Desde que a série de Marie Kondo começou a ser exibida pela Netflix, não se fala em outras coisa. Embora a japonesa se destaque pelas dicas preciosas para manter uma vida organizada e uma relação saudável com o lar, a questão de gênero deve ser levada em conta.
Os casais que participam de Ordem na Casa com Marie Kondo (fizemos umas dicas bem legais aqui), mostram o trabalho invisível das mulheres na vida doméstica. Invariavelmente, as mulheres assumem o fardo da organização. Acontece em casa, no escritório. Com o patrão e o marido.
É obrigação do sexo feminino saber onde estão os objetos. E homem? Bom, muitos se limitam em perguntar, “onde está tal coisa?”

Marie Kondo é questão de gênero também
A imposição gera uma carga mental sem precedentes. No caso de mulheres de classes sociais menos favorecidas, o problema se agrava. São jornadas triplas de trabalho. Primeiro, organizar a casa dos patrões, depois voltar e cuidar de tudo no próprio lar.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Brasil responde pela maior população de trabalhadores domésticos do mundo. São 7 milhões de pessoas em um setor predominantemente feminino e negro. Para especialistas, o fato é alimentado pela desigualdade e dinâmica social (machismo, por exemplo) construídos desde a abolição da escravidão no país.

Na sua casa, quem cuida das coisas é a mulher?
“Ainda hoje o trabalho doméstico é uma das principais ocupações entre as mulheres, que são a maioria no setor em todo o mundo, cerca de 80%. No Brasil, permanece sendo a principal fonte de emprego entre as mulheres”, explica à BBC Claire Hobden, especialista em Trabalhadores Vulneráveis da OIT.
Apesar da classe média contribuir para a manutenção deste universo, o sistema é similar. A Bright Horizons – empresa de serviços de cuidado infantil, ouviu em 2017 2.082 adultos empregados com pelo menos um filho, 86% das mães trabalhadoras precisavam também gerenciar as responsabilidades da casa.
A American Time Use Survey de 2017, afirma que em um dia, 49% das mulheres realizam tarefas doméstica, em comparação com 19% dos homens.
Outros movimentos nas redes sociais trataram da desigualdade entre homens e mulheres dentro e fora de casa. Em ambos os aspectos, ficou fácil perceber a atitude dominante exercida pelo homem. A mesma percepção ao assistir Marie Kondo na Netflix.
Trocando em miúdos, além de dar dicas preciosas de organização física e mental, Marie Kondo contribui para uma visibilidade maior da disparidade de gênero provocada pelo machismo.