Empreendedorismo

Papai Noel há 23 anos lembra momento mais triste da carreira: ‘Garotinho pediu emprego para o pai’

21 • 12 • 2018 às 11:45 Rafael Oliver
Rafael Oliver   Redator Redator publicitário de formação, com passagens por grandes agências, além de roteirista e produtor de conteúdos, descobriu no Hypeness seu amor pelo jornalismo. Aqui desde 2018, marca presença na cobertura de grandes eventos e festivais de entretenimento. De Gilberto Gil a Fernanda Montenegro, já publicou entrevistas com grandes artistas brasileiros. Sempre atento a novas tecnologias, escreve sobre inovação e também faz review de aparelhos tecnológicos.

São 9h da manhã de uma sexta-feira. Na porta de um movimentado shopping  da capital paulistana, ainda com as portas fechadas, aguardo a chegada do entrevistado. De longe avisto o carro vermelho e um senhorzinho no volante acenando. Era ele: Antônio de Oliveira Neves. Entro em seu carro e o acompanho até o estacionamento, onde possui uma vaga VIP. Pergunto se fez boa viagem e se pegou muito trânsito.

“Moro lá na Mooca. Acordei as 6h da manhã. Hoje estou sem o trenó, tive que enfrentar o congestionamento”, brinca. No caminho para o camarim, onde troca de roupa, vai cumprimentando os funcionários do shopping, que demonstram muito carinho por ele. “Ele é nosso Papai Noel há 20 anos. Todos amam ele aqui”. Não é à toa. Antônio chega bem humorado, visivelmente feliz e empolgado para mais um dia de trabalho.

‘Tem que comer bem… Eu precisaria estar um pouco mais gordo, mas foi muita correria esse ano’

Já no camarim, Antônio encontra suas roupas prontas para serem vestidas. “Demoro uns 20 minutos pra me trocar, tem bastante detalhe na roupa”. Pergunto se existe alguma dieta especial para ser Papai Noel. “Tem que comer bem. Precisaria estar um pouco mais gordo, mas foi muita correria esse ano, faltou um pouco mais de peso”, lamenta.

 

‘Queria que tivessem pelo menos dois Natais no ano’

Obviamente não é possível trabalhar como Papai Noel durante o ano. Antônio tem que ralar pra conseguir se sustentar. Trabalha como vendedor de baterias para carro. “Não tenho férias… Tenho que trabalhar muito. Esse ano as vendas caíram 50%. Não tá fácil…”. Ele conta que espera ansiosamente a época do Natal. Quando chega dezembro, já começa a escutar as músicas natalinas. “Eu amo o Natal. Queria que tivessem pelo menos dois Natais por ano.”

 

‘…um garotinho me pediu de presente um emprego para o pai dele. Com certeza esse foi o pior momento’

Após calçar as botas, Antônio está pronto para começar o expediente. Seguidos pelos ajudantes contratados pelo shopping, caminhamos até o local onde está instalado seu trono. Aproveito para perguntar mais sobre a profissão. Antônio revela que o mais gratificante é poder proporcionar momentos felizes para as crianças.  Já quando perguntei se existe algo ruim em seu trabalho, sua expressão rapidamente mudou. Antônio relembrou o momento mais triste em toda sua carreira como Noel: “Foi quando um garotinho me pediu de presente um emprego para o pai dele. Com certeza esse foi o pior momento.”

‘Parei de fumar e de beber. Larguei todos os vícios. Tudo pela profissão’

As crianças começam a aparecer e fica cada vez mais difícil falar com Antônio. Em um dos intervalos, ele conta como começou na profissão. “Há 23 anos meu filho sugeriu que eu fosse Papai Noel num shopping. Ele comprou a fantasia na 25 de março. A barba era postiça. As crianças arrancavam. Mas me apaixonei pela profissão.” Pra seguir em frente, Antônio teria que fazer algo mais difícil que deixar a barba crescer e ganhar uns quilinhos. Também precisaria abrir mão de alguns costumes. “Parei de fumar e de beber. Larguei todos os vícios. Tudo pela profissão”

Depois de tanto tempo trabalhando no mesmo lugar, Antônio recebe visitantes já conhecidos, que mesmo depois de adultos retornam para encontrá-lo. “Tem gente que vem aqui desde quando comecei. Tem um garoto que sempre me pedia pra eu ajudar ele a passar de ano. Cresceu, continuou vindo me visitar todo ano. Hoje ele voltou e me pediu uma entrevista pro Hypeness”.

Antônio de Oliveira Neves parece ter nascido predestinado à essa profissão, a começar pelo seu sobrenome. Aos 78 anos, diz que ainda tem muita disposição pra trabalhar. Durante a carreira, já fez dezenas de campanhas publicitárias, deu entrevista pra jornais e revistas, tomou café com a Ana Maria Braga e foi contratado para diversos eventos. Mas segundo ele ainda falta algo… Acredite se quiser, até o Papai Noel tem um pedido de Natal: gostaria de fazer um livro contando toda sua trajetória. Fofo, né? Quem sabe o shopping não faz uma surpresa e dá esse presente pra ele no ano quem vem? Fica a dica.. 😉

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