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Cheguei em San Francisco na última terça-feira (16) sem a menor ideia do que nos esperar. Há mais ou menos um mês recebi uma mensagem: “Seu passaporte está em dia, você tem visto para os EUA? Vai rolar uma press trip para conhecer uma cervejaria na Califórnia”. Então faz 30 dias que eu não durmo (risos). A pauta era conhecer uma cervejaria no norte da Califórnia que vai começar a fabricar cerveja no Brasil: a Lagunitas.
Um grupo de 11 pessoas, entre jornalistas, músicos e influenciadores digitais compuseram o time. No fim da primeira tarde conhecemos Dino e Russell Smithson, funcionários da Lagunitas que nos guiaram por essa experiência. Começamos fazendo um pub crawl por San Francisco, que nada mais é do que uma pequena maratona entre bares regada a muita cerveja.
Crédito: Bárbara Fonseca
A Lagunitas é conhecida por seus quatro pilares: cerveja, cachorros, música e maconha. A cervejaria nasceu em 1993 na Califórnia, em uma pequena cidade que deu nome a marca: Lagunitas. Um ano depois, a sede foi para Petaluma e alguns anos depois para Chicago. Seu fundador, Tony Magee, começou a fazer cerveja em casa e depois de apenas duas semanas foi descoberto por um vendedor que reconheceu sua excelente receita. Tony é visto por todos como uma espécie de gênio. “Ele é um cara super na dele, sempre que você olha para ele, tem a impressão de que ele está tendo alguma super ideia. Sabe aquelas pessoas que tudo o que fazem, fazem incrivelmente bem?”, nos contou Maria Stipp, CEO da empresa.
A primeira parada foi um clássico pub no centro da cidade, com carpetes para todos os lados, balcão de madeira, luz baixa e muitas opções de chope melhor estilo old school. Para o segundo bar caminhamos um pouco mais do que 10 minutos e chegamos em China Town, o bairro oriental de San Francisco. O Vesuvio Cafe foi fundado em 1948 e reza a lenda que esse era um dos bares onde os escritores Jack Kerouac e Allen Ginsberg e o músico Bob Dylan costumavam alimentar suas ideias e afogar suas mágoas. Pra quem gosta de literatura e cerveja, ele fica no beco da livraria City Light, conhecida por sua posição progressista em relação a política e aos exemplares vendidos. A terceira e última parada, já no entardecer, foi o Pier 23, com vista para o pacífico e Alcatraz, serve além de cervejas, deliciosos frutos do mar. Fechamos o primeiro dia com uma vista maravilhosa, boa cerveja e muitas ostras.
Crédito: Bárbara Fonseca
No segundo dia de viagem acordamos bem cedo com um ônibus aguardando para nos levar para a cidade de Petaluma. Estava chegando a hora de conhecer a fábrica da Lagunitas! Passamos pela Golden Gate para conhecer um dos pontos turísticos mais famosos do mundo. Poucos metros após a ponte existe um mirante onde você pode tirar ótimas fotos e sentir a brisa do mar.
Petaluma fica a 60 e poucos quilômetros de San Francisco, cerca de 50 minutos de carro por uma ótima estrada com uma linda vista. Fomos de mala e cuia direto para a fábrica. Descemos do ônibus e já fomos recebidos por um cachorro que acompanhava seu dono nas compras de cerveja. Agora sim começamos a experiência profunda de Lagunitas. Seguimos o cheiro do mosto (como é chamado o líquido antes de fermentar e virar cerveja) e chegamos à fábrica. Logo na entrada existe uma escada que dá para um mezanino onde funciona um bar com quatro torneiras de chope e uma decoração que traduz muito bem o espírito da marca: pôsteres antigos, objetos vintage divertidos, brinquedos old school, luz baixa e claro, vista para a produção das cervejas. Tomamos um café da manhã típico americano com bagels, café com creme e rosquinhas e começamos a degustar alguns rótulos.
Na frente da fábrica você encontra um jardim com grandes mesas onde funciona o bar e restaurante com muitas opções de cerveja fresquíssimas, claro, de hambúrguer, saladas e sobremesas como sorvete com cerveja. Todas as carnes do restaurante são da Fazenda Lagunitas, que fica atrás da fábrica e complementa a alimentação dos animais com os grãos que são utilizados na fabricação das cervejas. No Brasil o descarte desses grãos é um problema para muitas cervejarias, pois além de não serem recolhidos pelo sistema de coleta tradicional das cidades, mesmo após o cozimento para retirada de proteínas e enzimas, eles ainda têm propriedades que podem ser utilizadas como complemento alimentar para ração de gado e até mesmo para a fabricação de pães, biscoitos e bolos. É um desperdício não aproveitar todo esse alimento e descartá-lo. A Lagunitas está de parabéns pela atitude sustentável!
Crédito: Divulgação/ Lagunitas
O gramado que fica atrás do bar e restaurante assume lugar de arquibancada. A cervejaria é uma grande apoiadora das bandas locais e promove shows semanais com artistas e bandas em ascensão com acesso gratuito para toda a comunidade. Sentar no gramado e assistir a um show com uma cerveja fresca na mão é uma das melhores experiências que você pode ter ali.
Continuamos o tour para conhecer os principais executivos da empresa: Maria Stipp, a CEO (“Diretora Executiva”), Jeremy Marshall, Brewmaster (Cervejeiro), Mary Nowak, Brewmaster (Cervejeira), Karen Hamilton, Director of Communit Relations (“Diretora de Relações com a Comunidade”), Laura Muckenhoupt, Senior Music Marketing Manager (“Gerente Senior de Marketing de Música”) e Jim Jacobs, Director of Community Givin (“Diretor de Responsabilidade Social”). A conversa aconteceu em uma sala que é utilizada pelos funcionários para confraternização e reuniões, com uma geladeira forrada de cervejas, água lupulada, sofás, pôsteres das bandas que tocaram por ali por todas as paredes e mesas de pebolim.
Maria não era do ramo da cerveja e hoje ocupa o maior cargo da empresa, quando perguntamos para ela e para Mary das dificuldades de ser mulher em um mercado que no Brasil é majoritariamente masculino fomos surpreendidos com as respostas:
“Confesso que como mulher lésbica isso me ocorreu, durante a entrevista falei algo sobre isso e a resposta foi a melhor que poderia ter recebido para tomar a minha decisão: aqui nós somos todos iguais e tratar as pessoas de forma diferente aqui não deve nem passar pela cabeça dos nossos funcionários”.
Mary gerencia toda as equipes de cervejeiras e cervejeiros da Lagunitas e disse que nunca passou por nenhuma situação constrangedora em toda a sua carreira: “Claro que tive medo de machismo, mas eu sei que sou boa no que faço, sempre tenho as respostas certas e não existe motivo para que o meu trabalho seja questionado, e ele nunca foi. A maioria dos cargos de liderança na Lagunitas são ocupados por mulheres, então não encontrei nenhuma dificuldade em ser cervejeira aqui. É muito animador ver como a quantidade de mulheres no mercado está crescendo, fico muito feliz em ver tantas de nós entrando para essa indústria.”
Jeremy é a cara da Califórnia que vemos nos filmes: aquela pinta de surfista loiro de cabelo comprido, sempre de bermuda e óculos de sol e super descontraído. A Lagunitas não é conhecida por ser uma ganhadora de medalhas cervejeiras, eles fazem cervejas de ótima qualidade, sempre muito lupuladas e frescas, mas com a ideia de serem fáceis de beber. Gosto de dizer que esse tipo de cerveja que não exige um paladar super treinado dos consumidores têm uma alta “biritabilidade”.
Mary Nowak, Jeremy Marshall e Maria Stipp (Divulgação Lagunitas)
Ele nos contou que a venda para a Heineken foi difícil pois representa um crescimento radical, mas ao mesmo tempo ajudou a descomplicar a chegada da marca ao Brasil, que é o país onde eles sempre sonharam em entrar, pois sem eles seria muito difícil fazer a Lagunitas ser conhecida por aqui. “Nós não queremos ser a cervejaria que vai empurrar nossa marca na cara das pessoas com prêmios, queremos crescer no Brasil de maneira orgânica, assim como fizemos na Califórnia”. Mary, que está em contato com a equipe do Brasil que irá produzir a famosa IPA por aqui está super animada: “o time que está nesse processo com a gente é super apaixonado. É muito animador ver como eles estão entusiasmados em fazer tudo da melhor maneira possível, em fazer cervejas de alta qualidade”.
A Lagunitas tem uma forte atuação na cultura musical da Califórnia, a empresa se preocupa em selecionar bandas locais e ajudá-las a impulsionar suas carreiras cedendo espaço e estrutura para os shows para a comunidade e claro, pagando justos cachês. “A ideia é trabalhar com bandas pequenas, onde possamos fazer alguma diferença na carreira desses músicos e também de fomentar a cultura local da nossa comunidade”, nos contou Laura, que é responsável por todos os festivais de sucesso da cervejaria.
Crédito: Will Bucquoy
Foi a minha primeira vez na Califórnia e tive a impressão de que todos os moradores dali tem um cachorro. Na fábrica da Lagunitas não foi diferente. Os clientes levam os seus cachorros para o bar e os funcionários para o escritório. Cada um dos tanques de fermentação da fábrica leva um nome de algum cãozinho de funcionários que já se foi. Eu que sou a louca dos cachorros, obviamente cai de amores e lágrimas quando vi isso.
Crédito: Will Bucquoy
Mas além de ser dog friendly a cervejaria conta com programas de responsabilidade social com humanos e seus melhores amigos. Jim é um experiente gestor do terceiro setor, está na Lagunitas há 16 anos e é parte importante do crescimento da empresa. Nos contou que eles gostariam muito de trazer essa ideia para o Brasil. “Nós queremos levar nossos programas de apoio à comunidade para todos os lugares onde vamos, isso inclui ações com as pessoas e também com organizações que cuidam de cachorros”.
Crédito: Bárbara Fonseca
Passar alguns dias com o pessoal da Lagunitas já te faz se sentir parte de uma família. É impressionante como cada funcionário se sente parte do negócio e como eles se sentem à vontade em estar ali e felizes em proporcionar tudo isso. Muito disso se explica pelas relações familiares também. Karen tem uma enorme experiência na área de vendas é irmã do fundador Tony Magee, foi convidada por ele há 14 anos atrás para representar a marca que estava crescendo e como vimos, teve enorme sucesso. Suas três filhas também trabalham na empresa, assim como seu border collie Hershey Hamilton, que foi o primeiro cachorro da Lagunitas Chicago.
Crédito: Will Bucquoy
Após as conversas fizemos um tour pela fábrica guiado pelo cervejeiro Jeremmy, que explicou o funcionamento de todos os equipamentos, dos processos de fabricação e até provamos uma água lupulada direto da linha de envase. No Brasil, a cerveja será produzida na fábrica da Heineken, em Blumenau. Mas como alguns processos são muito diferentes, a Lagunitas providenciou novos equipamentos para a sua produção ser idêntica a dos EUA.
Crédito: Will Bucquoy
Crédito: Will Bucquoy
Saindo da fábrica fomos jantar no Volpi’s Ristorante, uma tradicional cantina que tem um bar nos fundos. Ao entrar você se sente em um filme passado em alguma cidade do interior dos EUA (bom, só não estávamos em um filme). Uma mulher de 50 e poucos anos servindo as bebidas, um piano ao fundo e um senhor tocando acordeon. Decidi variar um pouco e não pedir uma cerveja e pedi o cardápio, eis a resposta: “Aqui nós somos old school, não temos cardápio e só trabalhamos com boas cervejas e drinks clássicos”. Pedi um uísque tônica e depois decidi voltar para a cerveja, risos.
Desde que pisamos na Califórnia escutamos: “preparem-se para o Deep Day! Guardem as energias”. Já tínhamos provado Lagunitas em todos os lugares que visitamos e comido todas as ostras e comidas típicas que encontramos sem dar a menor importância para o que nos esperava. A tradução de deep para o português é profundo. Eis que o último dia foi o dia mais profundo na imersão Lagunitas.
Chegamos à fábrica por volta das 8h30 da manhã e fomos recepcionados com Bloody Marys com bacon, picles, azeitonas e tudo mais que um drink pode ter direito. Tomamos um café reforçado e um ônibus com algumas caixas térmicas e MUITAS caixas de cerveja nos aguardava no estacionamento. Eu estou acostumada a passar horas em um ônibus tomando cerveja a caminho de um estádio de futebol para ver o meu time jogar, mas o PROFUNDO desse dia não foi só isso.
Fomos guiados por dois funcionários da cervejaria: Russell e Don Chartier. Quando perguntei ao Don o que ele fazia ele me entregou o seu cartão, que dizia: Mr. Nice Guy. Então pensei: esse deve ser o embaixador da marca, o cara legal que leva o pessoal para passear. Ao longo de todo o dia, passamos por lugares importantes para a história da cervejaria. Lugares onde Tony costumava frequentar e que traziam inspiração para as suas criações. E quem está na Lagunitas hoje segue a mesma tradição. Trabalhar ali também faz parte de um estilo de vida.
Crédito: Will Bucquoy
Durante o percurso percebemos que Don não era só o cara legal da cervejaria, ele faz parte da história dela. Escutamos histórias como a de como surgiu o termo 4h20, a hora oficial de fumar um baseado. Foi ali em Petaluma, na estrada para o litoral, onde dois amigos se encontraram por volta desse horário e depois de ter boas ideias para cervejas, decidiram queimar um pontualmente às 4h20. A Lagunitas ficou conhecida por fazer uma cerveja com esse nome, mas foi processada por uma outra cervejaria que já tinha o registro do nome. Foi então que a Lagunitas decidiu mudar o nome da cerveja para o nome do processo: Undercover Investigation Shut-down Ale (“investigação secreta encerrada Ale”).
Chegamos a praia Dillon e é claro que nessa hora fomos apresentados para o novo produto mais famoso da cervejaria depois da clássica IPA: as águas com infusão de THC, o principal princípio ativo da maconha. São duas variedades da bebida, uma contém 10 mg de THC e a outra, um pouco mais leve, 5 mg de THC e 5 mg de CBD (ou canabidiol), composto da cannabis muito utilizado para o tratamento de doenças e dores musculares. A bebida não é alcoólica, não contém calorias e é muito lupulada, lembra bastante o aroma de uma cerveja e é super leve, refrescante e claro, relaxante.
Após a primeira parada relaxante em Dillon Beach, fomos até a Hog Island Oyster, uma fazenda de ostras que tem como principal preocupação a sustentabilidade e fica em Marshall, Califórnia. Antes de chegar no restaurante você passa pelos tanques onde são cultivadas as ostras, de repente está com o pé na areia em uma área para pic nics com uma vista maravilhosa para o pacífico. Eles servem ostras frescas, gratinadas e no melhor estilo barbecue americano. Claro que todas elas acompanhadas de uma Lagunitas para fechar o último almoço com chave de ouro.
Crédito: Will Bucquoy
A Califórnia é um estado com uma paisagem muito diversa: você vê deserto, praia, floresta, fazenda e fábricas. Depois do banquete a beira mar, nossa próxima parada foi em uma floresta incrível (e também onde provavelmente todos diretores de filmes de terror americano devem ter se inspirado). Apesar de ser literalmente no meio do nada, essa reserva conta com toda uma estrutura para os visitantes como churrasqueiras, pias e mesas enormes para pique-nique.
Para fechar o dia mais intenso dessa viagem, paramos um clássico dive bar, o Old Western Saloon, em Point Reyes Station, com messa de sinuca e jukebox para tomar o nosso último pint de Lagunitas IPA e aguardar ansiosamente pela chegada dessa cerveja no Brasil. Sabemos que todo esse life style faz parte também da cultura californiana, mas torcemos para ajudar trazer um pouquinho da experiência que é a Lagunitas para o Brasil.
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