentado o xerife local, a opinião pública e até os cartéis e o tráfico da região, a incrível história das “Irmãs do Valley” foi enfim transformada em um documentário, que estreou com estardalhaço recentemente no Festival de Cannes.

Em verdade, as freiras da maconha não são ligadas a nenhuma religião, se colocando inclusive como contras as instituições religiosas, e se baseando, segundo a irmã Kate, fundadora do grupo, em práticas pré-cristãs. O culto se dá em verdade ao redor mesmo da maconha, vendida pelo grupo não só através de seus derivados medicinais, mas também de produtos a base de cânhamo, que transformam em bálsamos e pomadas.

A força motora por trás da fundação dessa irmandade, no entanto, foi o feminismo – o desejo de empoderar e ajudar mulheres em todo tipo de dificuldade, que partiu da própria irmã Kate e sua história. “Depois de todos os homens que em minha vida me traíram, me bateram, me largaram sem dinheiro e sem casa, meu objetivo virou formar uma irmandade de curandeiras”, disse Kate. “E o que nos uniu foi a maconha”.

Ainda que o uso medicinal e recreativo da planta seja legalizado na Califórnia, ele não é em nível federal. Mesmo no estado o plantio e a venda se dá sob duras leis, que o xerife local acusa as freiras de não cumprirem – de estarem fingindo ajudar as pessoas quando em verdade estariam simplesmente traficando drogas. Como se não bastasse, os traficantes locais e os carteis americanos e mexicanos também ameaçam as irmãs que, com seu sucesso, se afirmam como concorrentes – não é por acaso que todas vivem armadas e algumas já tiveram de fugir de rajadas de metralhadora.

O filme, intitulado Breaking Habits, é não só sobre a irmandade como também sobre como ainda é perigoso e complexo, mesmo com a legalização, o negócio da maconha nos EUA, especialmente em casos que ganham popularidade como o das Irmãs do Valley.

Depois do sucesso em Cannes, o filme deve ser distribuído mundialmente ainda esse ano.

Publicidade

Canais Especiais Hypeness