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“Não, a pintura não foi feita para decorar as habitações. É um instrumento de guerra, ofensivo e defensivo, contra o inimigo”. A frase atribuída a Picasso traz bem a ideia de ver o trabalho de Mundano em meios ao bairro dos Jardins, em São Paulo. As obras que vemos circulando nas paredes pelas ruas, nas 320 carroças de catadores e catadoras de materiais recicláveis que se movem pelas cidades ou mesmo em paredes de galerias pelo mundo não estão à passeio. O instrumento é sim de guerra, de luta, de abrir mentes e mudar realidades.
Artivista. Adjetivo feminino ou masculino que designa artistas que fazem de seu ofício uma forma de ativismo. Que milita, seja política, ecológica, social ou espiritual, expressando através da arte. É assim a definição do trabalho de Mundano. Grafiteiro que abusa da cor e dos espaços, sejam públicos ou privados, para tratar de questões no mínimo urgentes ao Brasil.
Mundano e um de seus megafones na mostra Vozes Mundanas
Conhecido internacionalmente – e vencedor do Prêmio Brasil Criativo 2014 – pelo projeto Pimp My Carroça, Mundano encarou como missão de vida trazer à luz problemas ambientais, políticas e sociais. “Eu procurei falar de várias causas, desde as sociais, como os catadores que eu já trabalho, mas a questão da crise hídrica que assola o país, falo também sobre o desastre de Mariana, tem trabalhos sobre os refugiados, da mulher resistente, enfim, são várias temáticas que estão unidas neste ambiente, soltando diversas vozes”, explica Mundano.
Os personagens fortes aparecem como cactos, que resistem apesar das adversidades
Não se deixe enganar pelo tom divertido e colorido dos personagens das obras. A exposição Vozes Mundanas é um baque a cada olhar. Ser recebida por um muro adornado com arames farpados e câmeras de segurança já dá o tom. Pisar no chão craquelado, que já nem lembra do toque da água em meio a mais uma crise hídrica do governo Alkimin confirma a temática. O terreno é de denúncia social.
O muro separatista de Trump também aparece entre as obras
“É um grito. Eu quero que quando a pessoa ande por esse solo rachado, ela tenha a experiência que esse é o mundo real para milhões de brasileiros. Então por isso que eu criei esse muro que separa o mundo real deste mundo imaginário que eu criei, e reflita um pouco. Meu trabalho faz sentido com essa denúncia, abrindo a mente das pessoas, que as vezes vivem em bolhas, para refletirem sobre os principais problemas sociais e ambientais do nosso país”, resume o artista.
Crise hídrica é mais uma vez tema forte na mostra
A mostra dá voz. Amplifica o que não é dito pela grande mídia, o que é camuflado pelas eleições que temos em vista (ou só pelo padrão de deixar de lado o que realmente importa à população). Os elementos mais usuais de Mundano, que dão o fio condutor às criticas em seu trabalho, estão presentes por todos os lados: os brasileiros são cactos, sempre resistentes, ainda que com dificuldades; e agora o megafone, sempre no sentido de amplificar as vozes que não são ouvidas.
O megafone fala tanto da nossa voz nas eleições…
Quanto nas críticas à crise hídrica e, mais recentemente, da gasolina
As obras de Mundano são a luta em si. Materiais jogados no lixo são reaproveitados, no melhor estilo upcycling, ganhando nova vida e significado. Um quadro clássico que havia sido descartado ganhou interferência com um carro atolado na lama e os dizeres “bem vindo ao Rio Doce”. Nesta e em tantas outras, o artivista usa a lama tóxica de Mariana para pintar. Em outras, recortes de livros e revistas são remontados contando histórias da política brasileira.
Carro atolado na lama de Mariana: Bem vindo ao Rio Doce
Um grande cacto central tem uma torneira de onde pouco a pouco saem gotas d’água, simbolizando a situação das represas de São Paulo. Aos pés dele, mais um megafone repousa. Além das instalações, quadros trazem mais uma vez os temas à tona: um militar assalta um cidadão de camiseta da CBF e panela na mão, usando uma bomba de gasolina. Em outro, um carrinho de catador está reciclando em Brasilia, em meio a um chão seco como o que permeia a mostra.
Só Brasilia não se recicla..
“Muda que quando a gente muda o mundo muda com a gente”. A frase da música “Até Quando?”, de Gabriel o Pensador me bateu quando terminei de visitar a exposição. Vale visitar, refletir e passar adiante. Uma mostra essencial e urgente. Para ser vista mais de uma vez e levar aqueles amigos que ainda precisam sair da caixa. Empatia é a palavra. E evolução, o caminho.
Assista ao TED de Mundano sobre o Pimp My Carroça:
Vozes Mundanas
Emmathomas Galeria – Alameda Franca, 1054, Jardim Paulista
De 25 de julho a 25 de agosto
Visitação de segunda a sexta-feira, das 11h às 19h e sábado de 11h às 15h
Grátis
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