Debate

Âncora da Band duvida de relatos de vítimas de João de Deus: ‘Tem 76 anos’

18 • 12 • 2018 às 11:15
Atualizada em 18 • 12 • 2018 às 11:15
Redação Hypeness
Redação Hypeness Acreditamos no poder da INSPIRAÇÃO. Uma boa fotografia, uma grande história, uma mega iniciativa ou mesmo uma pequena invenção. Todas elas podem transformar o seu jeito de enxergar o mundo.

Fábio Pannunzio, literalmente na calada da noite, resolveu desqualificar as mais de 500 pessoas que acusam João de Deus de violências sexuais como estupro e assédio. Durante o Jornal da Noite, exibido pela Band, ele colocou em xeque a credibilidade das mulheres.

“Olha, eu não tenho dúvida nenhuma que entre esses relatos têm muito trigo, mas também algum joio”, opinou.

O âncora seguiu o raciocínio, mas parecia desinformado sobre o caso. Pannunzio citou a idade de João de Deus, 77 anos, como um impeditivo para uma “performance sexual” satisfatória. Os relatos investigados pela Polícia Civil e o Ministério Público analisam abusos de 30 anos atrás.

Nem 500 denúncias são suficientes para algumas pessoas acreditarem nas vítimas

“Você acha mesmo que esse homem molestou 500 mulheres ao 76 anos de idade? É preciso mais do que hormônio pra se crer numa história dessa”.

Assim como a defesa de João de Deus, que chegou a chamar umas das mulheres de prostituta, o jornalista da Band acredita que possa sim existir uma conspiração, só que contra a religião espírita.

“No meio disso tudo pode haver uma grande campanha contrária a esse tipo de religião. É só pra você pensar um pouquinho quando ouvir esses números muito altos assim”, aconselhou.  

A fala de Pannunzio suscitou o debate sobre a insistência de culpar a vítima, sobretudo se ela é uma mulher. Efeitos do machismo, amigos. É comum em casos de estupro o comentário: ‘ah, mas ela tava usando roupa curta. Provocou’. Por mais incrível que pareça.

A defesa de João de Deus também desqualificou os relatos, chamando uma das mulheres de prostituta

“Nós, mulheres que fomos alvos de abusos, não encontramos apoio nenhum e absurdamente somos forçadas a conviver com os autores do abuso no espaço universitário. Ao passo que as vítimas são tratadas como ‘mentirosas’, mostrando desse modo que quem é estuprada ainda tem que conviver com a eterna dúvida por parte da sociedade. Como ser taxada como vítima de estupro fosse algo muito proveitoso”, diz uma nota de repúdio contra a cultura do estupro publicada no Blogueiras Negras.

No cenário de João de Deus, acusado por 506 mulheres e preso desde domingo (16) em Goiás, o medo do embate com um figura representativa e poderosa fala alto. Ao longo das décadas, muitas mulheres preferiam o silêncio temendo serem desqualificadas e colocadas em dúvida. Receio que cessou apenas com a exposição das histórias.

“Essa holandesa, estou recebendo informações, com um dossiê, de que tem um passado nada recomendável, o que pode descredibilizar sua palavra. Era uma prostituta e tinha um passado de extorsão”, disse aos jornalistas Alberto Toron, advogado de defesa de João de Deus.  

Até o momento nem a Band ou jornalista Fábio Pannunzio falaram sobre o assunto. No Brasil, 135 mulheres são estupradas todos os dias.

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Fotos: foto 1: Reprodução/foto 2: EBC


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