Debate

‘Sai uma primeira-dama formosa e entra outra’: a objetificação da mulher no jornalismo reforça o machismo da sociedade

23 • 11 • 2018 às 12:06
Atualizada em 23 • 11 • 2018 às 12:09
Redação Hypeness
Redação Hypeness Acreditamos no poder da INSPIRAÇÃO. Uma boa fotografia, uma grande história, uma mega iniciativa ou mesmo uma pequena invenção. Todas elas podem transformar o seu jeito de enxergar o mundo.

A curiosidade em torno da primeira-dama Michelle Bolsonaro por parte de alguns veículos de comunicação se transformou rapidamente em machismo. Assim como aconteceu com Marcela Temer, a esposa de Jair Bolsonaro foi alvo de comentários misóginos de membros da imprensa brasileira.

O jornalista Ricardo Noblat, da Revista Veja, publicou um tuíte sobre Michelle dizendo que “nem tudo é retrocesso. Sai uma primeira-dama formosa e entra outra também formosa”.

A manifestação do jornalista com passagens pelo Jornal O Globo, reacendeu o debate sobre como a presença de uma mulher na política é interpretada pela sociedade. Para Lola Aronovich, professora de Literatura em Língua Inglesa da Universidade Federal do Ceará, o problema nasce na nomenclatura.

Parte da imprensa precisa aprender a conviver com mulheres poderosas

“Vale ressaltar que primeira-dama já é um termo machista, porque não existe equivalente para homem. Não existe porque o que se espera é que o homem seja o político que está no poder, enquanto a mulher seja apenas sua esposa (decorativa e mãe, as duas missões exigidas das mulheres em qualquer posição)”, escreveu.

A postagem de Lola foi uma resposta ao conteúdo publicado pela Veja, que descreveu Marcela Temer como “bela, recatada e do lar”. A reportagem se concentrou na relação de Marcela com Michel Temer e no guarda-roupa dela. Apenas no último parágrafo, a matéria revela a profissão da primeira-dama, que é bacharel em direito.

Durante o impeachment, Dilma sofreu ataques machistas da mídia

“Marcela Temer é uma mulher de sorte. Michel Temer, seu marido há treze anos, continua a lhe dar provas de que a paixão não arrefeceu com o tempo nem com a convulsão política que vive o país”, diz o trecho de abertura da reportagem.

O próprio Noblat, de 69 anos, quis saber sobre a relação do presidente com sua esposa. Durante o Roda Viva, da TV Cultura, ele perguntou, “Temer, como você conheceu Marcela?”. Virou meme e alvo de críticas pela atitude machista.

Dilma Rousseff não escapou do noticiário sexista. Quando tomou posse em 2015, a presidente eleita apareceu ao lado da filha. Foi o bastante para análises sobre seu ‘estilo’ e vida pessoal.

Marcela Temer foi descrita dessa forma pela Veja

“A maquiagem leve, o cabelo bem-arrumado e os brincos de pérola deram toques de feminilidade para o look – apesar da modelagem solta não favorecer em nada a sua silhueta.  É a segunda vez que Dilma é empossada e, em termos de estilo, ela aparenta mais segurança do que no primeiro mandato”, descreve o jornal Estado de São Paulo.

Michelle Obama, ex-primeira-dama dos Estados Unidos, acredita que a educação e o legado de mulheres fortes deve servir de inspiração.

“Sei que todas vocês têm muito para oferecer. Hoje, peço para que sigam o exemplo das mulheres fortes deste país, que vieram antes de vocês. Eu peço para que saibam quem são, para que ergam suas vozes sobre questões que são importantes para vocês, e para que construam um mundo melhor para vocês e para as jovens garotas no mundo todo. Eu sei que vocês conseguem. E acreditem: eu mal posso esperar para ver o que vocês realizarão nos próximos anos”, disse em discurso na Argentina.

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