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Olhando o copo meio cheio, dá pra ter certeza que as eleições de 2018 trouxeram boas novidades ao sistema político brasileiro. A presença maciça de mulheres eleitas para cargos federais e estaduais é motivo de alegria.
O fenômeno, consequência do aumento do alcance do movimento feminista, revelou aos olhos do país figuras como Erica Malunguinho, primeira transexual a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa de São Paulo; Áurea Carolina, deputada federal mais votada de Minas Gerais e Talíria Petrone, que garantiu sua cadeira no Congresso Nacional, em Brasília.
Em conversa com o Hypeness antes das eleições, Talíria manifestou confiança com o avanço das pautas e da representatividade feminina no cenário político nacional. “É preciso mais do que nunca construir coletivamente as condições para prosseguir na luta, para reunir a coragem necessária. Precisamos nutrir, fortalecer e garantir que cresça ao ponto de transformar a política de fato em um instrumento de poder para a conquista do bem viver de todas e todos, em condições de justiça e de igualdade na diversidade e na liberdade”, finaliza.
Talíria representa uma geração liderada por Marielle Franco
Talíria Petrone é professora de história, feminista negra e membra do PSOL desde 2010. O protagonismo na política teve início em 2016, quando foi eleita a vereadora mais votada de Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro. Desde então, vem ganhando destaque como uma voz crente na ocupação da política como instrumento de mudança social.
“Essa brutal desigualdade na representação de raça na política é o retrato do racismo estrutural que ainda oprime, segrega, criminaliza e extermina as pessoas negras no nosso país.
Vivemos num país racista, sob um Estado racista. Para mudar isso só há o caminho da luta coletiva na resistência e no enfrentamento a esse racismo.
Precisamos nos organizar para fortalecer cada vez mais a ocupação da política com a nossa gente e as nossas pautas. E é preciso ressaltar que não basta ser negro, tem que ter compromisso com a nossa luta por políticas e ações contra o racismo”, conclui.
Falando em representatividade, o pleito de 2018 mostra que negro e política não são palavras rivais. Pelo contrário. É possível dizer que a partir da morte de Marielle Franco – assassinada a tiros no centro do Rio de Janeiro, milhares de jovens negras se inspiraram na trajetória da quinta vereadora mais votada da capital fluminense. Marielle virou semente.
A pluralidade de mulheres negras foi beneficiada nestas eleições
“Marielle e eu nos elegemos em um mesmo contexto de ascensão do feminismo e da luta por representatividade da mulher na política. Já a conhecia da Maré, do tempo em que dei aulas lá num curso comunitário e das lutas que ela ajudava a organizar na favela. Já a admirava, mas foi na experiência comum de enfrentar cotidianamente as asperezas do parlamento que nos aproximamos ainda mais”, relembra Talíria.
Para a carioca eleita deputada federal, um dos principais legados deixados por Marielle foi o conceito de sororidade. A “cria da favela da Maré” buscou pensar a política partindo do mesmo viés coletivo que norteia agora os passos dados por Talíria, Áurea, Olívia Santana, Leci Brandão e outras mulheres negras politicamente ativas.
“Pensávamos juntas sobre a nossa atuação, uma puxava e fortalecia a outra. Criamos uma amizade bonita e quando ela foi assassinada perdi uma irmã, perdi uma parte de mim, e conheci uma dor que nunca havia sentido e que vai me acompanhar pra sempre. Entendi que ela foi morta porque era Marielle, mulher, negra, lésbica, favelada, socialista. Entendi que a escolheram porque, independentemente do que a investigação possa vir a trazer, ela era expressão de uma luta coletiva que tem incomodado muito aos operadores da velha política, de cunho autoritário, colonialista, patriarcal, oligarca, misógino, LGBTfóbico e elitista”.
“Entendi que ela foi morta porque era Marielle, mulher, negra, lésbica, favelada”
A estrada é longa, mas dá pra dizer que a representatividade feminina cresceu 51% no legislativo. O problema é que apenas 12 delas são mulheres negras. A disparidade dá continuidade aos efeitos gerados pelo racismo e a escravidão. Por isso, a criação de plataformas como o Mulheres Negras Decidem, que discute a inserção deste parcela da sociedade na política, é indispensável para a alteração do cenário.
“Sem dúvida que essa subrepresentação afeta negras e negros de diversas formas. Impacta não só pelo que deixa de acontecer, mas também pelo que acontece. Vivemos sob o racismo de Estado, o racismo institucional, que impacta diretamente nas condições de vida da população negra. Essa subrepresentação determina um modelo de Estado que serve aos interesses de uma elite branca, ao custo da saúde, da liberdade e da vida das negras e negros, assim como do meio ambiente. É esse modelo que promove a privatização dos serviços públicos conjugada à precarização do sistema público de saúde, de educação, de moradia.
É esse modelo que determina o encarceramento e o genocídio negro, com a direção de investimentos públicos pesados para, a pretexto do combate às drogas, construir prisões e armar o Estado contra a população negra e periférica, especialmente contra uma juventude que jamais teve acesso aos direitos humanos básicos.
Essa política racista que é praticada pelo Estado é decidida, sustentada e fortalecida por bancadas majoritariamente brancas dos parlamentos nos níveis municipal, estadual e nacional”, reflete Talíria Petrone.
Assim como Marielle Franco, Talíria vai enfrentar um dos cenários políticos mais conservadores dos últimos tempos. Com o avanço de representantes da chamada ‘bancada da bala’ e seguidores da ideologia propagada por Bolsonaro, candidato do PSL à presidência da República, será preciso ter jogo de cintura para avançar com ideias progressistas.
“A nossa presença na Câmara incomoda muito o status quo, por nossas iniciativas, por nossos votos, por nosso compromisso com as lutas de resistência da cidade. No meu caso, enfrentar os preconceitos de raça, classe e gênero na política é uma necessidade cotidiana. Esses preconceitos se refletem na forma como sou tratada no plenário e se refletem, por exemplo, na dificuldade que temos para aprovar projetos como o da lei que beneficiaria pessoas trans ao garantir o acesso a banheiros públicos conforme a identidade de gênero. Vivemos numa cidade onde a Câmara aprovou uma emenda ao Plano Municipal de Educação que proíbe o debate sobre gênero nas escolas”.
Mas, como cada brecha importa, durante pouco mais de um ano enquanto vereadora por Niterói, Talíria Petrone propôs leis que protejam e garantam os direitos das mulheres. Acesso ao aborto legalizado, combate ao racismo e à homofobia, foram os projetos de lei apresentados. Porém, até o momento apenas a obrigatoriedade de campanhas contra o assédio em ônibus foi aprovada.
Talíria Petrone integra o time de mulheres negras eleitas em 2018
“É uma pequena vitória na disputa das consciências. Temos ainda um pacote de PLs voltados para demandas específicas da negritude, construídos a partir do diálogo com o movimento negro. Um deles prevê 20% das vagas nos concursos municipais para negras e negros. Esse tipo de iniciativa também pode ser utilizada por nós como um instrumento de promoção do debate público e de denúncia o racismo de Estado, da desigualdade social e econômica em que vivemos”, explica.
Com apenas 33 anos, Talíria surfou na onda provocada pelo avanço das redes sociais. Seguindo com a visão do copo meio cheio, a descentralização do discurso abriu espaço para que pautas históricas fossem ouvidas.
“Esse é um caminho sem volta rumo à construção do poder popular. Creio que essa comunicação tem tido no último período histórico um papel importante, por exemplo, na defesa e valorização da luta pela representatividade negra e da mulher na política.
Acredito que o ascenso do feminismo, do antirracismo e desse movimento de luta por representatividade na ocupação da política é fenômeno que tem a ver com o incremento dessa comunicação de guerrilha, que se dá na marginalidade das redes e das ruas.
Ademocratização da comunicação precisa ser reconhecida e defendida como um direito humano transversal, um instrumento para a conquista do acesso aos demais direitos”.
Seja pela esquerda, direita ou centro, a comunicação para o desenvolvimento provoca uma erupção que ainda está para ser sentida dentro do escopo político nacional. Claro, para que as plantas floresçam saudáveis, é preciso regar muito o jardim com educação.
“Sou professora de História licenciada da rede pública municipal do Rio e também já trabalhei em um curso comunitário na favela da Maré. A educação está na essência da minha militância. E eu reivindico Paulo Freire para defender a educação como instrumento de construção da autonomia e da emancipação do ser humano.
Nestes tempos tenebrosos de avanço do conservadorismo de uma extrema direita com ideário fascista, mais do que nunca se faz necessário educar para a democracia e para a liberdade.
Na vida concreta, hoje, em todo o país, e em Niterói também, enfrentamos a luta contra o Escola Sem Partido, um projeto reacionário que tem se traduzido na aprovação de leis que amordaçam, censuram e geram a perseguição dos educadores, leis que proíbem o debate e o ensino contra o machismo, o racismo, a LGBTfobia e todas as formas de opressão. Precisamos fortalecer a luta contra tamanho retrocesso”.
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