Hypeness
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por: João Vieira
O futebol moderno se distancia cada dia mais da proposta inicial do esporte mais popular do planeta. Acusações de estupro envolvendo jogadores famosos, como Cristiano Ronaldo e Robinho, atitudes machistas e abusivas acontecendo a torto e a direito sem provocar qualquer incômodo e, claro, a violência, fazem com que o ambiente tóxico ao qual esse espetáculo tão querido pelo povo latino-americano se sobressaia completamente ante os hoje em dia raros casos inspiradores provocados pelo esporte bretão.
A recente confusão ocorrida durante a final (que nunca acaba) da Libertadores entre Boca Juniors e River Plate, talvez o maior clássico do mundo, escancara um dos principais gatilhos para a existência de todos os problemas citados acima: o distanciamento do futebol de seu povo.
Após o ônibus do Boca ser alvejado com pedras e garrafas, provocando ferimentos em diversos jogadores, na entrada do Monumental de Nuñez, estádio do River, onde seria realizada a segunda perna da final latina, a Conmebol encontrou uma saída para cometer um crime sem precedentes contra a honra do futebol sul-americano.
LAMENTÁVEL!
Ônibus do Boca é recebido a pedradas pela torcida do River Plate. pic.twitter.com/TtTl0EN3fp
— Escanteio Curto 🇧🇷 (@ESCANTElOCURTO) 24 de novembro de 2018
A final saiu de Buenos Aires, capital argentina, e foi para o Santiago Bernabéu, famosíssima casa do Real Madrid, principal equipe da capital da Espanha.
A Copa Libertadores da América foi criada em 1960, tornando-se a segunda competição continental de clubes mais importante do mundo, atrás apenas da UEFA Champions League. O nome do torneio é um homenagem a José Artigas (militar uruguaio), Simón Bolívar (militar venezuelano), José de San Martín (general argentino), José Bonifácio de Andrada e Silva (patrono da independência do Brasil), D. Pedro I do Brasil (primeiro imperador do Brasil), Antonio José de Sucre (militar e estadista venezuelano) e Bernardo O’Higgins (militar e estadista chileno), os principais líderes do movimento de independência das nações da América do Sul, predominantemente colonizadas justamente… pela Espanha.
Jogo de ida da final da Libertadores, na Bombonera, acabou 2 a 2
Levar a maior final da história da Libertadores para Madrid é um desrespeito não só ao futebol sul-americano (afinal, a partida ocorrerá a mais de 10 mil quilômetros de seus torcedores), como também – e principalmente – à história de luta honrosa e sangrenta de todo um continente. É como se a Conmebol estivesse utilizando o ato violento de 24 novembro como justificativa para vender a liberdade latino-americana de volta aos espanhóis.
Como se não bastasse a violência histórica de uma final de Libertadores entre Boca e River ocorrendo em Madrid, a mudança também é mais uma representação da política entreguista dos comandantes do futebol, que roubaram o esporte das mãos do povo e entregaram para as elites.
No Bernabéu, torcedores que conseguirem desembolsar uma quantia considerável em tão pouco tempo para cruzar o Atlântico em nome da paixão, terão direito a apenas 10 mil ingressos, sendo 5 mil para hinchas do Boca, e outros 5 mil para os do River. Entre os argentinos residentes na Espanha, cada torcida terá direito a mais 20 mil entradas.
Ao todo, para Xeneizes e Millonarios, serão disponibilizados 50 mil ingressos Os outros 30 mil caíram nas mãos de sócios do Real Madrid, que já esgotaram sua cota. Os preços nessa categoria variavam entre 350 e 964 reais. No entanto, segundo a ESPN, a maioria dos torcedores merengues compraram os ingressos apenas para revenda na internet, onde estão cobrando pelo menos o triplo do valor original.
Final da Libertadores será no Santiago Bernabéu
A elitização dos estádios é um movimento recente que, na América do Sul, tem ocorrido, em especial, desde que o Brasil foi escolhido como sede da Copa do Mundo de 2014. Por aqui, se antes era comum ver arquibancadas repleta de pessoas negras e de classes sociais mais baixas, hoje em dia esses espaços deram lugar a cadeiras numeradas, capuccinos e torcedores brancos das grandes elites brasileiras.
Copa do Mundo foi evento para elites brasileiras
Independente da elitização, o futebol foi criado dentro de um ambiente violento que apenas reproduz o modelo de masculinidade tóxica imposto ao homem – e do qual ele se beneficia e se degrada -, e as ocorrências na final da Libertadores também comprovam isso.
Monumental de Nuñez ficou vazio após adiamento do jogo
Os ataques selvagens de torcedores do River contra o ônibus do Boca são símbolos de como a política do “pode tudo” no futebol permite que, impunemente, o público majoritariamente masculino mostre o pior de si de forma absolutamente confortável e liberal. Assim, cria-se dentro do esporte um ambiente homofóbico, machista, misógino, agressivo e mortal, sempre justificado por uma suposta irracionalidade provoca pela paixão ao clube.
O futebol precisa ir ao divã e resolver seus problemas. Chegou a hora do esporte e seus envolvidos buscarem autoconhecimento, lembrarem de onde vieram e entenderem que, com essa política de entreguismo, elitização e violência, terão o mesmo destino que o padrão de masculinidade: uma sangrenta, dolorosa e lenta autodestruição.
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