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por: Brunella Nunes
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Em tempos de democracia ameaçada no Brasil e em vários lugares do mundo, cai como uma luva recordar histórias de quem, de fato, passou pelas garras massacrantes de um regime autoritário. Com estreia no dia 27 de setembro nos cinemas brasileiros, o filme “Uma Noite de 12 Anos” mostra a resistência de Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, do começo ao fim dos anos sombrios da ditadura militar no país vizinho.
Na época, José Alberto Mujica Cordano, vulgo Pepe, era guerrilheiro no melhor estilo Marighella, tendo um papel importante dentro do grupo político de esquerda Movimiento de Liberación Nacional Tupamaros, no qual ingressou em meados de 1960. A formação que viria a ser inimiga número 1 do Estado totalitário incluía pessoas de diversas áreas, de advogados a profissionais liberais. Entre as principais características do movimento subversivo estava o de revelar casos de corrupção no governo e concentração de riquezas de empresários, assaltos a bancos e clubes de armas, sequestros e assassinatos. O dinheiro que conseguiam era distribuído entre a população mais pobre de Montevidéu, atraindo apoio popular.
No longa de Alvaro Brechner, ele aparece sob representação do ator Antonio de la Torre, ao lado de outros dois colegas de luta e confinamento: Mauricio Rosencof (Chino Darín) e Eleuterio Fernández Huidobro (Alfonso Tort), vulgo Ñato. Num primeiro momento da trajetória histórica, o grupo aprisionou armas e arrecadou fundos com o intuito de se preparar para o enfrentamento das forças estatais. Depois de ser derrubado pela polícia, se reergueu de forma tão eficaz que o governo respondeu de forma histérica, colocando ainda mais meios de repressão para circular, como a proibição da imprensa noticiar quaisquer tipo de coisa sobre os Tupamaros.
Mas é claro que aconteceu exatamente o oposto e a fama dos guerrilheiros se espalhou para além das fronteiras uruguaias. Esse movimento de ação e reação foi crescendo como uma bola de neve. A luta armada se intensificou por volta de 1968, período em que o vizinho Brasil também já passava pelo rastro de horror do golpe de 1964. Nesse meio tempo vieram idas e fugas da cadeia, até que um dia não deu mais para correr. Como disse um próprio militar no filme, a essa altura não eram mais presos e sim reféns.
Os ativistas políticos amarguraram 12 anos numa solitária, que no melhor dos casos tinha tamanho de dois metros por um, passando por situações degradantes como beber a própria urina em prol da sobrevivência. Embora faça falta saber mais sobre os Tupamaros, o roteiro do filme faz um recorte muito minucioso da rotina em cárcere, sendo lento em vários momentos, mas em outros faz uso de flashbacks e recursos de câmera mais dinâmicos para dar ritmo à obra.
Como refém da opressão, Mujica era o mais solitário e, aparentemente, o mais perturbado deles por seus pensamentos compulsivos. A mãe, Lucy Cordano, se manteve ao seu lado e aparece no longa poucas porém marcantes vezes, enquanto Mauricio e Eleuterio levam a trama como personagens centrais, que encontram uma maneira de se comunicar entre si.
Mesmo que aborde um tema pesado, pautado pela tortura constante, por interrogatórios e mudanças constantes de cadeia, a trama não é apenas sobre violência, mas sim sobre a resistência e o sonho de liberdade, não só da prisão, mas do regime militar. As pequenas grandes vitórias diárias dão um sopro de esperança de que, no fundo e entre mil adversidades, o mal não irá vencer. Se ainda não vieram as lágrimas, há risco de descerem quando toca uma bela interpretação de “The Sound of Silence” (Simon & Garfunkel), na voz de Silvia Pérez Cruz.
Do período caótico restaram homens que seguiram carreiras políticas, com exceção de Mauricio, o mais romântico dos Tupamaros, que se dedicou à literatura. Mujica sempre foi colocado como um homem informal, que deixou um grande legado governamental e alguns órfãos ao se aposentar. Aos 59 anos disputou a primeira eleição como senador, cargo ocupado por dois anos, e depois foi eleito presidente, ocupando a cadeira por cinco anos, período em que doava 90% de seu salário para a caridade, num ato anticapitalista. O período parece curto, mas foi de feitos progressistas, com a legalização do aborto, de casamentos homossexuais e da maconha no país.
A sua principal lição para o mundo, porém, diz respeito à sua personalidade rudimentar. O político sempre viveu em condições consideradas simples – afinal, o que é mesmo o luxo, não é? -, vivendo numa chácara de um quarto, que divide até hoje com a companheira de guerrilha e de vida Lucía Topolansky desde meados de 1970, tendo como automóvel um Fusca azul de 1987.
Pelo premiado cineasta sérvio Emir Kusturica, que dirigiu o documentário ‘El Pepe, una vida suprema’ sobre a sua trajetória, Mujica foi chamado de “o último herói da política”. A essa altura do campeonato, não há como discordar e saber mais sobre o tempo em que Mujica comeu o pão que o diabo amassou só reforça a ideia. Para quem não se recorda de como era a ditadura, ou sequer a sentiu na pele, eis no filme um bom lembrete.
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