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A estação da Lapa está localizada em um dos centros de ebulição de Salvador. O espaço serve de passagem para cerca de 450 mil pessoas, que todos os dias usufruem dos ônibus e trens do metrô que de lá saem.
Os vários tons de negritude se confundem com o cheiro de acarajé que emerge por volta das 16h, quando as primeiras baianas montam suas barracas para atender a freguesia que começa a chegar. Na Lapa, o lema é agilidade. É preciso estar atento para desviar das pessoas sempre apressadas.
Se você pretende conhecer uma Salvador diferente dos estereótipos tradicionais, experimente passar um dia por lá e observar a diversidade de pessoas que atravessam a estação da Lapa. Ficaria surpreso se ao final do dia, você não pensasse em uma única palavra: criatividade.
A Ocupação Afro Futurista fez da Lapa o centro de criatividade de Salvador
Imbuída deste espírito, a Vale do Dendê (falamos deles aqui) resolveu transformar o local em um espaço de criatividade e tecnologia. Entre os dias 9 e 11 de outubro, a Ocupação Afro Futurista reafirmou a vocação empreendedora e criativa da capital baiana.
O evento foi organizado pela aceleradora de negócios para apontar os caminhos do futuro. Afinal, o que estão planejando jovens negros da cidade mais enegrecida fora da África? Assim como bem ensina o orixá Exu, a comunicação foi o fio condutor para um debate que pretende, não só elevar, mas tornar acessível o entendimento de economia criativa.
Para Karina Oliveira, de 25 anos, participar da Ocupação Afro Futurista representa um ganho importante para seu projeto de aceleração de negócios, que “visa atingir e potencializar micro e pequenos empreendedores que desejem empreender”.
Salvador possui um dos maiores potenciais econômicos e criativos do país
Ao lado de outros jovens de bairros periféricos da capital baiana, Karina, que faz parte do projeto Wakanda, integrou uma maratona hacker. Além de capacitar e abrir espaço para novas ideias, a discussão pretende incentivar o surgimento de projetos criativos pensando política e economia criativa. Foram disponibilizados notebooks e alguns prêmios, como um tablet e a chance de apresentar o projeto na Campus Party de São Paulo.
“A gente pretende fazer o plano de negócios, treinar técnicas de venda e apresentação e ao final, preencher e aprender sobre gestão financeira, o gargalo das pessoas que empreendem por necessidade e não fazem o planejamento antes. Então, meu projeto vem para dar essa orientação de uma forma muito mais efetiva, fazendo com que essa galera que empreende tenha ferramentas para executar o próprio negócio”, explica ao Hypeness Karina Oliveira em um dos intervalos da mentoria.
É justamente a capacitação para lidar com o dinheiro um dos objetivos do evento organizado por Paulo Rogério – que também é fundador do Instituto de Mídia Étnica, já esteve ao lado de Barack Obama e é considerado um dos negros mais influentes da atualidade.
Aos 25 anos, Karina entende a necessidade de se qualificar para ter sucesso
Apesar do crescimento considerável da última década, o cenário do empreendedorismo negro ainda está longe do ideal. Vamos aos números. No Brasil, segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), 50% dos donos de negócio são pretos e partos, ao passo de 49% é formado por brancos.
Contudo, mesmo com a criação de facilitadores como o registro do Microempreendedor Individual (MEI), que com base na Lei n°128, de 19/12/2008, deu condições para o trabalhador informal possa se regularizar no mercado, a disparidade é evidente.
Quando o assunto são empresários empregadores e os que trabalham por conta própria, o número de negros tocando seus negócios sozinhos é de 91%. Já a presença preta em empreendimentos com funcionários, não passa dos 9%.
O resultado vai encontro com o pensamento de Karine, Paulo, da Vale do Dendê e de todos os organizadores da Ocupação Afro Futurista. É preciso oferecer oportunidades para camadas historicamente excluídas.
Moradora do bairro do Engenho Velho da Federação, Karine possui sete anos de atuação com gestão de micro e pequenos empreendimentos com enfoque em economia solidária. Ela ressalta que através da Ocupação Afro Futurista, vai poder ajudar outras pessoas interessadas em atingir a estabilidade com seus próprios negócios.
A escolha de uma estação de metrô mira na acessibilidade como ferramenta transformadora
“Escrevemos um edital e vamos beneficiar 120 empreendedores negros da cidade em 2019. A gente tá esperando receber mais mentoria. Somos parceiros da Vale do Dendê há muito tempo e conseguimos atingir 52 pessoas em um evento de teste durante o Julho das Pretas. Queremos trazer essa tecnologia para Salvador e atingir desde pessoas que estão vendendo no buzu, ao baleiro, até os que que vendem mingau ou têm seu próprio negócio de barbearia, salão, etc”.
Com parceria firmada com a Campus Party de São Paulo, a Ocupação Afro Futurista não deixou de lado outros expoentes de criatividade. Para tratar de cinema a partir do olhar de profissionais negros, Jamile Coelho – uma das sócias da Estandarte Produções, apresentou seu trabalho de stop motion. A técnica de fotografar os frames para dar vida a cena, foi a mesma utilizada no premiado documentário Òrun Àiyê, feito ao lado de Cintia Maria.
Wakanda é na Bahia!
Comunicação e tecnologia andaram de mãos dadas durante debate mediado pela jornalista Hellen Nzinga. A mesa Ocupar o Futuro – Os Negros no Mercado de Tecnologia recebeu Thamyra Thâmara, gestora do Gato Mídia/RJ; a publicitária Juliana Oliveira, (ThoughtWorks/RS) e o artista visual e VJ Gabiru.
A pauta eram as potências. Como bem disse Thamyra, moradora do morro do Alemão,
precisamos debater tecnologia com quem vive isso no dia a dia. Por meio da tecnologia podemos reduzir a desigualdade social. As pessoas que estão na periferia estão circulando muito mais. Nós da favela somos os mais indicados para resolver os problemas da cidade.
Para tornar esta máxima palpável, é importante que grandes empresas apostem em condutas humanizadas. Juliana Oliveira, representante no Brasil da ThoughtWorks – empresa de consultoria global de tecnologia de informação diz que “eventos como esse e todas as iniciativas da Vale do Dendê são importantes para colocarmos em pauta diversidade, negritude e tecnologia. Como a gente acessibiliza e democratiza”.
Tecnologia: linguagem corporal, comunicação e desenvolvimento
Juliana é uma das responsáveis pelo Enegrecer na Tecnologia, que une forças para compartilhar práticas viabilizadoras do crescimento endógeno da comunidade negra. Já era tempo, pois segundo o IBGE, apenas 6,3% de negros dos 54% da população total ocupam cargos de gerência.
Quando a gente fala de tecnologia, estamos falando sobre pessoas. Se hoje somos a maioria da população no Brasil, precisamos pensar nisso quando estamos desenvolvendo produtos e aplicativos. Temos que trabalhar com iniciativas que promovam esta inclusão para trazermos realidades e contextos diferentes nas construção de soluções que façam a tecnologia para todos.
A Ocupação Afro Futurista é mais um braço na pavimentação deste caminho que vem fazendo da Bahia o grande centro de inovação negra do Brasil. Desde a fundação em 2017, a Vale do Dendê auxilia no processo de aceleração de 10 empresas e apoia outros 30 empreendimentos. Com uma equipe capacitada e atenta ao surgimento de projetos originais e com potencial econômico, a companhia faz valer o lema: Wakanda é aqui!
A Bahia é um centro de criatividade e inovação no Brasil
“Nós estamos buscando formas de reverter isso, apostando na qualificação dos empreendedores locais e criando vetores de geração de renda ao analisar cadeias produtivas como o turismo, o entretenimento, a moda, a gastronomia e a tecnologia. Por isso, estamos apostando muito na internacionalização da cidade para atrair, por exemplo, o capital afro-americano que representa 1.5 trilhão de dólares e que busca formas de investir em comunidades negras fora dos EUA. Salvador é o local ideal para esse investimento estratégico”, reflete Paulo Rogério.
Além de Salvador, o evento também acontece em Seabra e Irecê, no interior da Bahia.
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