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Em um primeiro momento você pode até não enxergar a relação entre café e bicicleta. Mas, ao olhar com cuidado, dá pra enxergar a presença de um ingrediente indispensável: afeto.
É este o curso defendido pelo La Frida Bike, empreendedorismo móvel e orgânico criado por um grupo de mulheres baianas para a promoção de eventos culturais tendo a bicicleta como impulsionadora. Conectado ao conceito de ciclofeminismo e inspirado em Frida Kahlo, o coletivo faz questão de combinar gotas de poesia e café para a criação de projetos sociais voltados à periferia e às mulheres negras.
O La Frida é liderado por Lívia Suárez, Alana Santana, Luise Reis e Jamile Santana, que em pouco tempo estão se destacando no importantíssimo debate sobre mobilidade. Neste sentido, o empreendimento atua na aproximação da bicicleta do cotidiano das pessoas, sobretudo no de mulheres negras. Ao longo desta curta, mas frutífera trajetória, mais de 40 mulheres negras aprenderam a andar de bicicleta no projeto ‘Preta Vem de Bike’.
A luta antirracista passa pela mobilidade urbana
“Quando fomos convidadas a participar de um evento nacional sobre ciclomobilidade percebemos sermos as únicas negras presentes, mesmo havendo mesas com temáticas sobre periferia, as pessoas que falavam sobre esse espaço sequer sabiam a respeito.
Percebemos então que o buraco era muito mais embaixo, a mulher negra não estava nos planos de mobilidade urbana, sequer era considerada.
Não é a mulher negra no centro do debate é a mulher negra ocupando um espaço dela, falando sobre ela e para elas”, explicam suas fundadoras em entrevista ao Hypeness.
Insuflada pelos protestos contra o aumento das tarifas dos ônibus em São Paulo, em junho de 2013, a mobilidade urbana não saiu mais da pauta. Se tratando de cidades complexas como a própria capital paulista, Rio e Salvador, desatar estes nós são movimentos decisivos para o desenvolvimento endógeno. Mais do que isso, caminhos alternativos e mais eficazes de transporte são plataformas para o aumento da qualidade de vida.
“Esse debate não abraça a população negra, uma vez que as ciclovias e a integração dos transportes estão apenas nos bairros nobres, não há o diálogo com e para a população negra. Esse diálogo fica mais distante ainda quando consideramos que o acesso a bicicleta não é uma realidade da população negra. Não sabemos pedalar. Não aprendemos a pedalar na infância, seja por não ter uma bicicleta, ou por medos e repressões diversas. Quando partimos para uma discussão de gênero na mobilidade as questões aumentam.
Há uma procura grande em nosso coletivo pelas aulas de bike. São mulheres negras adultas que nos procuram.
Em uma pesquisa entre nossas alunas 50% confidenciaram que aprender a pedalar é uma realização de sonho. Percebemos então que a ponte que temos que atravessar é infinita, transformar o sonho da bike em mobilidade é um desafio constante, um passo de cada vez, aprender, ocupar e resistir”, finalizam.
O La Frida defende a ciclomobilidade a partir de conceitos feministas negros
A mudança está conectada diretamente com o poder público. Ainda prefeito de São Paulo João Doria, que com menos de 1 ano deixou a administração da prefeitura para concorrer ao governo do Estado, declarou que iria remover uma série de ciclovias consideradas inseguras. A maioria delas localizada nas periferias da capital paulista.
“Na periferia há várias ciclovias que não têm ciclistas. E elas, na verdade, prejudicam o comércio varejista”, disse Doira.
Não é como pensa o La Frida Bike, que considera a ausência de pessoas nas ciclovias, ao contrário do que disse o ex-prefeito de São Paulo, resultado da falta de inclusão dos menos favorecidos no debate sobre transporte e direito à cidade. Por isso, Lívia e as meninas do empreendimento oferecem aulas grátis em vários pontos da capital baiana. Não se espante ao ver um grupo de mulheres negras dando suas primeiras pedaladas em uma tarde de sábado na Praça do Campo Grande, em Salvador.
“O direito de transitar livremente com autonomia, nossos corpos em trânsito! O desafio é ser mulher e ser negra. Esses desafios se expandem em qualquer lugar que estejamos,
discutir e pensar sobre o direito à cidade para as mulheres negras é um embate diário
seja pela repulsa a nossa presença nos espaços ou ao questionamento sobre nosso direito, o que nos exige enfrentamento e conhecimento de nós sobre nós”, dizem as membras do projeto.
Elas são de Salvador, mas estão ganhando o Brasil
O hábito de pedalar é um processo, daí o tamanho da importância do La Frida Bike. Atuante em Salvador e São Paulo, esta iniciativa que está chamando a atenção de patrocinadores atentos com as mudanças sociais, colocou a bicicleta próxima da realidade de mulheres negras das periferias.
Aliás, este método se apresenta como mais uma ferramenta emancipatória. Especialmente se tratando de mulheres negras, que cotidianamente enfrentam os efeitos do racismo e do machismo. Trocando em miúdos, a independência proporcionada pelo transporte público é valiosíssima.
“A capital mais negra do país [Salvador] é racista. O corpo negro em movimento é sempre uma ameaça, recentemente tivemos o caso do ator Leno Sacramento, baleado simplesmente por estar em uma bicicleta.
Somos questionadas se estamos fazendo uma manifestação, quando estamos pedalando juntas, não são casos isolados, são casos de racismo!
Pensarmos a bicicleta como um meio para manter os corpos negros em movimento é a nossa principal forma de mudar a realidade”.
Corpos de mulheres negras em movimento!
No caso do ‘Preta Vem de Bike’, a mulher está presente em todos os estágios do pedal. “Hoje temos em nosso espaço mulheres negras que fazem a mecânica das bicicletas, temos mais mulheres negras pedalando, temos mais mulheres negras com a acesso a bicicleta, é um trabalho de formiguinhas, mas que impacta nossa forma de nos relacionar com o mundo e com nós mesmas”, encerram.
A insaciável vontade de romper as estruturas exige energia e disposição. Mas, como dizem figuras históricas como Sueli Carneiro, é preciso cuidar do afeto. Sendo assim, a Casa La Frida caiu como uma luva.
Localizado no bairro soteropolitano da Saúde, precisamente no Beco da Agonia, “a Casa La Frida surgiu pela necessidade de abrigar as outras demandas que a bicicleta nos traz enquanto mulheres negras, como por exemplo a necessidade de nos reunirmos, nos articularmos, trocarmos afeto e nos fortalecermos para enfrentar o mundo. Aqui além de tomar um tradicional café, já que começamos como um bike-café-poético, temos uma oficina mecânica de bicicleta, que funciona com
mulheres negras na gestão e execução dos serviços, temos livros com temáticas sobre negritude e ciclomobilidade e um espaço que abriga outros coletivos
que transversalizam com o que acreditamos, como coletivo de psicólogas negras, advogadas, a comunidade LGBT, mulheres do axé, etc”.
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