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“Que bolha progressista é essa?”. Com essa frase caminhamos pelas ruas de Paraty nos dias de Flip. A 17ª edição chegou em ano de Bolsonaro na presidência homenageando um militar que, apesar de viés socialista, se valeu de muitos conceitos racistas em sua obra mais popular. Ainda assim, Euclides da Cunha foi abordado em diversas formas e muitas delas recheadas de críticas durante toda a festa.
Ah sim, festa! A Flip parece ter redescoberto o sentido de festa da literatura em uma união linda entre programação diurna e noturna, com muita música e arte. Que assim seja pelos próximos anos! “Os Sertões”, obra do homenageado, chegou nesta edição retomando o show de abertura, mas com o frescor crítico do Teatro Oficina.
A “Mutação de Apoteose” teve participação de estudantes e indígenas de aldeias guaranis, lembrou da morte do estudante Marcos Vinícius da Silva pela polícia do Rio, da lama de Brumadinho, dos protestos pela educação. A apresentação foi marcada ainda por João Gilberto cantando o hino nacional no ritmo da bossa nova.
O hino nacional teve ainda outra aparição na festa, desta vez nas imediações do barco pirata da Flipei, a Festa Literária Pirata das Editoras Independentes. O espaço voltado para autores independentes, antifascistas, negros, feministas e necessários recebeu uma das mesas mais aguardadas da programação. “Jornalismo Investigativo em tempos de Lava-Jato”, com Glenn Greendwald, Gregório Duvivier, o cientista social Alceu Castilho e o jornalista Sérgio Amadeu.
A mesa reuniu aproximadamente 3 mil pessoas de um lado do canal enquanto um pequeno grupo de bolsonaristas protestava do outro lado da margem na tentativa de calar o jornalista. “O debate não foi prejudicado, mas incendiado. Quando fazer essa manifestação tão violenta, eles não conseguem nada”, avalia Gregório.
Os manifestantes soltavam rojões na direção do barco onde acontecia a conversa enquanto tocavam o hino nacional em ritmo de funk. A plateia do outro lado não só não se intimidou como cantou junto e aplaudiu. Glenn falou sobre seu amor por seu marido, por seus filhos e pelo Brasil, de onde afirmou que não vai sair.
4 autores negros e 1 indígena lideram Top 5 de livros vendidos na ‘Flip’ 2019
Em tempos de uma presidência de pensamentos retrógrados, ainda mais vitórias: dos 5 autores mais vendidos, 4 negros e 1 indígena, sendo as duas campeãs de vendas, mulheres. A portuguesa Grada Kilomba ficou no topo com seu “Memórias da Plantação”, seguida da nigeriana Ayobami Adebayo com a obra “Fica comigo”. O indígena Ailton Krenak completou a lista dos best-sellers da Flip com “Ideias para adiar o fim do mundo”, que trata da destruição do rio Doce.
Grada Kilomba foi a autora que mais vendeu livros na Flip 2019
Os próximos da lista integraram uma das melhores mesas desta edição.”Também os brancos sabem em dançar”, do músico angolano Kalaf Epalanga, e “Meu pequeno país”, do rapper e romancista nascido no Burundi e radicado na França, Gaël Faye, completaram os 5 mais vendidos. Na mesa, os dois falaram sobre as obras de autoficção, que misturam suas histórias pessoais com uma visão mais ampla do racismo, das guerras e da xenofobia, tratam da presença estrangeira na Europa e da conexão com a música.
Kalaf Epalanga
Gaël Faye
“É muito importante para nós o lugar de dança. É um lugar de salvação. Se vocês forem a cidades europeias e às discotecas africanas, vão ter a melhor experiência da vida por que vão ver pessoas iguais a vocês”, disse Kalaf. O artista, integrante da Buraka Som Sistema, parecia onipresente. Ora estava sentado por 3 horas dando autógrafos, ora integrando mesas de debate e entrevistas, ora discotecando nas festas da Flip. Em uma das apresentações, subiu ao palco acompanhado de Dino Santiago, músico de Cabo Verde residente na Europa. Showzão poderoso em meio a noite fria de Paraty.
A cobertura foi feita em parceria com o canal Philos, que fez uma série de vídeos com autores que passaram pela Flip:
Ponto marcante desta Flip ainda foi o slam internacional que reuniu poetas militantes que incendiaram a plateia com apresentações potentes. Apresentada pela escritora Roberta Estrela D’Alva, acompanhada da cantora Dani Nega e pelo DJ Eugênio Lima, o primeiro Slam da programação oficial lotou a tenda com público diverso que não arredou o pé pelas 2 horas de muitas falas, risos e aplausos.
A brasileira Pieta Poeta não poupou palavrões e fez a plateia delirar quando mandava sua letra na poesia “Papo de Realidade”. Ela foi de Jesus na goiabeira até a mamadeira de piroca em um texto que levantava o público a cada frase. Papo reto e real do jeitinho que a gente precisa.
E teve festa mesmo, daquele tipo sem fim e difícil de escolher. A noite de sábado dividiu o público entre o placo da Hyteria, que reuniu Xênia França, Josyara e Luê em um show inédito; a festa no bar da Todavia com a Balsa em discotecagem de Kalaf Epalanga; e ainda o mini festival com shows de Ava Rocha com Negro Leo, Joana Flor, entre outros dentro da programação da Flipei. No quiosque ao lado, integrantes da Voodoohop organizaram a festa Fliperama, como um portal em meio à praia.
A Flip 2019 encerra com destaque aos escritores pretos, às causas políticas e à festa, que finalmente volta a ser parte do evento. Nos despedimos de Paraty com boas leituras para o caminho da viagem de volta com a Paraty Tours, debates para travar, além de boas músicas para dançar. Seguimos!
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