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Não há ninguém que fume cigarros hoje em dia que não saiba de todos os males que tal vício pode nos provocar. Nenhum fumante é mais ingênuo, e nem por isso, no entanto, ele larga o hábito, deixando sempre para amanhã aquilo que sabe que deveria ter feito ontem – só mais um dia, só mais um cigarro, agora a vida está muito difícil para parar, largarei no ano novo, vou deixar de fumar no meu aniversário. As desculpas são muitas, assim como os malefícios, e somente quem lucra com isso é a sanguinária indústria do tabaco.
Para o filósofo da computação Jaron Lanier, as redes sociais funcionam da mesma forma: “Evito as redes sociais pelo mesmo motivo que evito as drogas”, ele diz, afirmando categoricamente que deveríamos apagar todas as nossas contas.
A grande questão, para Lanier, é o modelo regido pela publicidade e a propaganda que hoje conduz a internet – um antigo paradigma, que antes simplesmente nos oferecia um produto, mas que agora, através do complexo jogo de algoritmos, pretende modificar a maneira com que pensamos, agimos e tomamos decisões. Sem que percebamos, feito um silencioso e invisível vírus que entra por nossos olhos vidrados, tal adestramento visa somente o lucro e o poder dos poucos magnatas que hoje comandam a internet – e, com isso, nossas vidas.
O filósofo Jaron Lanier
Pode parecer paranoico: tanto quanto parecia quando se dizia, na década de 1960 e 1970, que o cigarro destruía nossa saúde. Basta se lembrar, para ficar na camada mais evidente, das últimas eleições americanas e brasileiras, para sentir o peso das redes sociais sobre nossa saúde política, comportamental, eleitoral, democrática. Temos certeza hoje do mal que o cigarro nos faz, mas já sabemos, mesmo que intuitivamente, dos males das redes sociais – só não gostamos de admitir, de saber que deveríamos realmente larga-las. Foi em forma de manifesto, como um convite de libertação, que Lanier, um dos precursores da internet e da realidade virtual, escreveu o livro “Dez Argumentos para você deletar agora suas redes sociais”.
Lanier à época do desenvolvimento da Realidade Virtual
O título ironicamente soa como um clickbait – uma chamada sensacionalista, comumente exagerada com relação ao real conteúdo a que se refere, pensada para que o usuário clique no link -, prática tão comum quanto nociva nas redes, e fundamental para a manutenção das fake news. Nesse caso, no entanto, sabemos que não há nada de fake no que o título chama – e que, por mais utópico e inviável que a prática sugerida possa parecer, o mal que o livro denuncia é evidente e urgente. Para entender melhor o que Lanier acusa em seu livro, separamos alguns dos pontos mais gerais dos “Dez argumentos” e esclarecemos o princípio de cada ponto que ele sugere para que, ao menos por um tempo, abandonemos as redes sociais.
Capa do livro
Como ratos em laboratórios, através do registro de nossas ações em redes, somos parte de um experimento, no qual empresas, partidos políticos ou difusores de notícias falsas aproveitam momentos mais sucetíveis para nos enviar suas mensagens – a fim de nos vender uma ideia, uma mentira, um produto, e assim pautar nosso comportamento financeiro, ideológico ou eleitoral.
Apesar da promessa e da impressão de aproximação e conexão que as redes sugerem, através do bullying virtual, dos trolls e principalmente da manutenção e ostensão de padrões de beleza, riqueza e status (na maioria das verdades também falsos), o efeito que pesquisas comprovam é, em verdade, de uma sensação ainda maior de isolamento – aprofundada pela maneira com que os algoritmos efetivamente nos isolam em bolhas, e com isso nos rotulam e definem.
Através do uso de bots, não só mentiras funcionais, com intenções políticas ou financeiras, se transformam em verdade na manipulada opinião pública, como teorias estapafúrdias e delirantes, como o terraplanismo e os movimentos contra as vacinas, ganham fabricados contornos reais, criando, por exemplo, uma tendência contrária à ciência, ao bom jornalismo, às pesquisas ou à verdade de modo geral que nos traz perigos efetivos e, esses sim, reais.
A grande questão por trás desse argumento é a tal “bolha”: o isolamento em nossas bolhas, pelo algoritmo que nos oferece somente aquilo que já conhecemos, concordamos, nos reconhecemos e com o qual nos sentimos confortáveis – e, com isso, não vemos ideias e pessoas com as quais não concordamos, que nos desafiam, que exijam de nós nossa compreensão e diálogo, lidando somente com a caricatura (eventualmente mentirosa) de tais expressões.
O modelo de rendimento através da publicidade encobre o fato de que atualmente são os usuários que produzem o conteúdo sobre os quais as empresas anunciam – sem que recebem um centavo por isso. A solução sugerida por Lanier seria que pagássemos para utilizar as redes, e pudéssemos receber alguma compensação pela produção de conteúdo que hoje são ofertados gratuitamente para que se tornem matéria de publicidade.
A contra-capa do livro, com todos os argumentos
E os argumentos seguem: as redes sociais tornam a política impossível, odeiam sua alma, tornam o usuário um idiota, tiram o sentido do que dizemos, até o mais direto e objetivo argumento, que diz que “largar as redes sociais é a maneira mais certeira de resistir à insanidade dos nossos tempos”.
Claro que a provocação do livro, migrando da utopia para uma prática mais possível, pode muito mais ser visto como uma série de apontamentos onde as redes precisam mudar – e deixar de serem vistas somente como empresas privadas ambicionando o lucro irrestrito, para passarem a serem vistas como canais de mídia, que precisam seguir premissas éticas e de responsabilidade. Pois, seja como for, a felicidade, a democratização e o espaço para denuncia – que efetivamente também existem na internet e nas redes – parecem estar perdendo a disputa para um mar de chorume e consequências nefastas que também vêm das redes – e que, por fim, parece ainda mais favorecer os poderosos, os preconceitos, e nos deixar infelizes.
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