Inspiração

Condenado por grafite político na ditadura na Espanha recria arte aos 92 anos

10 • 12 • 2018 às 09:46 Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Corria o ano de 1947 e a ditadura do general Francisco Franco estrangulava as liberdades gerais na Espanha quando o jovem estudante de história Nicolás Sánchez-Albornoz decidiu grafitar o muro da Universidade Complutense de Madrid como forma de protesto: “Viva la Universidad Libre”, foi o que Nicolás escreveu nas paredes, contra a censura e a perseguição que regiam os ensinos e a própria sociedade à época.

Detido pela polícia, Nicolás foi condenado a seis anos de prisão em campos de trabalho forçado – ao escapar e se tornar historiador, ele tornou-se também um símbolo da luta pela liberdade na Espanha.

O jovem Nicolás, ao meio da foto, à época da prisão

Passados mais de 70 anos do episódio, aos 92 anos Nicolás foi convidado a retornar ao cenário de sua prisão, e mais: repetir o gesto que o levou preso, e recriar a mesma imagem e frase nas paredes da universidade.

A data escolhida, dia 20 de novembro, não foi por acaso: é o dia do aniversário de morte do ditador Franco, data na qual é comum que neofascistas celebrem o terrível legado do regime franquista.

Nicolás, atualmente, durante a cerimônia

“Estou comovido”, disse Nicolás, diante do simbólico convite. “Quando eu estava na Universidade, não podíamos imaginar ver um evento como esse”, afirmou. Membro desde 1991 da Real Academia de História de Madri e tendo sido o primeiro diretor do Instituto Cervantes, a trajetória de Nicolás, chegando a esse ciclo completo de repetir o gesto que o levou à prisão para agora ser celebrado, é um exemplo tanto do passado nefasto ao qual país nenhum deve retornar, como também de, apesar dos percalços, de como uma nação pode superar mesmo os maiores horrores de uma guerra civil e uma longa ditadura.

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