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por: Kauê Vieira
Marielle, vive! Aceita. Dói menos. Pouco mais de uma semana antes de completar um ano desde o assassinato da quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro, a Estação Primeira de Mangueira, fez novamente, ecoar a pergunta. Quem matou e quem mandou matar Marielle?
A simbologia representada pela cria da favela da Maré foi o ponto de partida para um desfile sobre o Brasil de verdade. Negro, índio e cafuzo. O Brasil alvo insistente dos coturnos do apagamento.
Vencedora do Estandarte de Ouro – oferecido pelo jornal O Globo para a melhor escola do Grupo Especial em 2019, a verde e rosa recontou a história do país chocolate mel trazendo consigo heróis da resistência negra e indígena.
Marielle está mais viva do que nunca!
Esqueça Pedro Álvares Cabral, a família real portuguesa, os Bandeirantes de São Paulo, Princesa Isabel (viu, Vila?), na Sapucaí reinaram reis e rainhas negras e indígenas. História para Ninar Gente Grande, assinado pelo carnavalesco Leandro Vieira, revelou a potência de símbolos ignoradas ou tratados com passividade pelos livros de história.
Você já esteve em um terreiro? Conhece a história do índio Tupã? Sabe que o alfabeto brasileiro é atravessado de palavras de origem africana? Tem noção da presença negra na receita do acarajé? Não? Então, meu nego, você precisa conhecer o Brasil de verdade.
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Os 3.500 componentes da Mangueira deram o valor devido para representatividade que mora na potência de figuras como a de Luiza Mahin, representada com maestria por Leci Brandão. Nossos passos vêm de longe. Muito mais do que uma ex-escravizada, se tornou uma das lideranças na luta contra a escravidão na Bahia do início do século 19.
O Brasil é muito mais do que ensinaram os livros de história
A mãe do abolicionista Luiz Gama é central na Revolta dos Malês. Não te contaram na sala de aula, mas o movimento retratado na Sapucaí lutou pela liberdade com aproximadamente 600 negros africanos escravizados. Mahin, vendedora de quitutes, se comunicava com os homens por meio de bilhetinhos.
Ponto para a Mangueira. A escola foi elemento fora da curva em uma estrada ainda com trajeto viciado. Em 2019, a Unidos de Vila Isabel teve a batida ideia de homenagear Princesa Isabel, considerada a responsável pela ‘liberdade’ de negros e negras escravizadas. Luiza e a Revolta dos Malês mostram o contrário. Também Zumbi e Dandara – vivos pela caracterização sublime de Alcione e Nelson Sargento.
A verde e rosa retratou o Brasil negro e indígena na Sapucaí
“Brasil, o teu nome é Dandara
Tua cara é de cariri
Não veio do céu
Nem das mãos de Isabel
A liberdade é um dragão no mar de Aracati”
E os índios? A postura adotada pelos seguidos governos não deixa mentir, o Estado brasileiro não considera a comunidade indígena como parte de sua história. Alvos constantes do massacre carregado pelo preconceito propagado pelo progresso vazio, a diversidade e cultura indígena teve voz. Cantou alto.
O progresso vazio faz de tudo para aniquilar os índios
Além de Tupã, que esteve presente em uma ala da escola paulistana Mocidade Alegre, a Mangueira deu vida para Sepé Tiaraju, líder da Guerra Guaranítica. A rebelião de índios guaranis foi uma reação à assinatura do Tratado de Madri pelas coroas de Portugal e Espanha em 1750.
O historiador e autor Luiz Antônio Simas ressaltou a necessidade de enredos como o proposto pela agremiação carioca.
“O enredo vai na linha defendida por Walter Benjamin, grande filósofo e teórico da História, que falava da necessidade de ‘escovar a história a contrapelo’, ou seja, de tentar mostrar os lados não vinculados à história oficial – das grandes efemérides, e dos heróis consagrados do panteão da pátria”, disse ele à BBC Brasil.
Leandro Vieira não poupou os Bandeirantes no enredo
A última ala deu a letra. Bandeiras com os rostos de Marielle Franco, Jamelão, Cartola e Carolina Maria de Jesus tremulando no céus da Sapucaí. Em tempos de mudança, que tal um Brasil que contemple grande parte de sua população?
Ao contrário do que pensa Rodrigo Amorim, protagonista da horrenda cena em que parte ao meio uma placa com o nome de Marielle Franco, ela não só vive, está eternizada. O Brasil que esta mulher e negra da favela carrega segue em franca evolução. Sem marchar, como deu o tom a bateria da verde rosa. Já dizia o Fundo de Quintal, segue ao som de atabaques e tantãs.
Você já foi num terreiro? Conhece a história de Tupã?
Como afirmou Mônica Benício ao G1. “Eu não me dou nem ao trabalho de sentir alguma coisa porque hoje ele pôde ver, depois do episódio das placas, mais uma vez, o tamanho que a Marielle tem, coisa que ele jamais terá”, encerrou a viúva da vereadora morta no centro do Rio.
Mangueira deu o compasso, mas com a triste ausência da família sanguínea de Marielle Franco, que não foi convidada pela agremiação. Eles desfilaram na Unidos de Vila Isabel.
Marielle vive! Agora, quem mandou matá-la?
No entanto, que o recado dado pela escola do Rio de Janeiro seja absorvido por um Brasil compromissado com a diversidade. A mudança é difícil. Não existem soluções fáceis. A possibilidade está aí. Vamos, juntos?
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