Gigante dos agrotóxicos e acusada de contribuir para o aumento de casos de câncer, a Monsanto pagou o Google para omitir notícias negativas a seu respeito. Segundo o The Guardian, a companhia mirou jornalistas, ativistas e até o cantor Neil Young.
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A omissão de notícias utilizou táticas adotadas pelo FBI
Carey Gillam, repórter da Reuters, entrou no radar dos executivos do alto escalão depois de matéria investigativa e um livro sobre os impactos na saúde dos produtos vendidos pela Monsanto. Gillam é autora de ‘Whitewash: The Story of a Weed Killer, Cancer, and the Corruption of Science’, lançado em 2017.
Diante da crise de imagem, a Monsanto fez o que estava ao alcance para minar o trabalho da jornalista, incluindo um acordo financeiro com o maior buscador do mundo, o Google.
A companhia controlada pela alemã Bayer adotou métodos de inteligência utilizados pelo FBI contra o terrorismo. O ‘centro de fusão’ monitorou organizações alimentícias sem fins lucrativos e os diretores da Reuters.
“Pressione os editores de Gillam com força. Sempre que for possível. Que ela seja transferida de cargo”, revela o The Guardian sobre discussões entre relações-públicas da Monsanto.
“Sempre soube que a Monsanto detestava meu trabalho e atuava para pressionar editores e me silenciar. Só que nunca imaginei que uma companhia bilionária perderia tanto tempo e energia comigo. É assustador”, ressaltou a jornalista ao tabloide inglês.
A revelação aumenta acusações sobre a tentativa da gigante das pesticidas de atenuar ou omitir os reais efeitos do glifosato – herbicida mais utilizado do mundo.

O Roundup é acusado de aumentar a incidência de câncer
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Some isso ao diagnóstico de linfomas não-Hodgkins ligados ao uso do Roundup, que tem no glifosato um de seus ingredientes principais. Alva e Alberta Pilliod, de 70 anos, foram diagnosticados com o linfoma com apenas quatro anos de intervalo: um em 2011 e outro em 2015. O casal, durante 35 anos, usou o herbicida em um terreno em São Francisco.
A empresa foi condenada a pagar indenização de dois bilhões de dólares em danos punitivos e mais 55 milhões em danos compensatórios. Cabe recurso.
A Monsanto se recusa em associar o câncer com seus produtos. Sobre o pagamento ao Google, um porta-voz da Bayer, Christopher Loder, preferiu não falar especificamente sobre documentos do ‘centro de fusão’.
“Os movimentos da Monsanto buscam um diálogo justo, preciso e baseado na ciência para combater a desinformação, incluindo impulsionadas por uma crítica de nossas pesticidas”.