Arte

Após críticas de Bolsonaro, Ancine repassa R$ 530 mil para documentário sobre ‘revolução conservadora’

24 • 07 • 2019 às 15:09
Atualizada em 24 • 07 • 2019 às 15:27
Redação Hypeness
Redação Hypeness Acreditamos no poder da INSPIRAÇÃO. Uma boa fotografia, uma grande história, uma mega iniciativa ou mesmo uma pequena invenção. Todas elas podem transformar o seu jeito de enxergar o mundo.

O presidente flertou com a censura ao tentar tomar para si o controle da Ancine. A ação contou com críticas ao filme ‘Bruna Surfistinha’, chamado pelo político de ‘pornô’ e quase provocou a extinção da Agência Nacional do Cinema. 

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A mesma Ancine acaba de liberar mais de R$ 500 mil para a produção de um filme sobre Jair Bolsonaro. O conservador ‘Nem Tudo se Desfaz’ se apresenta como um “documentário ensaístico sobre os desdobramentos culturais e políticos das Jornadas de Junho de 2013”.

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A produção aponta para a “revolução conservadora”, ainda de acordo com os idealizadores, responsável pela eleição de Bolsonaro.  O documentário é dirigido por Josia Teófilo, mesmo diretor de ‘O Jardim das Aflições’, obra que narra a vida e trajetória do filósofo e astrólogo Olavo de Carvalho, guru da presidência.

Nas redes sociais, ‘Nem Tudo se Desfaz’ foi amplamente divulgado por Eduardo Bolsonaro e o próprio Olavo.

Censura e aparelhamento 

Com o velho pretexto de ‘proteger a família’, o presidente mantém conversas para centralizar a Ancine em Brasília. Segundo o jornal Folha de São Paulo, o governo federal pretende deslocar para a capital federal o Fundo Setorial Audiovisual (FSA), que possui orçamento de R$ 724 milhões para 2019. 

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Assim, a Agência Nacional do Cinema deixa de fazer a curadoria das produções e se torna uma espécie de reguladora. Trocando em miúdos, mais interferência do Estado. 

“Não somos contra essa ou aquela opção, mas o ativismo não podemos permitir em respeito às famílias. É uma coisa que mudou com a chegada do governo”, declarou Bolsonaro depois de reunião com Osmar Terra, ministro da Cidadania. 

A medida do governo é encarada como tentativa de censura e provoca medo em militantes do cinema nacional, sobretudo pelo bom momento vivido pela categoria. 

Em defesa da Ancine, o Canal Brasil destacou o sucesso da produção cinematográfica brasileira no exterior. 

“O Brasil é enorme e cada pessoa tem o direito de escolher o que assistir. Por isso, a importância de preservarmos a pluralidade do nosso cinema, que não deve jamais ser limitada. Como disse o poeta Ferreira Gullar, ‘a arte existe porque a vida não basta’”.

Em 2019, filmes brasileiros foram premiados em festivais importantes como ‘Cannes’ na França, ‘Sundance’, dos Estados Unidos e na ‘Berlinale’, na Alemanha. 

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A fixação do presidente com a cultura pode custar empregos em um país com 13 milhões de pessoas sem trabalho, além de afetar atividade que movimenta R$ 25 bilhões ano

No entanto, para extinguir a Ancine, Bolsonaro precisa de apoio no Congresso, já que a Agência Nacional e o Conselho Superior de Cinema foram criados em 2011 por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), por meio de Medida Provisória para, em seguida, ser regulamentada por lei. 

Estrago já é grande

Os movimentos iniciais de Bolsonaro levaram o Conselho de Superior de Cinema para a Casa Civil. São apenas três membros de fora do governo. O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, é o novo presidente. 

Integram o conselho Sergio Moro (Justiça), Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Abraham Weintraub (Educação), Osmar Terra (Cidadania), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) e Luiz Eduardo Ramos (secretaria do Governo). 

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Fotos: foto 1: EBC/foto 2: Reprodução


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