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Pedir comida por aplicativo se tornou uma febre mundial. Também pudera, não há nada mais cômodo do que esperar sentadinho no sofá o rango chegar. Estima-se que o mercado brasileiro cresça mais de 17% em 2019.
O setor gastronômico online movimenta mais de 10 milhões de reais. Em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, já virou parte da rotina ver homens e mulheres pedalando com suas mochilas coloridas pra lá e pra cá.
Agora, como fica a periferia? Como acontece tradicionalmente com a escassez de mobilidade urbana, pontos mais afastados dos centros das cidades brasileiras sofrem com a exclusão, gastronômica inclusive.
Iago (co-fundador e designer), Lucas Fernando (co-fundador), Gabriel Vinícius (Dev Ops) e Naomy Oliveira (administração) são jovens moradores de bairros da periferia de Salvador. Juntos, os três criaram o TrazFavela, aplicativo que conecta empresas com motoboys para oferecer serviço de delivery na quebrada.
Essa gente criativa! <3
“Eu percebi que bairro onde moro, São Caetano, não é coberto pelos famosos aplicativos de delivery de ‘tudo’. Daí, fui participar de um evento chamado Startup Weekend. As pessoas levam suas ideias para receber suporte para a construção do modelo de negócio. Fui com interesse de ajudar outras pessoas com suas ideias, mas acabei apresentando o TrazFavela” – conta Iago Santos em entrevista ao Hypeness.
O aplicativo está em processo final de produção, mas promete revolucionar a vida dos moradores, não só de São Caetano, mas da perifa soteropolitana. Gás, comida, medicamentos, tudo pode ser entregue através do app. Novidade bem-vinda.
Salvador possui 3 milhões de habitantes e a segunda maior população do Brasil morando em favelas. Mais de 33% dos soteropolitanos vivem nestes espaços. Os dados são de pesquisa divulgada pelo IBGE em 2011.
O levantamento, baseado no Censo 2010, mostra que há quase 10 anos atrás mais de 882 mil pessoas moravam em bairros periféricos. Questão histórica e diretamente ligada à escravidão. Salvador foi a primeira capital do Brasil e até os dias de hoje convive com desigualdades oriundas do período.
A periferia tem um potencial criativo e consumidor enorme
A tecnologia do TrazFavela mostra que, ao contrário do que é dito historicamente pelos veículos de comunicação e a repressão excessiva do Estado, a quebrada é e pode muito mais. Iago está animado com o universo de possibilidades.
“O impacto vai ser muito grande, pois é uma necessidade que existe, não só em Salvador, mas em vários outros lugares. Vemos que tem uma procura, mas não são disponibilizados para quem mora em ‘áreas de risco’, como no caso dos aplicativos já existentes”, prospecta.
O momento é de trabalho intenso para a estruturação da parte operacional e desenvolvimento do aplicativo. No entanto, não tem como não sorrir ao pensar no número de portas que serão abertas com o TrazFavela.
Tecnologia é aliada importante do desenvolvimento endógeno
Como boa parte da capital baiana, São Caetano é um bairro cravado de ladeiras. Além de pique e preparo físico, os entregadores precisam conhecer muito bem ruas e vielas da região. Ponto para o aplicativo, que pretende contratar moradores locais para a operação do serviço de delivery.
Todo mundo sai ganhando. Mas não é só isso. Você já parou pra pensar no potencial econômico das periferias brasileiras? Apesar de matemática não ser meu forte, a conta é simples. Um local com tamanha densidade populacional não só pode, como quer consumir.
Quase um terço da população brasileira vivem nas periferias. O Mosaic – levantamento encomendado pela Serasa Experian afirma que 56 milhões de pessoas moram nas periferias urbanas. Não adianta fugir, o desenvolvimento endógeno passa necessariamente pela inclusão.
A equipe do TrazFavela está disopsta a ligar estes pontos. Sabe aquele microempreendedor dono de uma pizzaria? Ele vai poder dobrar os ganhos com o nome listado no aplicativo.
“Vamos atender os pequenos comerciantes. Pretendemos expandir a zona de atendimento destas pessoas e dar opção aos moradores de atuarem como entregadores. Vai dar pra gerar uma renda extra”.
Os primeiros passos do TrazFavela foram dados em eventos propostos pelas chamadas incubadoras de negócios. O Hypeness esteve na cobertura de um deles, a Ocupação Afrofuturista, que reuniu um time de gente criativa em Salvador. A organização foi da Vale do Dendê.
A programação de dois dias incluiu mesas de debate, shows e claro, incubadoras de startups como o TrazFavela. “Ajudou muito o projeto”, conta Iago, que cita o Startup Weekend como propulsor. Foi lá “onde surgiu a ideia e nós ficamos em 3º lugar”.
Wakanda do conhecimento e empreendedorismo
“No Afrofuturismo”, diz ele, “ficamos em primeiro lugar na etapa Salvador e em segundo na etapa estadual. No Baanko Challenge, tiramos também o primeiro lugar, assim o projeto foi ganhando corpo, se estruturando e se tornou conhecido no ecossistema do empreendedorismo. Inclusive, conheci meus sócios, Lucas que me apoia desde primeira competição e a Naomy, uma mulher incrível”.
Empoderamento negro na prática. Paulo Rogério é empresário baiano e hoje atua como um dos grandes incentivadores de talentos na cidade. O recorte dele é explícito, homens e mulheres negras de periferia.
Creio que parte da nova geração de afro-brasileiros está bem posicionada para tirar proveito das novas competências do século XXI, que passam pela ideia da economia colaborativa, do uso das tecnologias e da inovação. Qual o público que mais tem a necessidade de inovar todos os dias? Justamente o jovem negro ou morador de periferia. O “bater uma laje” é análogo ao crowdsourcing, as vaquinhas/rifas são formas de “crowdfunding” e não há nada mais “maker” do que carinha da esquina na favela que conserta computadores ou TV. Se nós apontarmos o caminho correto e empoderar esses jovens certamente eles podem criar coisas incríveis. No caso de Salvador, adicione-se a conversa o fato de termos uma cultura negra muito forte que fez com que a Bahia fosse conhecida no mundo todo. Qual a banda brasileira mais conhecida no mundo? É justamente o Olodum, uma inovação criada por jovens negros nos anos 80.
O aplicativo está em fase final de produção
Iago assina embaixo. “Quem é de dentro também pode crescer e se tornar o dono do seu próprio empreendimento. É a ideia de empoderamento periférico”.
O jovem enxerga uma mudança de interpretação do conceito empreendedor nas últimas duas décadas.
“A procura por conhecimento e a necessidade de ser dono da sua própria empresa é algo muito perceptivo na nossa geração, que por anos, não tinha o poder (dinheiro) para ser um empresário. Quando aparecia há 20 anos atrás, era como empreendedor por necessidade”.
E ele não está errado. O número de empreendedores negros ultrapassou o do brancos pela primeira vez na história. É importante ressaltar a existência de uma precarização ausente no trajeto empreendedor de pessoas brancas. Contudo, afro-brasileiros se destacam por aliar criatividade e conhecimento.
Preto e dinheiro não são palavras rivais mesmo. Iago, Lucas, Naomy e tantos outros trabalhando pelo certo não deixam dúvidas.
Viste site oficial do TrazFavela.
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