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Depois que eu me entendi como um homem cisgênero gay, eu comecei a olhar pro mundo além do Brasil com uma curiosidade um pouco diferente, quebrando minhas próprias barreiras de pensamento preconceituoso, que vem da nossa sociedade, e enxergando tudo com mais empatia.
Numa época onde a internet (discada, mores) dava seus primeiros passos, eu comecei a ter os olhos um pouco mais abertos às notícias que poderiam falar um pouco desse mundo do arco-íris e seus potes de ouro. Pra mim, tudo se resumia à paradas do orgulho e pornografia, até eu começar a entender que o Brasil ainda estava colocado em um lugar um tanto atrasado no mundo.
Já nesse “início de carreira”, via vários destinos dos Estados Unidos e Europa brilhando com muita cor, mas um me chamou a atenção: Buenos Aires. Era mais perto, devia ser mais barato e o mais diferente de tudo (pra minha cabeça na época): não era nos EUA nem na Europa! Sim, era assim meu pensamento… Cá estou eu, 25 países depois e ainda não pus meus pés nos EUA, acreditem se quiser, mas já pisei na Namíbia. Acho que muito mudou, né?
Minha primeira em Buenos Aires, na Argentina, em 2008 – Foto: Rafael Leick / Viaja Bi!
Em 2008, fui com amigos gays, minha irmã e meu ex-namorado para Buenos Aires. Os planos iniciais eram fugir de SP pra curtir o Nordeste, mas os preços nos ajudaram a ter nossa primeira experiência internacional. E já foi incrível.
E, especialmente depois de criar o Viaja Bi!, comecei a perceber a força que Buenos Aires tinha para os brasileiros que são LGBTI+ e que a cidade foi palco de muitas primeiras viagens internacionais. Além de ser um destino incrível, era super friendly, então não tinha como não causar esse resultado por aqui.
Palco em frente ao Congresso Nacional da Argentina durante a Marcha del Orgullo LGBTI 2016 – Foto: Rafael Leick / Viaja Bi!
Por conta do blog, voltei várias vezes à Argentina nos últimos anos e pude perceber que os esforços feitos por lá são em expandir isso pra todo país. Porque Buenos Aires ainda é a força motriz do turismo argentino e isso se manterá por um tempo. Em uma das minhas últimas visitas, conheci a Marcha del Orgullo deles, que ocorre normalmente em novembro, e em outra, participei de um congresso internacional LGBTI+.
Mas outros destinos começam a despontar no sentido de buscar turistas gays, lésbicas, bissexuais, transgêneros e travestis. A Câmara de Comércio LGBT da Argentina, que não é governamental, tem um papel importante nesse trabalho. Eles se uniram aos órgãos oficiais de turismo e, agora, toda ação para a comunidade é feita em conjunto, com assinatura de ambos.
Obelisco de Buenos Aires durante a Marcha del Orgullo LGBTI – Foto: Rafael Leick / Viaja Bi!
E a Argentina, como país, realmente comprou a ideia. Em feiras de turismo pelo mundo, há o estande da Argentina e um espaço dedicado ao segmento com a marca “amor.” (amor e ponto). Em algumas delas, é o único estande com foco LGBTI+.
Antes de seguir viagem pra outros destinos, vale relembrar o pioneirismo. Em 2010, a Argentina foi o 10º país no mundo e o 1º latino-americano a aprovar o casamento igualitário. Dois anos depois, permitiram que estrangeiros pudessem se casar lá, o que também aumentou o interesse de brasileiros, já que por aqui, só teríamos esse direito (até hoje ainda não estando em forma de lei) um ano depois.
Almoço montado em frente ao Lago Argentino, em Bariloche – Foto: Rafael Leick / Viaja Bi!
Esses esforços deram resultado para Buenos Aires e outros destinos começaram a mostrar interesse para mostrar que o coletivo LGBTI+ já era bem recebido em sua cidade. Só precisavam saber como formatar isso e divulgar para o mundo!
Na minha primeira viagem por terras argentinas para além da capital, visitei Bariloche, que já é um destino super conhecido dos brasileiros por suas estações de esqui. Mas essa visita aconteceu no verão. E me surpreendi com o tanto de coisa linda que tem por ali e de atividades pra se fazer.
A hotelaria é um desbunde. Fiquei hospedado em um hotel babadeiro que tinha um janelão ao lado da banheira com vista para o Lago Argentino e as montanhas. E visitei o Llao Llao, um hotel de luxo que hospedou ninguém mais, ninguém menos do que o ex-presidente Barack Obama e sua família, enquanto ainda era o representante dos EUA.
Bariloche vista do Cerro Campanario – Foto: Rafael Leick / Viaja Bi!
Além disso, há diversas opções para os LGBTI+ que gostem de aventura. Trekking, cavalgada (se prepare para perder o fôlego com as paisagens), refeições à beira do lago, navegação e casinhas com decoração rústica e de madeira que abrigam pubs e restaurantes super descolados. Amei!
Nessa mesma viagem, visitei Rosário, uma cidade que eu não tinha ouvido falar muito sobre, mas que é super importante pra história LGBTI+ da América do Sul. Meses antes da Argentina aprovar o casamento de estrangeiros no país, a província de Santa Fé, onde fica Rosário, já tinha isso liberado.
E dois meses antes dessa aprovação nacional, Rosário celebrou o primeiro casamento de estrangeiros no país. E ele foi entre dois homens paraguaios. Coisa mais linda!
Monumento aos LGBTI+ no Paseo de la Diversidad, em Rosário, na Argentina – Foto: Rafael Leick / Viaja Bi!
Isso foi em 2012, mas cinco anos antes, em 2007, Rosário criou o Paseo de la Diversidad, uma área às margens do Rio Paraná com um monumento em homenagem aos LGBTI+. É uma pirâmide coberta de pequenos espelhos em cima de ladrilhos formando as cores do arco-íris.
Quer mais pra se gabar? Durante minha visita, me disseram que os rosarinos se orgulham por esse ser o único monumento da cidade que nunca sofreu vandalismo. Tá, meu bem?
Quer mais? Eles tem a Casa LGBTI, um espaço cultural e de conhecimento, uma faixa de pedestres com as cores do arco-íris que fica em frente à Assembleia Legislativa da cidade e ao lado do Momumento à Bandeira, um dos principais pontos turísticos da cidade que homenageia o lugar onde primeiro se estendeu a bandeira argentina.
Faixa de pedestres colorida em frente à Assembleia Legislativa de Rosário, na Argentina – Foto: Rafael Leick / Viaja Bi!
Monumentos assim têm inspirado outras cidades. Puerto Madryn, destino conhecido pela observação de baleias, inaugurou em novembro de 2018, um monumento LGBTI+ com seis silhuetas de rabos de baleia, cada um pintado com uma cor do arco-íris e marcado com uma das seguintes palavras: amor, respeito, orgulho, gênero, igualdade e liberdade. Veja o resultado.
Meses depois, voltei ao país, mas para conhecer Mendoza no mês de março, ou seja, período da Vendímia, a colheita das uvas para fazer vinho. A cidade, super romântica e imperdível pra quem gosta da bebida, fica bem movimentada durante o período. A Festa da Vendímia é o maior evento da cidade, com palco gigante e transmitido ao vivo para o mundo todo.
Vinícola Monteviejo, em Mendoza, na Argentina – Foto: Rafael Leick / Viaja Bi!
No desfile de abertura, que passa em frente ao escritório oficial de turismo da cidade, tem um carro bem LGBTI+, com mulheres trans, mulheres lésbicas, homens gays, lutadores romanos descamisados, cavalos de mentira e globos espelhados, mas por qual razão? Algum tempo depois da Festa da Vendímia acontece uma outra chamada Vendímia Gay.
Começou como uma sátira, mas ganhou corpo e importância e é hoje um dos atrativos da cidade para a comunidade. Curiosidade aleatória: uma das apresentadoras da Vendímia Gay, uma mulher trans, é dona de baladas gays em Mendoza.
Carro da Vendímia Gay no desfile de abertura da Festa da Vendímia, em Mendoza, na Argentina – Foto: Rafael Leick / Viaja Bi!
Outro destino encantador que conheci e onde fui muito bem recebido foi El Calafate. É uma cidadezinha pequena que serve como base para quem vai explorar os glaciares da região patagônica argentina, como o Perito Moreno.
Restaurantes com comida deliciosa, hotéis com vistas incríveis (pelo menos esse que eu fiquei tinha), ruazinhas pitorescas e carinha de cidade de interior bem rústica. Tudo contribui pra atmosfera de Calafate. É o tipo de destino que eu amo.
Com o grupo gay de “ursos” no glaciar Perito Moreno, em El Calafate, na Argentina – Foto: Rafael Leick / Viaja Bi!
Aliás, isso é bastante importante mencionar. LGBTI+ não é um segmento só de viajantes.
Existem os que amam balada e vida noturna e que se acabarão em Buenos Aires; os que gostam de esquiar e de aventura e encontrarão isso em Bariloche; os mais militantes que gostam de conhecer a história queer da cidade enquanto desfrutam das delícias atuais e vão amar Rosário; os que viajam em casal e querem um clima mais tranquilo perto das montanhas e vinho que com certeza passarão por Mendoza; os que amam um destino exótico com natureza exuberante perto de uma cidadezinha pequena e acolhedora e se encontrarão em El Calafate.
Somos muitos segmentos. E a Argentina tem um destino pra cada um deles. O mais legal? Recebe todos os segmentos LGBTI+ bem. Leia mais sobre a Argentina LGBTI+.
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