Sustentabilidade

Fórum Virada Sustentável debate economia, alimento e clima na 9a edição do festival

19 • 08 • 2019 às 11:51
Atualizada em 19 • 08 • 2019 às 13:28
Gabriela Rassy
Gabriela Rassy   Redatora Jornalista enraizada na cultura, caçadora de tendências, arte e conexões no Brasil e no mundo. Especializada em jornalismo cultural, já passou pela Revista Bravo! e pelo Itaú Cultural até chegar ao Catraca Livre, onde foi responsável pelo conteúdo em agenda cultural de mais de 8 capitais brasileiras por 6 anos. Roteirizou vídeo cases para Rock In Rio Academy, HSM e Quero Passagem, neste último atuando ainda como produtora e apresentadora em guias turísticos. Há quase 3 anos dá luz às tendências e narrativas culturais feministas e rompedoras de fronteiras no Hypeness. Trabalha em formatos multimídia fazendo cobertura de festivais, como SXSW, Parada do Orgulho LGBT de SP, Rock In Rio e LoollaPalooza, além de produzir roteiros, reportagens e vídeos.

É possível atingir a meta de 100% reciclagem? E fazer do Brasil um modelo da economia circular? Talvez despoluir o Rio Pinheiros? Esses e outros temas ligados ao nosso convívio com o planeta são discutidos na 9ª edição da Virada Sustentável. O festival acontece de 22 a 25 de agosto, ocupando São Paulo com 600 atrações em mais de 200 pontos na cidade.

Pr’além de fortalecer seus principais pilares – artes visuais, bem-estar, cinema, dança, kids, música, teatro -, o destaque e novidade da Virada deste ano é o fórum. É ali que, nos dois primeiros dias de evento, serão discutidos os desafios da sustentabilidade ambiental, econômica e social nos dias de hoje.

A ocupação toma conta do Unibes Cultural, nos dias 22 e 23, reunindo mais de 50 atividades e 150 palestrantes, mostrando tudo que há de novo sobre negócios de impacto, mobilidade urbana, economia colaborativa, economia circular, moda sustentável, mudanças climáticas, meio ambiente e inovação social – além, é claro, de muita arte e celebração.

A programação especial de talks e palestras começa com uma pergunta bastante preocupante: Como estaremos em 2030? No Painel que marca a abertura da 9ª edição da Virada Sustentável, representantes do setor público, setor privado, academia e terceiro setor trazem suas visões sobre desafios e avanços em cada área para o alcance das metas da Agenda 2030, promovida pela ONU e relacionada aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Unibes Cultural é palco do Fórum da Virada Sustentável

Unibes Cultural é palco do Fórum da Virada Sustentável

Lixo Zero e Economia Circular

A questão do lixo, desperdício e os caminhos para o futuro são os temas que o grego Antonis Mavropoulos, Presidente da ISWA (International Solid Waste Association), debate na quinta, dia 22, às 14h. Ele é o criador do termo Wasteless Future, que discute uma sociedade com reaproveitamento completo do lixo.

Será que estamos caminhando em direção a um planeta com ou sem desperdício? Antonis, está envolvido em projetos de gerenciamento de resíduos sólidos há 20 anos, em 20 países e já completou mais de 150 projetos. Seu trabalho de pesquisa lida com globalização, megacidades, aplicativos móveis e o desafio da Internet das Coisas.

Antonis Mavropoulos é o fundador e CEO da D-Waste e Presidente da ISWA

Antonis Mavropoulos é o fundador e CEO da D-Waste e Presidente da ISWA

“Eu diria que uma meta de 100% de reciclagem é bastante enganosa”, pontua Antonis. Ele explica que o desperdício envolve, mais do que nosso lixo residencial, as atividades de extração, mineração, manufatura, varejo, distribuição e consumo. Ora, mas se temos coisas que são quase impossíveis de reciclar completamente, a meta está no caminho errado.

“É muito importante entender que o grande problema para a parte não-reciclável não é a atitude das pessoas ou as fraquezas das políticas e do planejamento – é o fato de que a maioria dos produtos não são projetados para reciclagem”, explica.

Além disso, muitos desses produtos – principalmente os de plástico – são feitos para uso único. “Eles demonstram obsolescência embutida, como acontece, por exemplo, com as atualizações contínuas de software que torna os telefones celulares de 2 ou 3 anos desatualizados”, diz o presidente da ISWA.


A proposta do painel então é parar de falar sobre 100% de reciclagem, mas falar sobre economia circular. É pensar numa mudança na maneira como extraímos materiais e recursos, projetamos e fabricamos produtos, distribuímos e consumimos. É avançarmos na eficiência dos recursos e numa relação mais equilibrada com a natureza, nos afastando do modelo econômico linear tradicional.

“A reciclagem tem um papel, mas ciclos de vida estendidos de produtos, reutilização, reparo e design eco-modulares são as principais prioridades. Eu acredito que o Brasil tem tudo o que é necessário para demonstrar uma liderança global nessa mudança”, conclui Antonis.

Ele propõe pensarmos em três metas para o país: deter os lixões descontrolados, aumentar a parcela dos resíduos que são tratados antes do descarte e desenvolver circuitos circulares fechados para materiais que façam sentido em cada região.

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Investimento Social

A mesa “Ecossistema de investimento e negócios de impacto” apresenta dados, aprendizados e reflexões para o futuro da área na sexta, dia 23, às 9h. O encontro reúne o presidente do programa Portugal Inovação Social, Filipe Almeida, que coordena um dos mais ambiciosos projetos de estímulo ao empreendedorismo social do mundo, além de Beto Scretas, do ICE, especialista em mercado de capitais, e Mariana Fonseca, co-fundadora da Pipe Social, vitrine de negócios de impacto no Brasil. Para participar é necessário fazer inscrição.

Portugal foi o primeiro país europeu a criar uma iniciativa pública, com financiamento da União Europeia, especificamente orientada para dinamizar o mercado de investimento social. Foram mobilizados cerca de 150 milhões de euros e criados 4 instrumentos de financiamento inovadores para estimular o mercado e promover a inovação e o empreendedorismo social.

“Considero que o êxito de uma agenda que pretenda dinamizar o mercado de investimento social e promover os negócios de impacto depende significativamente de um forte apoio político central e regional, de parcerias interinstitucionais e intersectoriais públicas e privadas empenhadas na mudança de paradigma, de intermediários com capacidade de apoiar e desenvolver o mercado, de soluções de financiamento adequadas e de um quadro legal favorável ao desenvolvimento de uma economia orientada para o impacto social”, pontual Filipe.

Em relação ao Brasil, ele vê interesse claro do SEBRAE e do BNDES nesta proposta vindo de outras instituições do setor privado, como o Instituto de Cidadania Empresarial, além dos empreendedores sociais. “Há muitas coisas acontecendo, em diferentes estádios de maturidade. É agora necessário coordenar todas essas iniciativas de modo a dar consistência a esse movimento que a meu ver é irreversível”, acredita.

Destaques da Programação

Vale ainda ficar de olho no painel “O Desafio do Rio Pinheiros“, dia 22, às 14h. A mesa levanta o debate sobre despoluição do Rio Pinheiros, os principais desafios e entraves para que isso aconteça e o tempo que levará. Ainda sobre São Paulo, a palestra das 9h do dia 23 vai trazer a ajuda de caminhantes famosos – como Virginia Woolf, Baudelaire e Oswald de Andrade – para inspirar essa caminhada.

Para entender melhor a importância do que colocamos dentro do nosso corpo, o painel “Alimentação Regenerativa” mostra que é hora de rever a geração de alimentos. Com base em pesquisas, sabemos que a produção agrícola é uma das principais causas da degradação ambiental. A pecuária, que comprovadamente emite mais gases do que todos os meios de transporte somados, é responsável por 70% do desmatamento da Amazônia e também pela contaminação das águas. Para repensar nossos modelos, apareça na Unibes às 16h do dia 22.

Falando em desmatamento e Amazônia, a mesa “Meio Ambiente no Brasil” traz uma conversa franca com lideranças de algumas das principais organizações ambientalistas do País sobre o complexo momento atual e as soluções para se garantir a preservação de uma de nossas maiores riquezas.
Já a palestra “Campo e Sustentabilidade” apresenta um documentário que procura responder as seguintes questões: como enfrentar os desafios do crescimento populacional e produzir alimentos para todos de maneira sustentável? Como é a cadeia de produção de alimentos? A tecnologia e a evolução do agronegócio garantirão a sustentabilidade?

A Arte Salva

A Virada Sustentável vem reunindo milhares de pessoas a cada ano, promovendo uma programação recheada de shows, exposições, instalações, palestras, aulas de meditação, cinema ao ar livre, entre outras atividades, todas abertas e gratuitas ao público.

Além das palestras, debates e painéis, a Unibes Cultural também será palco para a WAKE. Esta festa matinal colaborativa que desafia pessoas a reinventarem suas rotinas é um dos destaques da programação. A lógica urbana no dia 23 de agosto, às 7h, é começar o dia com uma festa, despertar para uma nova realidade e ser um ponto de equilíbrio em meio ao caos da vida urbana.

Já o YBY Festival da Música Indígena, realiza pocket show e rodas de conversa no dia 23 de Agosto, das 7h30 às 21h. A programação especial – e urgente neste momento – é voltada para arte, filosofia e luta dos povos indígenas.

Confira nosso roteiro com dicas da programação e aproveite a 9ª Virada Sustentável de São Paulo.

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