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A festa do Oscar está na boca do povo. Desde a noite de domingo, a premiação marcada pela consagração de atrizes, atores e diretores negros, rendeu frutos inspiradores para a diversidade no cinema.
A eleição de Green Book: O Guia como melhor filme pela academia do cinema de Hollywood, no entanto, causou incômodo. A produção levou três estatuetas para casa, incluindo a de melhor ator coadjuvante para Mahershala Ali e o prêmio mais importante da noite.
Para entender a história, é preciso compreender não só a complexidade das relações raciais, mas como a figura do negro é acomodada no meio disso tudo. Green Book conta os fatos reais da amizade de Don Shirley (Mahershala Ali), homem negro e pianista talentoso, que entra em turnê pelo Sul dos Estados Unidos – região conhecida pelo racismo histórico – ao lado de seu motorista, Frank Vallelonga (Viggo Mortensen), que é branco.
O branco como salvador da alma negra não cola mais
O roteiro se desenvolve e adivinhem? Coloca o negro como passivo. A história é contada partindo da ótica de Vallelonga e muitas das críticas se dão pelo motivo citado acima e a ausência de figuras negras na produção do longa roteirizado pelo filho de Frank, Nick Vallelonga.
Para usar um termo da moda, a família de Don Shirley se pronunciou dizendo que o filme ‘passa pano para brancos’. Além de não terem sido consultados, os familiares do pianista alegam que a proximidade entre os dois não foi como o retratado nas telonas.
Mesmo com os avanços, o bom samaritanismo de homens e mulheres brancas é uma prática comum em Hollywood. Em 2011, o filme Histórias Cruzadas tratou da vida de Sketter – uma garota branca que sonha em virar escritora. Ela entrevista algumas mulheres negras do segregado Mississippi dos anos 1960. Depois, resolve escrever um livro sob o ponto de vista das empregadas afro-americanas que trabalham para famílias brancas.
Viola se arrepende de ter feito ‘Histórias Cruzadas’ pela passividade
O longa rendeu elogios e foi indicado para diversos prêmios, incluindo melhor filme no Oscar. Viola Davis concorreu a melhor atriz e as colegas de cena Octavia Spencer e Jessica Chastain, incluídas na categoria de melhor atriz coadjuvante.
Pergunte para Viola se ela gostou de fazer o filme? A estrela de How to get away with murder declarou ao New York Times que Histórias Cruzadas integra a lista de projetos que ela gostaria nunca ter feito.
Mahershala Ali brilhou em um filme controverso
“Eu senti que ao final do dia, não eram as vozes das empregadas que foram ouvidas. Eu conheço Aibillen. Eu conheço Minny. Elas são minha avó. Elas são minha mãe. E eu sei que, se você faz um filme onde toda a premissa é saber como é trabalhar para pessoas brancas e criar filhos em 1963, eu quero ouvir como você realmente se sente sobre isso. Eu nunca ouvi isso no decorrer do filme”, refletiu.
O racismo não é nada sutil e você sabe disso. Então, qual é a da insistência de relatar a segregação racial – seja no Brasil ou Estados Unidos, com sutileza? Por isso, em terra de Green Book, quem tem Spike Lee é rei.
Pasmem, mas só após mais de 30 anos de carreira, o diretor norte-americano ganhou seu primeiro Oscar e isso diz muito sobre o sucesso e o incômodo causado por filmes como Green Book.
Lee, que virou de costas ao ser perguntado sobre a escolha de melhor filme no Oscar 2019, se caracteriza por um cinema de ação. O precursor da Black New Wave estreou no Festival de Cannes em 1986 com Ela Quer Tudo e SEMPRE fez questão de falar de comportamento, amor e racismo de uma perspectiva negra. Bingo!
Fiquemos com o cinema transgressor de Spike Lee
O sucesso mais recente da longínqua carreira veio justamente no Oscar de 2019. Ele, finalmente, ganhou o prêmio pelo melhor roteiro adaptado por Infiltrado na Klan – que apresenta um policial negro do Colorado que consegue se infiltrar no grupo racista Ku Klux Klan ao se comunicar com os outros membros por telefone.
– Coisa de preto é ganhar o Oscar. O maravilhoso e histórico discurso de Spike Lee
– ‘Pantera Negra’ acerta ao falar de escravidão sem mostrar o negro como escravo
– Como Monteiro Lobato alimentou racismo segundo contador de histórias do povo negro no Twitter
A trajetória de Ron Stallworth é representada a partir do protagonismo de John David Washington. Sem delongas, Spike Lee apresenta o racismo que vive nos Estados Unidos e ao final não pensa duas vezes em chamar Donald Trump de racista.
“Aquele filho da puta não denunciou a maldita (Ku Klux) Klan, os extremistas de direita e os nazistas filhos da puta. Ele poderia ter dito ao mundo: ‘Nós somos melhores do que isso’”. A fala proferida no mesmo Festival de Cannes onde o filho ilustre do Brooklyn estreou décadas atrás é a respeito da inserção na película de uma manifestação nazista em Charlottesville.
O protesto de supremacistas brancos acarretou na morte de uma pessoa e foi relativizado por Donald Trump. Ele chegou a dizer que existiam “pessoas boas” de ambos os lados.
Pantera Negra não pode ser esquecido. O maior sucesso da história das franquias de super-heróis rendeu prêmios (só no Oscar foram 3) exatamente pela perspectiva negra. Do que adianta querer falar de racismo ou exaltar a pluralidade de África a partir de um olhar branco? Não dá.
O roteiro, como escreveu o Hypeness, acertou ao falar de escravidão sem colocar o negro como escravizado. A gente agradece os afagos de Tarantino em Django Livre, mas é preciso mais que o escravizado vingativo. Que tal reis e rainhas, como eternizou devidamente o trabalho dirigido por Ryan Coogler?
Mulheres negras participaram da concepção de ‘Ela Quer Tudo’
Quer outro exemplo? A versão contemporânea de Ela Quer Tudo – lançada pelo Netflix em 2018 (falamos aqui), oferece ao público o olhar do cotidiano de uma mulher negra a partir do seu próprio ponto de vista. O enredo sobre amor, racismo, feminismo negro e a vida em uma cidade cosmopolita como Nova York foi escrito com a colaboração de outras afro-americanas. Uma delas é a artista Tatyana Fazlalizadeh, que colaborou com Lee na concepção da primeira temporada.
Para terminar, exaltemos o trabalho de Mahershala Ali e deixemos o recado dado por Spike Lee na premiação do Oscar.
“Hoje é 24 de fevereiro, o mês mais curto do ano. Também é o mês do ano da história negra. 1619… Há 400 anos nós fomos roubados da África e trazidos para a Virginia, escravizados. A minha avó, que viveu até 100 anos de idade, apesar de sua mãe ter sido escrava, conseguiu se formar. Ela viveu anos com seu seguro social, e conseguiu me levar para a universidade NYU. Diante do mundo, eu gostaria de reverenciar os ancestrais que construíram esse país, e também os que sofreram genocídios. Os ancestrais que vão ajudar a voltarmos a ganhar nossa humanidade.
Diante do mundo inteiro, esta noite, eu louvo nossos antepassados que ajudaram a construir este país e [inaudível] hoje junto com o genocídio de seu povo nativo. Se todos nós nos conectarmos com nossos ancestrais, teremos amor, sabedoria, recuperaremos nossa humanidade. Será um momento poderoso. A eleição presidencial de 2020 está chegando. Vamos todos nos mobilizar. Vamos todos estar do lado certo da história. Faça a escolha moral entre amor versus ódio. Vamos “fazer a coisa certa”! Vocês sabiam que eu tinha de dizer isso!”
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