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Em entrevista exclusiva com o Hypeness, ela dá detalhes sobre o Esquizofrenoias, sucesso absoluto no universo dos podcasts e que une duas paixões de Amanda, comunicação e rádio.
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Amanda faz sucesso por tratar do tema com sinceridade
“A ideia do podcast veio da necessidade de falar sobre o tema. Eu convivo com ansiedade e depressão desde minha infância. Fui diagnosticada aos 16 mas, com 5 anos já sentia o coração disparar tanto que minha mãe me levava em cardiologistas. Fiz eletrocardiograma. Evidentemente, não dava nada. Tenho 33 anos e sempre sonhei em abordar o tema. Triste pensar que nesse tempo todo ninguém pensou em falar a respeito da maneira que eu faço, mais leve, livre, sem glamour, quase que didático”, ressalta.
A linguagem, talvez, seja o grande trunfo de Amanda para destrinchar um assunto tão complexo, mas urgente. Desde a estreia em 27 de julho de 2018 são 23 programas, que tratam de temas diversos e relacionados com saúde mental.
Amanda sempre conviveu com a vontade de ter um podcast para chamar de seu. Aconteceu. E da melhor forma possível. Os programas, que duram em média 50 e poucos minutos, servem como terapia. Não só para os ouvintes, mas para a própria apresentadora, que divide experiências da vida pessoal ao longo das conversas.
Faço terapia há oito anos, tomo medicação há quase 20 e só há três anos decidi levar o tratamento a sério. Não abuso mais de medicação. Não me saboto mais. É muito importante você não mentir para o terapeuta e para o psiquiatra. Entre meus amigos, sempre falei abertamente sobre o tema.
Mesmo assim, ela demonstra surpresa com a recepção positiva do público. “Antes de fazer o Esquizofrenoias, achava que saúde mental era um tema presente na vida das pessoas. Me enganei. Tem muita coisa a ser feita”.
O ‘Esquizofrenoias’ preenche lacuna deixada pela mídia tradicional
A internet, você sabe, pode ser um ambiente tóxico. No entanto, são os mesmos caminhos das redes que nos levam ao encontro do trabalho feito por gente como Amanda Ramalho.
“A internet, de certa forma, é como na vida real. Existem espaços como o Esquizofrenoias e o Instagram, onde todo mundo parece sempre bem. Quando alguém te fala: ‘Oi, tudo bem?’ Na vida ou na internet, temos dois problemas: Primeiro que ninguém quer saber como você realmente está. Ninguém está preparado pra um ‘tudo péssimo’. Logo, quem está péssimo fala que está bem. Precisamos aprender mta coisa”, reflete.
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Os podcasts não são lá uma coisa tão nova. Porém, a apropriação desses instrumentos por pessoas como Amanda potencializaram não só o alcance, como o poder de cura. Redes de proteção importantes para reverter constatação preocupante da Organização Mundial da Saúde.
Amanda discute temas como racismo e seus efeitos para a saúde mental
A depressão está crescendo, sobretudo entre os jovens. Um dos desdobramentos da doença é o suicídio, uma das 20 maiores causas de morte em 2015 entre pessoas de 15 a 29 anos, segundo o órgão.
“A depressão acontece em qualquer idade. Eu fui uma criança deprimida. O que eu constatei com o programa é que infelizmente as pessoas não se escutam. No episódio com o psicanalista Paul Kardous, ele me fez uma pergunta que hoje sempre que tenho a oportunidade relembro. Falei: ‘Doutor por que as pessoas hoje em dia não se ouvem? Ele disse: Freud inventou a psicanálise por volta de 1910; as pessoas nunca se ouviram”.
Dilema jornalístico, depressão e suicídio devem ser abordados, mas com a devida cautela. Há quem preferia não noticiar. Outras profissionais, por outro lado, acreditam na relevância do tema, principalmente para evitar a repetição dos casos.
A própria Amanda entende a complexidade da coisa, mas não deixa de falar. Ela revela os sérios conflitos ao revisitar o passado pessoal, mas admite o valor de uma palavra amiga e inspiradora para quem lida com o mesmo problema.
“É bem didático e honesto”, admite.
Aprendo muita coisa e conseguimos passar coisas legais. O [episódio] mais difícil foi sobre depressão e pensamentos suicidas. Falei pela primeira vez sobre minha experiência com a depressão de maneira mais aberta. Revisitar isso não foi fácil, mas foi importante para muita gente que convive com isso e os familiares. É bem didático.
Talvez o grande trunfo de Amanda Ramalho seja a facilidade de se comunicar. No Esquziofrenoias ela aborda as tais ‘esquizofrenoias’, termo cunhado pela própria Amanda, com muita naturalidade. Quem disse que saúde mental precisa ser discutida com sisudez, caretice?
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“Trabalhar com comunicação me ajudou a organizá-los [pensamentos]. Tem dias que estou mal, deprimida e ansiosa. Nesses dias não gravo, porque tenho responsabilidade com o público e comigo”, diz ela que não deixa de ser quem sempre foi.
O cuidado vive também na preocupação em discutir assuntos mais delicados. Seja os efeitos do racismo para a saúde mental – episódio novo com Ale Santos – ou os gatilhos do suicídio.
“Me preocupo com isso demais. Levei um psicanalista e antes perguntei sobre como abordar o assunto. Tenho três episódios sobre isso [suicídio] e o mais importante não são os detalhes do ocorrido, mas o sentimento na época. O clima familiar, a vergonha, os sinais dados anteriormente. Todo mundo se preocupa com o suicídio quando aparece algum famoso. Aí falhamos como sociedade. Todos dão sinal. Absolutamente todos. Nós que preferimos não enxergar por egoísmo ou sei lá o por quê”.
Ela puxa a orelha dos veículos da mídia tradicional, que ainda caem na armadilha de falar de saúde mental apenas no setembro amarelo ou tratar o fenômeno como algo novo.
“Eu tenho muitas ressalvas. No setembro amarelo todo mundo fala. Tem um boom, mas depois some. Quando alguma celebridade se mata ou vai pra rehab o assunto volta, mas daí passa. A saúde mental tem que ser abordada de maneira constante, até porque é algo ‘novo’. Coloco em aspas porque não é novo nada. Minha vivência mostra que não é. E eu não sou precursora de nada no quesito diagnóstico”.
O Instagram tirou os likes, “não queremos que as pessoas se sentiam em uma competição”, diz a companhia em nota. Ainda não se sabe ao certo a eficácia da medida.
Contudo, passou da hora de saúde mental não ser privilégio de brancos com dinheiro. Camadas menos favorecidas da sociedade – habitadas em sua vasta maioria por pessoas negras – ainda carecem de serviços acessíveis.
Pense nos efeitos de quem se desloca em uma cidade como São Paulo. Uma pessoa que sai do extremo da zona sul da cidade até o centro gasta, em média, 8 horas por dia para ir e voltar do trabalho. Trocando em miúdos, como manter níveis elevados de sanidade mental em um ambiente tão hostil?
Eu nasci na periferia de São Paulo, no Capão Redondo. Venho de família pobre. Quando eu tive minha primeira grande crise com 15 anos, minha mãe procurou terapias gratuitas. Era uma luta. Lembro de pegar dos busões [ônibus] pra ir em Pinheiros, num posto de saúde que oferecia tratamento. Mas tinha triagem, o terapeuta não ia. Tinha que pegar senha. Isso tem quase 20 anos. Desanimava a gente. Eu não tinha energia pra ficar quase duas horas no ônibus pra falar com um profissional que muitas vezes faltava. Era cansativo. Como a ansiedade e a depressão geram sintomas físicos, no meu caso: medo, aflição, choro copioso, etc., eu achava que os medicamentos bastavam. Só fui levar a sério a terapia depois que fiquei internada e percebi que não, eu não queria morrer. Embora pensasse nisso quase que diariamente desde sempre. É impressionante a melhora. Quem me conhece de antes nota muito.
Em Salvador, o Hypeness mostrou, existe uma rede de mulheres negras que se reúne pela cura. A Rede Dandaras, criada por Laura Augusta – mestranda em Gênero, Alteridades e Desigualdades no Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher da Universidade Federal da Bahia (UFBA), pensa a saúde mental da mulher negra.
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O podcast conquistou todo mundo pela condução sensível e honesta
“Diagnósticos como depressão, ansiedade, síndrome do pânico, ideações suicidas e até mesmo alguns casos agudos de dissociação aparecem entre os casos e podem ser observados também como efeitos psicossomáticos do sofrimento racial. Lidar com o sofrimento psíquico causado pelo racismo e machismo é um desafio cotidiano, não apenas para mim, enquanto mulher negra e nordestina, atravessada por esses demarcadores, mas principalmente enquanto profissional por manejar ferramentas que não foram construídas levando esses marcadores de diferença em consideração”, conclui Laura.
Mente sã contribui para o desenvolvimento social e do país. Para isso, é necessário estabelecer pensamentos antirracistas, feministas e que tenham a educação, em toda a sua amplitude, como alicerce.
A determinação, qualidade e seriedade de profissionais como Amanda Ramalho são indispensáveis para atingir tal objetivo. Linguagem simples, millennial. A Amanda que você ouviu no rádio e viu na TV te convida agora para falar de saúde mental. Bora?
“Rádio pra mim sempre foi uma paixão. Acho o veículo mais próximo que existe. Sinto isso com o podcast. Muito se fala em criar comunidade na internet, o rádio já faz isso desde que nasceu. Tenho muita sorte em conseguir trabalhar no meio que mais amo e que mais me identifico. Agora faço meu programa de ‘rádio’ falando do assunto que mais me interesso e que precisa ser falado”.
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