Debate

‘Doutrinação comunista’: 10 alunos inconformados com Enem 2018

05 • 11 • 2018 às 10:09
Atualizada em 28 • 11 • 2018 às 18:41
Redação Hypeness
Redação Hypeness Acreditamos no poder da INSPIRAÇÃO. Uma boa fotografia, uma grande história, uma mega iniciativa ou mesmo uma pequena invenção. Todas elas podem transformar o seu jeito de enxergar o mundo.

O primeiro fim de semana de avaliações do Exame Nacional do Ensino Médio seguiu a linha adotada em edições passadas de não fugir de temas debatidos pela sociedade.

Entre assuntos clássicos presentes nas 90 questões das provas de Ciências Humanas e de Linguagens, o candidato se deparou com questionamentos sobre feminicídio, racismo, ditadura militar, refugiados e o pajubá, uma espécie de dialeto criado por travestis.

Nas redes sociais, muitas pessoas torceram o nariz com o que classificaram como viés político. Para os críticos, a prova tentou praticar uma espécie de doutrinação comunista nos mais de 4 milhões de alunos. Será?

Falar de diversidade é doutrinação comunista?

Assim como na sociedade brasileira, o racismo esteve presente no Enem. Diferente, por exemplo da proposta do governador eleito pelo Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), que pretende abater qualquer pessoa (você sabe qual o tipo) que estiver supostamente andando com um fuzil, o exame trouxe o nome de Conceição Evaristo.

Mulher e negra, a escritora mineira é vencedora do Prêmio Jabuti e considerada um dos principais nomes da literatura atual. Evaristo é responsável por jogar luz sobre os efeitos do racismo, mas também por reclamar o lugar de direito de autoras e autores negros no mercado literário brasileiro. Lembrando que nos últimos 10 anos, o número de afro-brasileiros mortos aumentou 10% no país.

A ditadura militar está na boca do povo de novo. Contudo, o debate ainda segue pelo caminho do descrédito, defendido inclusive pelo presidente eleito, que prefere chamar o período de censura e tortura como revolução de 1964.

Conceição Evaristo e sua obra estiveram presentes no Enem deste ano

Para historiadores, a dificuldade de encarar a ditadura militar com um regime de exceção se dá pela falta de discussão sobre o assunto nas salas de aula. Por Isso, o Enem deste ano decidiu falar sobre totalitarismo e censura a partir do livro 1984, do inglês George Orwell.

Aos olhos de órgãos internacionais, o Brasil precisa se dedicar mais ao assunto. O país foi condenado na Corte Interamericana de Direitos Humanos por não investigar e tampouco punir os assassinos e torturadores do jornalista Vladimir Herzog, morto na década de 1970.

Pode parecer doutrinação, mas é urgência mesmo. O Brasil é o líder do ranking mundial de assassinatos de transexuais. Segundo relatório publicado pela Transgender Europe (TGEu), o país possui, em números absolutos, mais que o triplo de homicídios do segundo colocado México, onde morreram 256 entre 2008 e 2016.

Ligações ancestrais e respeito ao diverso

De olho nos efeitos da discriminação, o Exame Nacional do Ensino Médio surpreendeu ao trazer para o debate o pajubá, um dialeto ou seleção de palavras utilizadas por travestis. De origem iorubá, a linguagem reafirma as conexões entre Brasil e África.

O tema da redação também incomodou. Como é tradição nos últimos anos, o Enem sempre surpreende com a escolha. Em 2018 não foi diferente e os candidatos precisaram debater controle de dados na internet.

O título exato foi Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet. Relevante, o assunto vai de encontro com casos emblemáticos, como a venda ilegal de dados de usuários encabeçada pelo Facebook e uma denúncia feita pelo jornal Folha de São Paulo sobre a injeção de mais de 10 milhões de reais de empresários apoiadores do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) para o envio de notícias falsas contra o candidato derrotado Fernando Haddad (PT).

O tal viés político foi criticado por alguns estudantes, que garantem que a internet não controla a vida de ninguém. Mas, para grande parte dos educadores, os candidatos não precisam necessariamente falar de política. O controle de dados permite dissertação sobre manipulação pelo consumo ou comportamento.

Confira abaixo algumas reações de pessoas que insistem em enxergar uma doutrinação comunista quando, na verdade, o objetivo é colocar fim em violências históricas contra grupos integrantes da sociedade.

Publicidade

Fotos: Reprodução


Canais Especiais Hypeness