Arte

Como um retrato feito no Renascimento ajudou a acabar com uma guerra

17 • 08 • 2018 às 10:33
Atualizada em 17 • 08 • 2018 às 10:48
Redação Hypeness
Redação Hypeness Acreditamos no poder da INSPIRAÇÃO. Uma boa fotografia, uma grande história, uma mega iniciativa ou mesmo uma pequena invenção. Todas elas podem transformar o seu jeito de enxergar o mundo.

Um dos mais importantes acontecimentos da história, a tomada de Constantinopla pelo império Otomano representou o auge de uma revolucionária expansão territorial sem precedentes que varreu o ocidente no ano de 1453. Em questão de meses o jovem sultão Mehmed II (ou Maomé II, em português) passou a ser conhecido como Mehmed, o Conquistador, tornando-se então o homem mais poderoso do mundo. A expansão do império Otomano de Mahmed II não só significou o fim da chamada Era das Trevas, como também uma grande ameaça para Veneza, então uma cidade-estado estrategicamente localizada na rota para a Ásia e a África. A pulsante e próspera vida cultural e mercantil parecia ameaçada pelo poderio do Conquistador.

Depois de conseguir resistir por mais de duas décadas, em 1479 Veneza, com um exército e uma população muito menores que os Otomanos, se viu na situação de ter de aceitar o acordo de paz oferecido por Mahmed II. Para tal, além de tesouros e territórios, o sultão exigiu dos venezianos algo inusitado: que o melhor pintor da região viajasse a Istambul, então capital do império, para realizar um retrato seu. O escolhido pelo senado de Veneza foi Gentile Bellini.

Autorretrato de Gentile Bellini

A viagem de Bellini, pintor oficial e mais aclamado artista de Veneza à época, durou dois anos, e acabou por se tornar um dos mais importantes catalisadores da influência oriental sobre as artes europeias de então – e uma abertura fundamental para a presença da cultura oriental no ocidente até hoje. Mais do que isso, porém, ajudou a impedir que os Otomanos tomassem Veneza.

Bellini pintou diversos quadros durante a estadia em Istambul, mas o principal deles realmente foi O Sultão Mehmet II, retrato do Conquistador, hoje exposto na National Gallery de Londres (o retrato, no entanto, passou por severa reforma no século XIX, e já não se sabe mais o quanto do original sobreviveu).

O retrato do sultão pintado por Bellini

Trata-se, de toda forma, de um dos únicos retratos contemporâneos do homem mais poderoso do mundo de então – e de um verdadeiro documento da mistura entre cultura oriental e ocidental. Mahmed viria a falecer meses depois da volta do pintor a Veneza, e seu filho, Bayezid II, ao assumir o trono viria a desprezar o trabalho de Bellini – que, no entanto, permanece na história como um marco incontestável.

Outros exemplos de quadros pintado por Bellini em sua viagem

Até hoje arte é utilizada como arma indireta da diplomacia e da afirmação cultural de um povo – no caso de Bellini, no entanto, ela foi realmente um escudo, uma força capaz de impedir uma guerra e mudar o mundo em suas relações para sempre.

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©artes: Gentile Bellini 


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